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terça-feira, 29 de junho de 2010

ENTREVISTA 16 - MESTRE INTERNACIONAL (M.I.) WELLINGTON ROCHA.


M.I. WELLINGTON ROCHA.

No sábado, 16.5.2009, o MI Wellington Rocha, de 37 anos, natural de Montes Claros/MG, visitou São Sebastião do Paraíso/MG. Na oportunidade, além de ministrar aulas aos principais enxadristas da cidade, concedeu entrevista ao Clube de Xadrez On-Line – CXO.

O talentoso jogador, que aprendeu a jogar xadrez aos cinco anos, ficou afastado dos tabuleiros por cerca de seis anos e voltou a jogar no fim do ano passado continua, mesmo assim, em primeiro lugar no ranking internacional da modalidade em Minas Gerais (com 2429 de rating Fide). No mesmo ranking, entre todos os enxadristas brasileiros, é o 15º.

Para ratificar sua força, o ilustre entrevistado teve, ao longo da carreira, atuações destacadas em diversos campeonatos. É tetracampeão mineiro (1989; 1993; 2001; e 2002) e detém títulos memoráveis em etapas do tradicional Aberto do Brasil (conquistados entre 1998 e 2002), bem como nos brasileiros juvenil (1991) e de jovens (1989).

Acompanhe algumas das perguntas e respostas extraídas do extenso e descontraído bate-papo com esse modesto e carismático enxadrista mineiro.

CXO – Você aprendeu a jogar xadrez aos cinco anos com seu irmão Washigton. Essa é a idade certa para se aprender, pelo menos, as regras?

- Não existe idade ideal. Inclusive, aos cinco, aprendi velho (risos), eu poderia ter aprendido bem antes, talvez aos três ou quatro anos.

CXO – Por falar em ensino de regras, você chegou a residir em Paraíso no início da última década. Inclusive, participou do pontapé inicial do projeto escolar local, ministrando uma memorável aula inaugural que serviu de exemplo para várias gerações na E.E. Paula Frassinet, no ano de 1994. Qual a sensação de fazer parte de um projeto que trouxe tantos talentos e títulos para essa cidade?

- É muito gratificante. Apesar de termos, à época, idealizado tudo isso juntos (Wellington Rocha; Érlon Braghini; Joel Borges; Gérson Peres; e Sebastião Lopes), sei que minha parcela de contribuição foi mínima, pois, apesar de nosso entusiasmo, ainda era tudo muito amador. Afinal, quando eu já nem estava mais aqui é que o projeto realmente cresceu, através da iniciativa dos outros professores, sobretudo a do Gérson. O grande trabalho estaria por vir. Só sei também que foi uma época em que meu xadrez evoluiu bastante, estudávamos muito naquele tempo. De verdade, é uma honra, de alguma forma, ter feito parte disso.

CXO – Quais livros você recomenda para um jogador candidato a mestre?

- Recomendo El Ajedrez de Torneo – Zurich 53 (Bronstein), Tratado General de Ajedrez (Grau), Predecessores (Kasparov), entre outros de autores como Watson e Dvoretsky, que possuem visão renovada.

CXO – Comente o avanço tecnológico a serviço da evolução enxadrística.

- Antigamente, para reunir partidas anteriormente jogadas era preciso esperar a publicação em um jornal ou revista (especializados). Nessa época, muitos furos enxadrísticos aconteceram porque os autores não tinham alguém confiável para checar o que publicavam. Hoje, existem programas para computador evoluídos que podem auxiliar nessa tarefa e as informações são veiculadas instantaneamente. Por outro lado, como todos têm acesso a essas informações, é importante saber separá-las. Portanto, o que vai diferenciar de uma pessoa para outra é o como cada uma vai aproveitar o que leu. Da mesma forma, se duas pessoas têm acesso ao melhor computador do mundo, o diferencial no rendimento de ambas é o método como elas utilizam esse computador. Nesse rumo, você tem que ter um plano de ação para que o programa trabalhe para lhe ajudar nesse plano, para que seus esforços realmente tenham sentido. Apesar de todas as inovações, sinto falta da época que eu não tinha um computador, porque eu era muito mais esforçado para aproveitar as poucas oportunidades que tinha.

CXO – De repente, percebendo todas essas novidades tecnológicas, vários jovens podem deixar de lado a leitura dos livros. Vai chegar o momento em que os livros perderão seu espaço?

- Não acredito. Por mais que existam livros em áudio, DVDs com vídeoaulas, softwares avançados, entre outras facilidades tecnológicas, eu, por exemplo, ainda tenho um grande prazer em abrir um livro e deitar em uma cama para lê-lo. Portanto, na minha vida, pelo menos, eles sempre terão o seu espaço. Naturalmente, os autores terão que ser cada vez mais criteriosos, utilizando todas as ferramentas disponíveis, para publicar livros realmente confiáveis.

CXO – Quais são seus os ídolos no xadrez nacional e internacional?

- São muitos. No Brasil, admiro toda essa nova geração de mestres e grandes mestres: MI Krikor Mekhitarian, GM Alexandr Fier, GM Giovanni Vescovi, entre outros. Aliás, por aqui também, gosto dos estilos dos GMs Darcy Lima, Gilberto Milos e do Rafael Leitão. No exterior, entre outros também: GM Anand (Índia), GM Kasparov (Rússia), GM Kramnik (Rússia) e o jovem GM Carlsen (Noruega).

CXO – É importante um enxadrista contratar um treinador?

- Se ele tiver condições de contratar um jogador mais forte, um GM ou até mesmo alguém que não tenha titulação, mas que seja de sua confiança, que tenha algum conhecimento para passar, acho uma experiência muito válida. Eu mesmo, agora, depois de muito tempo, por exemplo, gostaria de tentar fazer isso, de fazer aulas com algum MI ou GM. Em geral, esses especialistas são organizados, preparados para ensinar, pois viajaram para campeonatos mundiais, possuem material didático direcionado às aulas e sabem onde os alunos erram com maior frequência, ou onde poderiam errar.

CXO – A fim de ajudar novos talentos, você já pensou em trabalhar como treinador?

- Sim. Mas nunca tive essa experiência, não tenho prática. Em meus estudos recentes com o Evandro (Barbosa) por aqui, tenho aprendido bastante. Porém, não sei exatamente como é um jogador mais forte acompanhar a evolução de outro teoricamente mais fraco. Então, ainda não compreendo bem qual deve ser a metodologia. Para me ajudar, antes de qualquer coisa, gostaria de ter um acompanhamento de aula de grande mestre como um Milos, por exemplo. Para ser treinador, de certa forma, você abre mão de sua carreira de jogador. Por isso, teria que ser algo compensatório, também financeiramente.

CXO – Os bons treinadores devem ter resposta para tudo?

- Acredito que não. Em Minas, pelo respeito que têm pelo meu jogo, para ilustrar, muitos acham que eu tenho resposta para tudo. Não tenho. Isso pode acontecer até mesmo com um GM. Nas revistas especializadas, às vezes, muitos grandes jogadores comentam que absolutamente não estão entendendo nada sobre determinados momentos. Acredito que seja assim com os treinadores também.



CXO – Sua meta é ser GM?

- Pretendo tentar ser GM sim, mas não tenho isso como meta. Se eu fizer as coisas certas, talvez eu consiga. Digo dessa forma porque, quanto mais se perde tempo mais difícil fica. Entretanto, minha única meta agora é jogar o máximo que eu puder, sobretudo em termos de cálculo e análise.

CXO – O que você acha dos GMs de 2500 pontos de rating terem a mesma titulação que os GMs com rating superior a 2700?

- Sobre o tema, não tenho acompanhado as recentes discussões. Porém, é sempre difícil falar disso quando você não tem os 2700 (risos). Talvez se eu tivesse, também almejasse a diferenciação. A verdade mesmo é que não sei muito bem o que pensar sobre isso, porque não tenho sequer os 2500 de rating e não sou GM. Esses GMs tops de 2700 para cima são realmente diferenciados, isso é fato, mas de que adianta estipular um aumento nas normas ou na pontuação mínima para ser GM? Já é tão difícil ser GM. Dessa forma, quase ninguém seria.

CXO – Qual foi a melhor partida da sua carreira?

- Cada partida tem o seu valor. Às vezes um simples empate quando a gente está totalmente perdido fica marcado para sempre. Uma partida marcante para mim foi contra o Paulo Jatobá, quando me tornei MI. Assim, obviamente eu poderia enumerar várias outras partidas e explicar o porquê de cada uma delas ter sido importante. Racionalmente, não tem como você separar apenas uma. Mais recentemente, de quando eu voltei no ano passado, destaco outra partida: contra o Marlos (Damasceno), não por brilhantismo, mas sim porque foi uma partida muito clara.

CXO – No auge da carreira, você estudava quantas horas por dia?

- Cheguei a ficar 10 horas ou mais mexendo com xadrez, mas não necessariamente estudando algo específico. Tentava me imaginar jogando contra o Milos, o Kasparov, entre outros, sempre me perguntando o que eu faria se um deles estivesse ali à minha frente.

CXO – Em 2008 alguns enxadristas brasileiros (MI Krikor e companhia), ao voltar de turnê pela Europa, trouxeram bons pontos de rating e normas de GM. Essas viagens foram decisivas para melhorar o nível técnico desses jogadores?

- Às vezes nos preocupamos muito com o rating e as normas e nos esquecemos da força. O que é um MI ou um GM? É aquele jogador que tem a força, independentemente do rating. Não adianta jogar um único torneio maravilhosamente bem e inaugurar o rating com 2700, se você não tiver a força para manter essa pontuação. Antes de pisarem no avião, é certo que eles se prepararam muito. Essa é a parte que a maioria das pessoas não enxerga. Portanto, isso iria acontecer na Europa ou em qualquer lugar. Se você tem a força, o rating aparece. Quando eu conheci, através do Messenger (MSN), o Evandro (Barbosa), por exemplo, que devia ter uns 11 ou 12 anos, já conversávamos sobre esse pessoal também, eles estão levando o xadrez a sério há muito tempo.

CXO – Nessa sua volta, registre suas considerações finais.

- Fiquei muito feliz com a revelação dos novos talentos de Minas: Arthur Chiari (Belo Horizonte), Caíque Rêda (Itaúna), Fernanda Rodrigues (Belo Horizonte), João Paulo Cassemiro Marques (São Sebastião do Paraíso), Frederico Gazel (Belo Horizonte), Roberto Molina (Belo Horizonte), Sérgio Eduardo (Montes Claros), entre outros. Alguns desses foram revelados nos projetos escolares, que têm recebido muitos incentivos governamentais. Apesar disso, registro algumas sugestões para a Federação Mineira: continue incentivando o xadrez nas escolas, porém, invista mais em torneios que possibilitem aos nossos enxadristas a conquista de rating e normas, para que tenhamos cada vez mais enxadristas com títulos reconhecidos pela Fide. Para isso, os torneios fechados, são imprescindíveis. Incentivos aos principais jogadores do estado podem estimular os jogadores a melhorar o nível técnico. Finais de campeonatos mineiros com matches, similares aos de finais de mundiais, também podem ser atrativas. Tudo isso pode servir não só para melhorar o nível técnico dos enxadristas mineiros, nossos representes, mas também para estimular novos adeptos para a modalidade.

PESQUISADO E POSTADO, PELO PROF. FÁBIO MOTTA (ÁRBITRO DE XADREZ).
REFERÊNCIA:
http://www.clubedexadrez.com.br/artigo.asp?doc=857

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