RESPEITE AS CRIANÇAS!

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PROF. FÁBIO MOTTA (ÁRBITRO DE XADREZ).

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

ENTREVISTA 5 - HENRIQUE DA COSTA MECKING (1952).

FOTOS 2 À 5.



No mundo do xadrez, o nome Henrique da Costa Mecking, o Mequinho, jamais será esquecido. Nascido em 1952, Mequinho é o melhor enxadrista que o Brasil já produziu. Sua evolução na juventude só é comparável a outros gênios, como o norte-americano Bobby Fischer e o russo Garry Kasparov.

Campeão brasileiro absoluto aos 13 anos, em 1965. Mequinho conquistou o título sul-americano no ano seguinte e, quando completou 15 anos, bateu dois recordes de peso: foi o mais jovem jogador a vencer um campeonato continental e, de quebra, tornou-se, naquela época, o mais jovem mestre internacional da história do xadrez.

No início da década de 70, quando ganhou o título de grande mestre internacional, Mequinho foi recebido pela bateria da Mangueira e, em visita a Brasília, foi homenageado pelo presidente Emílio Garrastazu Médici.

Vitimado por uma miastenia doença que ataca e debilita o sistema nervoso e os músculos, Mequinho abandonou, em 1978, as disputas internacionais e interrompeu uma carreira que tinha tudo para ser brilhante. ‘‘Tudo começou num ponto na garganta e de repente todo o corpo foi atacado. Sentia dificuldade até para mastigar’’, lembrou Mequinho.

No auge da crise, ele conheceu uma religiosa da Renovação Carismática Católica e creditou a ela sua recuperação. Desde então tem dedicado a maior parte de seu tempo à religião. Em 1989, Mequinho mencionou, em entrevista à revista Veja, que gostaria de voltar a competir novamente. ‘‘Estou pensando em disputar outra vez, mais ainda não sei quando. Eu decido tudo com oração. Se for por vontade de Deus, voltarei às competições sim.’’ Mas até hoje ele ainda não voltou a participar de nenhuma competição oficial.











PESQUISADO E POSTADO, PELO PROF. FÁBIO MOTTA (ÁRBITRO DE XADREZ).

REFERÊNCIA:
http://www.cex.org.br/Biografias/Mecking.htm

ENTREVISTA 4 - Mequinho Joga Xadrez em Nome de Deus (Jornal Vale Paraibano - 27.08.2000).

Terceiro melhor do mundo nos anos 70 e ídolo nacional, Henrique Mecking diz que é emissário de Deus na Terra
Acredite: houve uma época que o xadrez foi o esporte nacional. Não, não era o futebol ou corridas de fórmula 1 que faziama cabeça do povo.

Se você tem menos de 30 anos pode pensar que isso é uma piada, mas não é.

Para comprovar, basta ir até a casa de número 66 da rua Mato Grosso, no Bairro Jardim dos Estados, em Taubaté, e conversar com seu único morador.

Aliás, esta residência é simples. Não tem jardim, suas paredes são pintadas de tinta creme e não há nenhuma ostentação - um simples vaso de plantas - na varanda. Dentro, ele mantém a mesma sobriedade.

Não há aparelho de TV, videocassete, microondas e nem armário para guardar os mantimentos - empilhados cuidadosamente em um canto da cozinha. Móveis, só o essencial.

A casa passa despercebida no corre-corre da cidade.

Mas nela mora um gênio.

Este gênio é Henrique Costa Mecking, o Mequinho, o maior enxadrista brasileiro de todos os tempos que, em 71, chegou a estar entre os três melhores do mundo, atrás apenas dos russos Anatoli Karpov e Victor Korchoi.

Ele conseguiu a proeza de fazer do xadrez - este jogo de regras complicadas, disputado em um tabuleiro e 32 peças de cada lado, sem torcida e em silêncio - o que Gustavo Kuerten, o Guga, faz hoje do tênis - uma febre nacional.

Naqueles anos, Mequinho esteve ombro a ombro com símbolos do esporte brasileiro, como Émerson Fittipaldi e Édson Arantes do Nascimento, o Pelé.

No entanto, após quase morrer, em 79, por causa das crises agudas provocadas pela miastenia - doença que causa atrofia muscular e faz o portador perder vários movimentos - o enxadrista foi literalmente esquecido.

"Eu estava para morrer. Os médicos me deram duas semanas de vida, tinha a metade do meu peso e não conseguia mastigar", conta. "Jesus me curou", diz.

Hoje, aos 48 anos, Henrique Costa Mecking está de volta e disputa outros desafios. Católico fervoroso, ele se considera um emisário de Deus e quer usar sua arte para divulgar as mensagens sobre o final dos tempos, "que acontecerá até o fim do ano".

REVELAÇÕES


Sistemático, Mequinho - que também é teólogo - dorme apenas cinco horas por noite e acorda às 6h30 da manhã.

O resto do tempo é consumido em preces e estudos.

Após se recuperar da miastenia - controlada com remédios homeopáticos - ele passou a correr quatro quilômetros três vezes por semana e ir à missa todos os dias na Paróquia de Santa Terezinha, onde segue o movimento Renovação Carismática.

Em seu quarto de orações há uma imagem de Nossa Senhora de Medjugorje e uma cruz branca e azul de 73,8 cent´´imetros que, segundo ele, equivale à milésima parte da cruz de Cristo e está cuidadosamente colocada na direção leste-oeste para "afastar o mau".

Místico, o enxadrista ainda garante que recebe revelações e que Deus o usa como instrumento de cura na Terra.

"Já rezei para 30 mil pessoas em um estádio de futebol em Piracicaba. Teve um paralítico que levantou e andou", conta.

Sua principal ambição, entretanto, não é se transformar em santo, ou coisa parecida, mas alertar a todos sobre o armagedon.

Para que consiga atingir o objetivo, ele deseja reconquistar um lugar entre os melhores do mundo e aproveitar a exposição na mídia.

A volta aos torneios aconteceu durante o Match Desafio 2000, contra o campeão brasileiro, Giovanni Vescovi, há duas semanas. Vescovi venceu.

"Foi uma prova de humildade para mim. Acho que este pequeno sofrimento me dará uma recompensa melhor no céu", raciocinou.

O único luxo de Mequinho é um computador, adquirido na semana passada - que ele usa para treinar - e um fusca, com 20 anos de uso.

"Minha vida é maravilhosa, não sou apegado aos bens materiais", diz o enxadrista, que não trabalha.

Para viver, ele administra uma herança da família. O computador veio após receber R$ 3 mil pela participação no desafio contra Vescovi.


PESQUISADO E POSTADO, PELO PROF. FÁBIO MOTTA (ÁRBITRO DE XADREZ).

REFERÊNCIA:
http://xadrezonline.uol.com.br/entrev2.htm

ENTREVISTA 3 - Arthur Gontijo Chiari.


FOTO 1.

Aos dez anos, o mineiro Arthur já tem a experiência de um Mundial da Juventude (França/2005) e de dois Pan-americanos da Juventude (Equador/2006 e Colômbia/2007), além de ter tomado parte em dezenas de competições em nosso país.

Ao ilustre e determinado campeão, nossa admiração e votos de sucessivas conquistas em sua promissora carreira de enxadrista...


Perfil

Nome: Arthur Gontijo Chiari.

Cidade onde nasceu e reside: Belo Horizonte.

Data de nascimento: 20/5/1997.

Pais: Cristina Gontijo e Armando Chiari.

Série e local onde estuda: 4ª série - Colégio Magnum.


Entrevista

O que o atraiu para o xadrez?
A estratégia do jogo. É “manera” tanto a estratégia quanto a tática.

E os primeiros passos na modalidade, foram difíceis?
Muito difíceis. Aliás é difícil até hoje. Isso é que é bonito!

Como é o dia-a-dia de treinamentos do mais jovem MF do Brasil? Você tem treinador particular?!
Jogo na Internet e faço exercícios. Meus professores são Julio Lapertosa e Jefferson Pelikian.

Que papel teve a Casa do Xadrez de Belo Horizonte em sua carreira?
Teve e tem um papel fundamental. O Julio Lapertosa foi meu principal incentivador no xadrez. Um mestre, um exemplo. Agradeço à Luciane pelo carinho que tem comigo. Também aos meus companheiros da Casa do Xadrez: Molina, Fred e Lucas que sempre foram exemplo e incentivo para mim e ao Cecotti, meu colega de treino. Na verdade gosto de todos da Casa. Lá é muito legal!

Cite os livros que você recomendaria aos que desejam iniciar na modalidade.
Combinações - Darcy Lima e Julio Lapertosa; Xadrez Básico - D’Agostini.

Qual a maior qualidade você julga ter, que o levou a ser um enxadrista tão destacado apesar da pouca idade?
A determinação.

Este ano tem sido excepcional para sua carreira enxadrística. Entre outros expressivos eventos você venceu o campeonato mineiro sub12, o brasileiro sub10 e agora trouxe da Colômbia o bronze na categoria sub10 do Pan e o título de MF. A que se deve tantas conquistas?
Novamente a determinação. Também vontade e treino.

Principais títulos.
Tenho 22 títulos. Os que mais gosto: campeão do Mineiro Sub12 - 2007; do Brasileiro Sub10 - 2007; do Aberto Brasil, categoria sub14 - 2007; ter me classificado para a Semifinal do Mineiro Absoluto 2006 e feito 50% dos pontos; campeão do Zonal Norte, categoria sub16 – 2006; co-campeão Pan-americano 2007 (terceiro pelo critério de desempate).

Mostre sua melhor partida.
Não sei se é a melhor, mas gostei desta. Foi contra o temido campeão colombiano Posada. Quando fui emparceirado com ele tinha 1 ponto menos, ele com rating 2141 e eu nem rating Fide tenho. Adorei, sabia que seria a minha oportunidade!
Chiari,Arthur Gontijo - Posada,Juan Manuel (2141)
Festival Pan-americano da Juventude
Medellin (Colômbia), 8ª rodada - 6/7/2007
1.e4 c5 2.Cc3 Cc6 3.f4 g6 4.Cf3 Bg7 5.Bc4 e6 6.0–0 Cge7 7.De1 0–0 8.d3 d5 9.Bb3 Ca5 10.Dh4 Bxc3 11.bxc3 c4 12.Ba4 Cec6 13.Dh6 Df6 14.f5 Dg7 15.Dh4 h5 16.fxg6 fxg6 17.Bxc6 Cxc6 18.exd5 exd5 19.dxc4 Dxc3 20.Bh6 Te8 21.Dg5 Bf5 22.cxd5 Dc5+ 23.Rh1 Dxd5 24.Ch4 Ce7 25.Cxf5 De6 26.Tae1 1–0

Próximos objetivos.
Meu objetivo é jogar cada vez melhor o xadrez.

Você tem ídolos no xadrez?
Meus professores pelos ensinamentos; Matsuura pela postura; Vescovi e Fier pela ousadia; Leitão pelos resultados; e naturalmente... Kasparov, por quase tudo isso!

Além de xadrez, que outras atividades gosta de fazer?
Handebol, escalada e natação. Ah! Warcraft, é claro!

Sua escola tem projeto de xadrez? Se sim, como são as aulas?
Existe um projeto, mas está começando agora. Espero incentivar principalmente os mais novos.

Conte sobre o apoio familiar, fundamental em suas conquistas.
Meus pais me incentivam muito. Minha mãe tem muitas histórias para contar das viagens malucas que já fizemos por causa do xadrez.

Você tem patrocínio?
Não, mas espero ter. Estamos procurando...

Espaço reservado para as considerações finais e/ou agradecimentos.
Agradeço ao Gérson e ao Clube de Xadrez pelo convite, que é uma honra para mim. Aos meus professores pelos ensinamentos, à minha família pelo apoio e aos meus adversários pelo incentivo. Espero que o projeto xadrez nas escolas tenha cada vez mais espaço, que as crianças das escolas públicas possam praticar e ter oportunidade de mostrar seu talento.

PESQUISADO E POSTADO, PELO PROF. FÁBIO MOTTA (ÁRBITRO DE XADREZ).

REFERÊNCIA:
http://www.clubedexadrez.com.br/menu_artigos.asp?s=cmdview6234

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

ENTREVISTA 2 - Mestre de fato e de direito - Por Moisés Arruda.

“Eu sou um professor que joga.”



A recente conquista de co-campeão do IRT de Rosário do Oeste (MT) deu ao paulista Álvaro Zimmerman Aranha Filho 13 pontos a mais no seu rating FIDE, que lhe garantiram, aos 27 anos, o tão sonhado título de Mestre FIDE, corrigindo uma injustiça com um dos mais fortes jogadores do país sem titulação até então. Prova disso foi sua fantástica performance no II Memorial Amadeu Franco, onde chegou à frente de todos os seis mestres participantes.



“Alvinho”, como é conhecido entre os amigos, teve um início digno de menino prodígio. Além de diversos títulos nas categorias menores, foi campeão paulista juvenil por duas vezes (1998 e 1999) e vice-campeão mundial por equipes (1999).



Considerado polêmico, o ex-aluno do MI Hélder Câmara, apesar da juventude, tem uma ampla visão do cenário do xadrez brasileiro e muitas histórias para contar.





1) Conte-nos como o xadrez entrou na sua vida. Com quem e como aprendeu o jogo?

O xadrez entrou na minha vida por acaso, aos 11 anos achei um tabuleiro bonito e pedi pra minha mãe comprar, nem sabia que jogo era aquele. Quem me ensinou a mover as peças foi o meu pai.



2) Sendo filho de um professor de matemática, acredita na idéia bem difundida de que a prática do xadrez facilita o desenvolvimento da criança nas ciências exatas?

Com certeza. Existem estudos internacionais que provam que a prática do xadrez ajuda a criança a ter um melhor aproveitamento nas matérias de exatas.



3) Você interrompeu um curso de Jornalismo em uma conceituada faculdade de São Paulo e tem se dedicado exclusivamente ao xadrez, isso foi algo circunstancial ou você escolheu o xadrez como carreira?

O xadrez é hoje sem dúvida minha profissão. Eu acabei largando a faculdade, pois os meus compromissos com o xadrez inviabilizavam que eu fizesse as duas coisas ao mesmo tempo. Como o xadrez era onde eu ganhava dinheiro e o que mais gostava, optei por me dedicar exclusivamente ao xadrez.



4) Dentre as suas muitas conquistas no xadrez, qual considera a mais significativa?

A Categoria Especial do CXSP 1998 onde eu era um grande azarão, e não posso deixar de mencionar o Memorial Amadeu Franco, onde eu não me considerava tão zebra assim, mas eu era o pré-rankeado número 7, entre os 10 participantes.



5) Há muito você merece o título de mestre FIDE que foi alcançado só agora, a que se deve esse retardamento?

Muitos fatores contribuíram nesse retardamento. Vários problemas pessoais entre 1998 e 2002 tiraram bastante o meu foco do xadrez e causaram uma total desmotivação para estudar. Eu diria que desde o meio do ano passado eu voltei a ter a motivação e dedicação necessárias para voltar a progredir no xadrez.



6) O que o motivou a participar do evento em Rosário Oeste? Teve a oportunidade de conhecer a cidade?

O meu principal objetivo era poder ganhar os pontos de rating que eu necessitava. Contudo, a exigência do torneio era muito dura, precisava de 8.5 em 11, para ganhar uns 5 pontos de rating. Se eu fizesse 8 em 11 eu perderia rating, ou seja, não poderia dar nenhuma escorregada. A cidade de Rosário é bastante aprazível e fomos muito bem tratados pelo Prefeito Zeno e toda a organização do torneio. Gostaria muito de voltar a jogar em Rosário.



7) Houve progressos, mas o Brasil ainda é relativamente carente de competições que possibilitem a conquista de títulos de mestre. Como você vê o problema e há algum destaque quanto a isso?

Com certeza há muito o que melhorar nessa área. A grande saída é aparecerem mais organizadores competentes. Um exemplo claro de bom organizador é o Mauro Amaral, árbitro internacional], que através dos Magistrais Comunic, possibilitou várias normas de mestre internacional. Espero que a CBX facilite nas taxas para que possam aparecer cada vez mais torneios desse tipo.



8) Qual a impressão que teve do xadrez no Mato Grosso? Apontaria algum jogador promissor do estado?

Com o apoio do Prefeito Zeno, que é um apaixonado pelo jogo, tenho certeza que daqui alguns anos teremos vários jogadores surgindo por lá. Quanto aos jogadores do MT, gostaria de citar 2, um mais novo, André Nascimento, que tem muito talento para posições agressivas, e outro da geração mais antiga, Jesus Filho, que é bastante criativo e merecia ter feito bem mais pontos no torneio.



9) Além de jogador, você é professor de xadrez, qual das funções lhe satisfaz mais e em qual pretende fazer maior investimento?

Na verdade eu sou um professor que joga. Minha principal atividade é dar aulas nas escolas e treinar alguns alunos particulares. No Brasil até para os GMs é complicado viver só de jogar.



10) Sua geração rendeu bons frutos ao xadrez brasileiro, quem você diria ser o mais bem-sucedido dessa geração?

Com certeza foi a geração que mais deu frutos até hoje. Da minha geração surgiram Vescovi, Leitão, Coelho, Benares, Vinicius Marques, Luciano Maia, Marcus Vinicius Santos, entre outros. Com certeza Leitão e Giovanni foram os que conseguiram chegar mais longe.



11) Como você vê o panorama atual do xadrez brasileiro e do futuro próximo?

Para os GMs a coisa melhorou bastante, mas para os mestres e demais jogadores candidatos a mestre a coisa está bem difícil. Espero que a situação possa melhorar em breve.



12) Você é considerado polêmico e temos a informação de que em um Interclubes Paulista teria usado uma camisa do Corínthians mesmo representando o Palmeiras. É verdade?

Sim, é verdade. Eu estava jogando pelo Palmeiras, porém sou corintiano. Eu era o melhor jogador da equipe e fiz 8.5 pontos de 9 possíveis. Sendo assim, acho que eu merecia usar a camisa que quisesse. (risos)



13) O país já perdeu muitos talentos pela falta de estrutura e apoio, quem você apontaria como o caso mais lamentável?

Para mim, o Benares tinha potencial para ser GM, mas por falta de apoio hoje vive afastado em Rondônia e raramente toma parte em torneios.



14) Comente o desempenho da sua aluna Vanessa Gazola no Pré-Olímpico Feminino recém-encerrado...

Realmente ela jogou um grande torneio e, sem dúvida, merecia estar nessas Olimpíadas. Ela não perdeu nenhuma partida e foi superior durante toda a partida, na última rodada, contra a Regina Ribeiro, e merecia ter vencido, mas, no apuro de tempo, acabou empatando.Com certeza, a Vanessa ainda disputará muitas Olimpíadas e minha impressão é que já em 2008 teremos uma renovação quase que total na equipe.



15) Quem são seus jogadores favoritos?

Dos campeões mundiais gosto de Capablanca pela simplicidade, Botvinnik pela precisão de suas análises, Tal pela magia e Fischer por ter derrubado um império. No Brasil gosto do jogo do Milos, pela técnica precisa e plasticidade do seu jogo e do El Debs, que dos novos valores é o jogador mais completo.



16) Quais as suas próximas metas?

Como jogador quero conseguir fazer um treinamento mais organizado, para melhorar meu jogo e aí descobrir qual o meu limite. E como treinador tenho desejo de me aperfeiçoar cada vez mais e quem sabe um dia ser considerado um dos melhores do Brasil.



17) Gostaria de fazer agradecimentos?

Vou fazer uma lista de agradecimentos a “la Maguila”(risos). Primeiramente, agradecer a minha família. Meu pai que me ensinou a jogar e que me dá bons conselhos; minha mãe que passou uns meses morando comigo e deu um jeito na minha vida, cuidando de todas as coisas e fazendo com que eu pudesse pensar apenas no xadrez; meu irmão Marcel pelos ensinamentos e os momentos maravilhosos que passamos juntos; e também minha irmã Flávia que, apesar das divergências, me ajudou em muitos momentos. Agradeço aos meus professores, o MI Hélder Câmara que é um dos maiores conhecedores de xadrez que já conheci, além de ser um ídolo para mim; e ao Professor e amigo João Braga, que me ajudou muito nessa caminhada. Aos amigos Benares e Luciano pelas várias horas de análise conjunta. Aos meus alunos Leandro, Rodrigo e Vanessa que me enchem de orgulho de ser professor deles. E para encerrar, um agradecimento mais que especial à família Jukemura que é a grande responsável por todas as coisas boas que vêm me acontecendo e sem dúvida é uma nova família que eu ganhei.



PESQUISADO E POSTADO, PELO PROF. FÁBIO MOTTA (ÁRBITRO DE XADREZ).

REFERÊNCIA:
http://clubedexadrezsantoantoniodejesusbahia.blogspot.com/

ENTREVISTA 1 - Entrevista com Hindemburg Melão Jr.

Entrevista com Hindemburg Melão Jr.



Conforme comentado anteriormente http://www.sigmasociety.com/portal_prof.htm , foi realizada uma entrevista comigo, conduzida por Luiz Eduardo Queiroz, representando o site "Conexão Professor", versando sobre Xadrez e Educação. A entrevista foi parcialmente veiculada como parte desta matéria: http://e-educador.com/index.php/projetos-de-ensino-mainmenu-124/77-projetos-de-ensino/4249-chess , http://xadrezescolarbrasileiro.blogspot.com/ entre outras fontes.

O texto integral da entrevista é conforme segue:

1 – Como nasceu o seu interesse pelo Xadrez?
Em primeiro lugar, quero dizer que é um prazer voltar a falar sobre Xadrez, depois de vários anos afastado, e fico grato pela agradável oportunidade.
Eu aprendi a mover as peças aos 9 anos, com meu primo, mas eu não tinha tabuleiro nem peças, além disso não tinha com quem praticar, então joguei apenas meia dúzia de partidas com meu primo. Só comecei a jogar com assiduidade aos 14 anos, porque a escola em que eu estudava tinha um professor de educação física que gostava muito de Xadrez, Prof. Cláudio, e em 1986 e 1987 foram promovidos torneios internos na escola e na delegacia de ensino. No primeiro ano eu fui eliminado na primeira partida, muito rapidamente, contra o amigo Denis, e fiquei entre os últimos classificados. Alguns meses depois, nossa equipe sagrou-se campeã na sétima Delegacia de Ensino e eu tive a felicidade de ter contribuído para este sucesso, por ter obtido 100% de vitórias. No ano seguinte fui campeão interno individual e fomos novamente campeões na sétima Delegacia de Ensino, em ambos obtive 100% de vitórias. A partir daí, meu interesse começou a crescer, e o Prof. Paulo, que arbitrou o evento da sétima Delegacia, me forneceu o endereço do Clube de Xadrez São Paulo, onde comecei a freqüentar (eu gostaria de continuar usar trema normalmente, apesar da reforma). Eu sempre gostei de videogames, porém nos jogos eletrônicos estava sujeito a falhas no equipamento, além de haver muita ênfase na velocidade dos reflexos, enquanto no Xadrez estes problemas quase desapareciam. Além disso, os videogames são muito repetitivos, enquanto o Xadrez tem uma gama de possibilidades incomparavelmente maior, o que o torna muito mais interessante e divertido.

2 – Você poderia contar um pouco da sua história de vida, sua formação e suas áreas de interesse?
Tentarei não ser repetitivo com as informações que já constam no site e no final do meu livro. Eu não tenho formação acadêmica. Comecei a cursar Física em 1995, mas fiquei profundamente desiludido em praticamente todos os aspectos. Eu já havia abandonado os estudos várias vezes, porque sempre achei que poderia aprender melhor e mais rapidamente como autodidata, mas por pressão de minha família, acabei prestando vestibular e ingressando no Ensino Superior. Resisti durante cerca de 4 meses, mas acabei abandonando o curso.
Alguns dos principais problemas que pude notar foram a falta de incentivo à produção intelectual e à criatividade, as exigências para se obter resultados medíocres relacionados à mera reprodução de informação, a arrogância de alguns professores de competência sofrível, entre outros motivos que comento em alguns de meus artigos (no final de meu artigo sobre o coeficiente de Hurst, por exemplo). Por outro lado, tive a oportunidade de representar a USP no campeonato paulista de Xadrez e nossa equipe foi campeã, e conheci algumas pessoas agradáveis, com as quais mantive contato durante anos.
Quanto às minhas áreas de interesse, minhas preferências mudam com o tempo. Atualmente tenho muito prazer em lidar com assuntos relacionados ao desenvolvimento de sistemas computadorizados para gestão automática de carteiras de investimento, por ser um desafio estimulante e recompensador. Além dos temas correlacionados a isso, especialmente investimentos em Forex, commodities e ações, também gosto muito de Estatística, Psicometria, Cognição, Heurística, Epistemologia, Astronomia, Física, Filosofia, Lógica, Matemática, Artes Marciais, Dança, Literatura, História da Ciência, Natação, Ciclismo, filmagem e edição de vídeo, fotografia astronômica (embora ainda seja iniciante), entre outras. Na maioria dessas áreas, é possível que o Xadrez tenha desempenhado um papel positivo para otimizar meu desempenho, por ter educado meu raciocínio para operar de maneira mais organizada do que se eu resolvesse tudo de improviso.

3 - Você acredita que o Xadrez possa ser usado nas escolas como ferramenta pedagógica? Que habilidades a prática do Xadrez desenvolve nos alunos?
Infelizmente não há, que eu saiba, estudos bem conduzidos com a finalidade de avaliar os efeitos do Xadrez sobre o rendimento escolar ou sobre a evolução das faculdades intelectuais. Há muitos estudos, porém todos pecam em muitos aspectos. Um dos mais completos foi desenvolvido por nosso amigo Albert Frank, durante o período de 20 anos que ele viveu na África, ensinando Xadrez e Matemática a crianças e jovens, e um resumo deste estudo foi publicado por ele por intermédio da USCF (Federação de Xadrez dos Estados Unidos), com o nome “Chess and aptitude”. Albert é professor de Lógica e Matemática na Universidade de Bruxelas, referee internacional em várias revistas especializadas, foi campeão de Bruxelas em 1968, é fundador de uma sociedade internacional para especialistas em Lógica e Puzzles chamada “Ludomind”, e recentemente foi campeão veterano da Bélgica, portanto possui uma excelente bagagem tanto para o ensino de Xadrez quanto para o uso de ferramentas estatísticas de bom nível para investigar os resultados do estudo. No entanto, por limitações orçamentárias e de pessoal (professores) para colaborar, os estudos não tiveram como ser tão rigorosos quanto seria necessário, e as conclusões ficaram comprometidas. Há muitos estudos na Romênia, na Rússia, na Alemanha, na Inglaterra e outros países. Até mesmo no Brasil há vários estudos que foram publicados nas extintas revistas “Preto & Branco” e “Xadrez Coop”, de trabalhos realizados por Antonio Villar Marques de Sá (doutor em Educação aplicada ao ensino de Xadrez), Damaris Hadad, Joaquim de Deus Filho e outros. No entanto, os resultados anunciados nestas revistas carecem de teor científico por vários motivos metodológicos e técnicos. Um estudo de Joaquim de Deus Filho, por exemplo, se não me engano, se baseava numa amostra com 32 alunos. É um número muito pequeno, e não houve nenhum estudo com Análise de Clusters, ou Wavelets ou outras ferramentas estatísticas que permitissem isolar as variáveis que se desejava estudar daquelas que causavam ruído. Apesar de todas estas ressalvas, intuitivamente me parece muito coerente supor que o Xadrez tenha um papel muito importante no desenvolvimento intelectual, por exercitar muitas habilidades diferentes e, conforme comentei anteriormente, por tornar o raciocínio mais organizado, e isso pode ter aplicação em praticamente todas as áreas do conhecimento.

4 – Você pode falar um pouco da ligação entre o Xadrez e a Matemática?
Não conheço estudos relacionando estas atividades, mas algumas pesquisas de Bill McGaugh revelam uma correlação em torno de 0,7 entre desempenho no Xadrez e em testes de QI predominantemente constituídos por questões de Matemática e Lógica. Isso é bastante sugestivo.
A comparação poderia ser feita de diversas maneiras, e seria possível chegar a conclusões divergentes, dependendo da abordagem. Na visão de Steven Pinker, a mente é constituída por “órgãos mentais”, e por analogia com os órgãos físicos, uma pessoa com membros maiores tem maiores probabilidades de ser bom jogador de Basquete, assim como de Vôlei, por serem duas modalidades que dependem da altura, e além da altura cada uma delas requer algumas habilidades específicas, por isso os bons jogadores de Basquete não são necessariamente tão bons no Vôlei, e vice-versa, e por isso nem todas as pessoas altas se sobressaem nessas modalidades. Porém se pode constatar que os jogadores profissionais destas modalidades são muito mais altos do que a média da população em geral, bem como se pode constatar que os bons jogadores de Basquete são claramente melhores em Vôlei do que uma pessoa que não seja tão habilidosa no Basquete. Se invertêssemos, trocando “Vôlei” por “Basquete”, ocorreria o mesmo. Disso podemos inferir que, se o modelo mental proposto por Steven Pinker for uma boa representação da realidade, provavelmente pessoas com altas habilidades para Matemática também devem se destacar no Xadrez, assim como bons jogadores de Xadrez devem se destacar na Matemática, não igualmente bem em ambas, mas pelo menos num nível sensivelmente superior à média das pessoas que não praticam a outra modalidade correlata.
Não há como dar respostas que sejam ao mesmo tempo resumidas, razoavelmente corretas e medianamente completas a questões como estas. Convém lembrar que além do modelo de Pinker existem muitos outros (de Guilford, Thurstone etc.). E em qualquer dos modelos mentais que conheço, todos sugerem igualmente que deve haver uma estreita relação entre desempenho em Xadrez e Matemática. É importante também esclarecer que esta é apenas minha opinião, baseada numa avaliação subjetiva, e que está consoante com a opinião da grande maioria (ou talvez a totalidade) das pessoas que chegaram a investigar este tema. Embora sejam “apenas” opiniões, sem valor científico, acho improvável que tantas pessoas estejam erradas.

5 - Você entrou para o Guinness Book em 1998 com o “recorde mundial de xeque-mate anunciado mais longo em simultânea de Xadrez às cegas”. Pode falar um pouco mais sobre essa ocasião? Como é jogar Xadrez às cegas?
Foi uma experiência extremamente interessante em muitos aspectos, foi muito gratificante e excitante, mas também muito estressante. Sofri boicotes inimagináveis e compreendi que uma das dificuldades para o crescimento do Xadrez no Brasil se deve aos conflitos entre clubes e federações, alguns decorrentes de inveja ou atritos pessoais, outros decorrentes de motivos que nunca cheguei a compreender bem. Felizmente recebi muito apoio de dezenas de pessoas, especialmente dos amigos Rafael Zakowicz e Alex Takayama, que me acompanharam em quase todas as simultâneas de treinamento, como declamadores, e também os amigos Adalberto Joco, da revista Caissa Café, e Antonio Claudio Tonegutti, que na época era responsável pelo site da Confederação Brasileira de Xadrez e diretor do dep. de Química da UFPR, os amigos Gilson Luis Chrestani, presidente da Federação de Santa Catarina e ex-campeão brasileiro postal, que veio a São Paulo para prestigiar nosso evento, o presidente do Clube de Xadrez Epistolar, Luis de Oliveira Costa Neto, que também foi prestigiar nosso evento, e muitos outros que estão listados na página de agradecimentos sobre aquele evento. Joco e Tonegutti publicaram extensas matérias sobre meu recorde, assim como Chrestani e Luis Neto publicaram nas revistas das respectivas entidades que presidiam, o que possibilitou atender a uma das exigências do Guinness para que o recorde fosse reconhecido. Por outro lado, quem acompanhou de perto todos os detalhes, pôde presenciar fatos absurdos, inclusive remoção de folders num local onde seriam realizados eventos. Na época fiquei muito estressado com estas coisas. Mas no final, o resultado foi muito positivo e bem-sucedido.
O Joco também fez uma entrevista comigo, na época, em que respondi sobre vários temas que estão sendo abordados agora aqui. Uma das perguntas era como eu visualizava as peças e o tabuleiro, e talvez seja um detalhe interessante para comentar: eu não visualizo nada, eu apenas sei onde estão as peças e calculo como elas interagem mutuamente. Quero dizer, eu não opero com imagens mentais, mas sim com informações algébricas. Se tenho uma Torre em e4, sei que ela domina todas as casas do caminho que estiver desobstruído na coluna “e” e na fila “4”. Basta que eu saiba onde estão as peças para saber o que posso e o que não posso fazer, não preciso (e nem consigo) visualizar mentalmente o tabuleiro inteiro. Na verdade, algumas poucas vezes, quando necessário, consigo ter uma imagem total do tabuleiro e das peças, ou tenho a sensação de conseguir, mas que pode ser uma sensação enganosa, por mesclar informações de imagem mental com informações algébricas previamente conhecidas. Quando empreendo algum ataque de ala, em que o foco se limita a uma região pequena de 3x2 escaques, ou algo assim, eu posso, como recurso para acelerar o cálculo, visualizar apenas esta pequena região. Mas normalmente não penso em imagens, penso apenas em posições de peças como coordenadas cartesianas. Em 1996, eu achava que minha maneira de jogar às cegas era rara, mas alguns anos depois, quando amigos me falaram sobre o livro “Ajedrez a la ciega”, que demorei, mas acabei conseguindo um exemplar, e li sobre a metodologia adotada por Pillsbury, Reti, Alekhine e outros, percebi que praticamente todos faziam da mesma maneira que eu, exceto Tarrasch, que dizia visualizar o tabuleiro todo, mas suspeito que ele pode ter apenas uma falsa impressão sobre isso, conforme comentei algumas linhas acima. Acho este esclarecimento importante, porque a maioria das pessoas pensa que eu visualizo um tabuleiro de cada vez, ou todos de uma vez, mas não é isso. Eu apenas sei onde estão todas as peças de todos os tabuleiros.

6 - Você também é recordista mundial de xeque-mate anunciado mais longo em Xadrez Epistolar. Pode explicar melhor essa modalidade do Xadrez?
Este recorde não chegou a ser oficialmente publicado no Guinness, em parte porque após a edição de 1998, o Guinness deixou de ser publicado no Brasil durante alguns anos, e este recorde foi estabelecido em 1999. No site do Guinness no Reino Unido não havia (e acho que ainda não há) formulário funcional nem qualquer meio de contato para envio de requisição de homologação. Mas foi publicado integralmente no jornal de Pi Society e citado em outras revistas e sites. Foi também reconhecido pelo então presidente do Clube de Xadrez Epistolar Brasileiro como o mais longo de que ele tinha conhecimento, sendo o recorde anterior citado no livro “Manual de Xadrez”, de Idel de Becker (não me recordo agora o nome da pessoa que era recordista).
O Xadrez Postal, em minha opinião, é mais interessante que o Xadrez ao vivo em muitos aspectos, porém é menos divertido. O Xadrez Postal é mais científico, envolve extensas e profundas pesquisas antes de se executar cada lance, quase não há margem para táticas psicológicas ou ciladas, enquanto o jogo ao vivo é mais esportivo, é uma disputa entre pessoas, é como dizia Lasker: “O Xadrez é uma luta gostosa de emoções”. Diria que o Xadrez Postal é como compor uma obra de Arte com elevado requinte, ou desenvolver um complexo e profundo trabalho científico, não sinto o Xadrez Postal como um jogo ou esporte, mas sim uma arte e uma ciência de nível muito elevado. Com os programas de computador, o teor científico do Xadrez Postal aumentou muito, e, cada vez mais, o grupo dos melhores jogadores postais está sendo constituído por acadêmicos de áreas de Exatas, ao passo que antes era majoritariamente constituído por fortes jogadores ao vivo. Minha sensação é de que algumas pessoas conseguem analisar exaustivamente por 5 minutos, outras conseguem por 1 hora, outras conseguem por 50 horas. Às vezes quem consegue se sobressair muito numa análise de 5 minutos pode não continuar melhorando a qualidade de sua análise se dispuser de muito mais tempo, enquanto outras que não são tão rápidas para conseguir fazer uma análise muito boa em 5 minutos, podem continuar se aprofundando quase indefinidamente, até encontrar um lance com altíssima probabilidade de ser objetivamente o melhor, e estas acabam se sobressaindo no postal. Com o uso de computadores, além da capacidade para se aprofundar quase indefinidamente, soma-se a capacidade para formular metodologias de análise em que o computador execute os cálculos táticos e o humano oriente um plano estratégico.
Creio que a correlação entre Matemática e Xadrez Postal seja mais forte do que entre Matemática e Xadrez ao vivo, se pensarmos em Matemática em termos de “produção intelectual”, mas se pensarmos em matemática como tirar notas ou vencer olimpíadas da Matemática, então a correlação com Xadrez ao vivo deve ser mais forte.
Atualmente o Xadrez Postal é, na verdade, Xadrez por e-mail. Desde 1999, quando comecei a jogar postal, o uso do e-mail talvez já predominasse. Os ritmos de jogo costumam ser 40 dias para 10 lances, ou 30 dias para 10 lances, sendo que se um lance for respondido na mesma data ou no dia seguinte, conta como tempo zero por descontar o trâmite dos correios. Embora o advento do e-mail tenha tornando essa regra injustificada, ela permanece vigente (pelo menos era assim até 2000). Além disso, a derrota por esgotar o tempo só acontece após exceder o controle de tempo pela segunda vez. Isso confere aos jogadores uma folga muito grande para analisar cuidadosamente.
Os jogos postais se desenvolvem mediante a troca de correspondências (e-mails ou cartas), em que as pessoas têm um determinado prazo para executar determinada quantidade de lances. Há várias regras específicas para tentar supervisionar os jogos, e acho interessante que as tentativas de trapaças são muito raras, apesar de não haver meios eficientes para se fazer um controle muito rigoroso.

7 - O Xadrez pode ser considerado um esporte ou é apenas um jogo que desenvolve o lado intelectual do indivíduo?
Eu escrevi um texto intitulado “Tributo à deusa Caissa”, que está publicado em alguns sites de Xadrez, inclusive neste:
http://www.sigmasociety.com/xadrez/sigma_tributo-caissa.asp
O texto é uma apologia ao nosso jogo-esporte-arte-ciência, com teor meio poético. Uma resposta mais objetiva a esta pergunta poderia ser dada com uma rede neural que recebesse milhões de inputs sobre características comuns a jogos e a esportes, contrastasse umas com as outras, e, em seguida, ela classificaria o Xadrez como mais bem enquadrado em um ou no outro grupo. Este seria um procedimento complexo, demorado, e ainda estaria sujeito à subjetividade inerente à escolha das características usadas nos inputs.
Tentando fazer organicamente o trabalho de uma rede neural artificial, podemos dizer que o Xadrez possui vários elementos comuns aos jogos, aos esportes, às artes e às ciências, portanto pode ser caracterizado como todas. Mas se a pergunta envolver um “ou exclusivo” do tipo “XOR”, seria muito difícil de responder em qual grupo ele se enquadraria melhor, inclusive talvez variasse de pessoa para pessoa, de partida para partida, sendo algumas mais científicas, outras mais artísticas, outras mais esportivas. Karpov, por exemplo, é um bom arquétipo de jogador científico, enquanto Tal foi um notável artista e Lasker foi um grande jogador. Os três foram cientistas, artistas e jogadores, porém cada um se destacou numa característica. Talvez haja algumas armadilhas semânticas ao se tentar dar respostas simplistas a perguntas como esta. Creio que o mais correto seja considerar o Xadrez como uma modalidade esportiva, reconhecia pelo COI, com elementos de Arte e Ciência, e com propriedades que o caracterizam também como um jogo. Numa análise superficial podemos ter a impressão de que difere da pintura, que é facilmente caracterizada como Arte, embora tenha também elementos de Ciência, e difere da Física, que é facilmente caracterizada como Ciência, embora tenha também elementos de Arte, mas difere em menor proporção de jogos diversos. Mas uma análise mais meticulosa revela que, na essência, se compararmos a atividade intelectual e a emocional subjacentes, fica claro que ele difere mais dos jogos trivialmente praticados, e se assemelha muito mais às artes e ciências. Geralmente o envolvimento do praticante com a atividade artística e científica é muito intenso, assim como o sentimento de realização ou de perda quando se consegue ou não atingir o objetivo. Nos jogos típicos, geralmente o envolvimento é muito menor, o comprometimento é menor. Não estou seguro de ter feito uma análise imparcial. Talvez eu esteja partindo de uma idéia pré-concebida e tentando formular argumentos para fundamentar minha idéia, em vez de analisar friamente o caso em busca de uma compreensão mais correta. Mas se estou incorrendo neste vício, não é intencional e me inclino a acreditar que estou sendo pelo menos razoavelmente imparcial.

8 – Você acha que o ensino do Xadrez deveria ser obrigatório nas escolas de todo o país?
Eu acho que deveria ser obrigatório oferecer merenda e condições dignas de moradia e educação a todas as pessoas, especialmente às crianças, e acredito que as escolas deveriam oferecer aulas facultativas de todas as disciplinas, bem como orientação para que as crianças pudessem compor as grades curriculares mais compatíveis com suas aptidões naturais e com suas preferências pessoais. Acho que ninguém deveria estudar compulsoriamente Xadrez, nem Matemática, nem qualquer outra disciplina, mas deveriam ser esclarecidos sobre a importância do conhecimento e dos benefícios que se pode ter para o resto da vida se se dedicarem ao estudo do Xadrez, da Matemática e da maioria das outras disciplinas, sobretudo se estas disciplinas forem abordadas de modo a ter aplicação no cotidiano. Ainda que o Xadrez provavelmente cause bem às pessoas, não acho que se possa obrigar as pessoas a nada que elas não queiram, ainda que seja supostamente bom para elas, exceto em casos nos quais o bem da comunidade depende da imposição de algo a alguns, a fim de assegurar o melhor para todos. Privar uma pessoa da liberdade, por exemplo, se a pessoa for uma criminosa hedionda, e a liberdade dela colocar em risco o bem-estar de outros, eu sou a favor de que esta pessoa perigosa precisa ser impedida de atuar contra o bem comum. Mas no caso de um fumante, enquanto ele fume longe de outras pessoas, e o único prejudicado é ele próprio, acho que o máximo que se pode fazer é orientá-lo a não fumar, mas sou contra obrigá-lo a não fumar.

9 - Para finalizar, você pode falar um pouco mais sobre a Sigma Society?
Sigma Society foi criada em 1999 e chegou a ser bastante ativa durante algum tempo, com cerca de 500 mensagens mensais em nossos fóruns, chegamos a oferecer cursos de Xadrez, Astronomia, Latim, Esperanto e Sânscrito, a seção Oráculo foi muito prolífica durante alguns anos, porém atualmente nossa atividade está muito reduzida, em grande parte porque meu foco está muito mais voltado para a área financeira, especialmente o desenvolvimento de sistemas automáticos de investimentos. A maioria dos artigos publicados no site a partir de 2005 é sobre investimentos, e chegou a um ponto que começou inclusive a descaracterizar nossa sociedade, por isso agora vamos criar um site exclusivo para tratar de investimentos, e tentaremos redirecionar a Sigma para seguir em seu caminho original.
Na Sigma eu tive a oportunidade de conhecer algumas das pessoas mais agradáveis que atualmente fazem parte de meu círculo de amizades, pessoas com as quais compartilho vários interesses e possuem valores éticos semelhantes aos meus. Não apenas os membros de Sigma, mas também muitos visitantes, que são praticamente como membros, com os quais mantive e/ou mantenho correspondência assídua, também acabaram se tornando amigos muito queridos. O Petri Widsten, por exemplo, teve época em que trocávamos 10 e-mails por dia durante vários meses seguidos. Alexandre Maluf (não tem parentesco com Paulo Maluf, pelo menos não que ele saiba) é provavelmente a pessoa com quem mais tenho trocado mensagens nos últimos anos, devido ao meu interesse por Astronomia e por ele ser provavelmente uma das pessoas que mais conhece sobre telescópios no Brasil, e tenho aprendido muito com ele. A Juçana Corrêa foi uma das mulheres mais marcantes em minha vida, com quem mantenho amizade até hoje. Praticamente todos os cotistas do Saturno V (que é o nome de meu sistema automático para investimentos) me conheceram por intermédio do site da Sigma Society, bem como as matérias para as quais fui convidado a participar, como esta entrevista que estamos fazendo agora, e outras, as pessoas que me convidaram para estas matérias tomaram conhecimento de que eu existo por intermédio do site, direta ou indiretamente. Por isso considero que o tempo que dediquei a Sigma nos últimos 9 anos está sendo muito recompensador, assim como o tempo que dediquei ao Xadrez e a algumas outras atividades. Sigma foi uma sementinha que plantei sem saber claramente o que esperar dela, e rapidamente começou a gerar bons frutos. Hoje ela representa uma filha para mim, com a vantagem de que não chorava nem fazia sujeira quando era pequena, não preciso ir buscá-la à noite em danceterias, e, apesar dessa gravidez precoce e inesperada, que vai gerar agora outro site, ela sempre me trouxe muitas alegrias.




PESQUISADO E POSTADO, PELO PROF. FÁBIO MOTTA (ÁRBITRO DE XADREZ).

REFERÊNCIA:
http://www.sigmasociety.com/entrevista_xadrez.htm