RESPEITE AS CRIANÇAS!

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PROF. FÁBIO MOTTA (ÁRBITRO DE XADREZ).

sábado, 10 de julho de 2010

ENTREVISTA 29 - ÁRBITRO DA FIDE IGOR LUTZ.

ÁRBITRO DA FIDE IGOR LUTZ.
Nos últimos anos ele tem sido uma das figuras mais importantes dentro do xadrez regional. Deixando de lado a carreira de jogador , Igor Lutz se tornou professor de xadrez , arbitro e organizador do maior evento enxadristico que ocorre no estado de Goiás, o Circuito Goiano de Xadrez Escolar que tem uma média de mais de 200 participantes por etapa. Assim eu escolhi essa figura para a primeira entrevista do blogger pra começar bem! Acompanhemos:

01º) LGX - Como você ingressou no mundo do xadrez?
Igor- Comecei a jogar xadrez por causa de um amigo que morava na minha rua. Ele me ensinou para que eu pudesse participar dos Jogos Internos da minha escola, quando eu tinha 11 anos. Depois de um tempo, comecei a participar de torneios promovidos pela Federação, e a princípio eu não gostava, pois não haviam jogadores da minha idade no meio do xadrez. Mas logo vieram os primeiros torneios fora do Estado, e as amizades que fiz acabaram me incentivando.

02º) LGX - Quais foram as suas principais conquistas no xadrez?
Igor - Como jogador, nenhum título realmente expressivo: Campeão Goiano sub-20 em 1998, bi-campeão da Copa Fexeg e Vice-Campeão do Aberto de Goiás em 1999
Como árbitro, o título de Árbitro Fide e o convite para arbitrar o Campeonato Continental no ano passado, foram as principais conquistas.

03º) LGX - Além de um dos jogadores de destaque que já tivemos em nosso estado , você também é um professor destacado no circuito goiano , revelando vários jogadores que hoje se destacam da mesma forma que você. O que te levou a ingressar na carreira de professor?
Igor - No terceiro ano do Ensino Médio recebi uma bolsa para estudar no colégio Carlos Chagas, por causa do xadrez, e durante esse ano eu promovi alguns torneios para incentivar os alunos. A diretora gostou da iniciativa, e assim que saí fui convidado a ser professor de xadrez da escola. Gostei muito da experiência, e desde então leciono.

04º) LGX - Como você se sente vendo um aluno seu ganhando torneios, despontando no xadrez?
Igor- Ver um aluno aprender e gostar de xadrez já é o suficiente para me trazer imensa satisfação. Porém, quando o aluno desponta, a sensação é única. Alguns deles até ultrapassaram meu nível de jogo, e conquistaram títulos que eu mesmo nunca consegui. Sinto muito orgulho de todos eles.

05º) LGX - Como você orienta os alunos que começam a se destacar no xadrez?
Igor - A orientação básica é estudar, praticar e participar de torneios. Só assim o aluno pode se tornar um jogador mais forte. Com o advento da internet, jogar partidas nos sites e acompanhar bons torneios com análises se tornou algo simples e eficaz no desenvolvimento dos alunos.

06º) LGX - Você junto com Henrique Cardoso são os realizadores do Circuito Goiano Escolar de Xadrez, um dos maiores eventos do esporte no Brasil, o que é uma contradição com a realidade do xadrez no estado. De onde partiu essa idéia, e qual a finalidade do evento?
Igor - O Circuito Escolar nasceu para preencher uma lacuna no xadrez escolar do estado. A Fexeg, com a ineficácia costumeira, nunca promoveu como deveria o xadrez de base, e o Circuito surgiu como alternativa para suprir a necessidade de torneios voltados para crianças e jovens.

07º) LGX - Na sua opinião, o que o xadrez contribui na formação do ser humano e porque ele é importante nas escolas?
Igor - Essa pergunta merece uma longa resposta, mas resumindo, o xadrez é um jogo essencialmente ético, carregado de valores e significados históricos. Como diria Tarrash, no xadrez todos são intelectualmente produtivos, e capazes de experimentar grande satisfação ao jogar uma partida. Seu encanto é peculiar.
A presença do xadrez na escola, independente se nas aulas de Educação Física, na grade curricular ou por projetos, é de grande importância para o desenvolvimento dos alunos, auxiliando no processo educativo, desde a cognição, capacidade de concentração, abstração e raciocínio lógico-matemático até o trabalho com elementos lúdicos.

08º) LGX - Mudando de assunto, você nos últimos tempos parece ter abandonado os tabuleiros, para se dedicar ao xadrez de uma outra forma, tornando-se arbitro. O que fez você partir para esse lado do esporte e o que te acrescentou quando você se tornou arbitro.
Igor - Desde o início da "carreira" de professor organizei torneios e eventos para os alunos, e isso me motivou a aprender mais sobre arbitragem. Em 2006 fiz o curso do AI Mauro Amaral e oficializei minha condição de árbitro.
Descobri que sou muito melhor árbitro que jogador!! Na migração dos tabuleiros para a arbitragem, tive a oportunidade de conhecer pessoas que colaboraram muito com o meu aprendizado.

09º) LGX-Como você avalia o xadrez hoje no estado de Goiás?E já vou perguntando o que precisa pra melhorar?
Igor-O xadrez em Goiás não poderia estar pior. Não existem torneios, incentivo, transparência...
Os clubes estão completamente parados, e a eleição (sempre fraudulenta) perpetua a péssima administração. Além disso, a Fexeg enfrenta dois processos judiciais que dizem respeito à documentação irregular e a própria eleição da atual diretoria.
O que move a diretoria da Fexeg (ou o que sobrou dela) é o jogo de interesses, como por exemplo a Bolsa Esporte, que se tornou "moeda de troca" entre jogadores e federação.
O Campeonato Goiano caiu no descrédito, como todos os outros eventos da federação, que de oficiais só têm o nome. Afinal, não são enviados para a CBX para serem calculados e reconhecidos, ou seja, não valem absolutamente nada.
Por tudo isso, entre outras tantas coisas, escolhi me filiar pelo Distrito Federal, assim como Luciano Alves, Henrique Cardoso e todos os nossos alunos. É a única forma de termos certeza que o dinheiro não será embolsado pelos nossos atuais dirigentes.
Para que tudo isso mude, é preciso a total reformulação da forma de eleição da diretoria da Fexeg por uma mais justa e transparente, que não dê direito de escolha a pessoas ou entidades que estão completamente desvinculadas do xadrez goiano, e que favorecem a manipulação e fraude. Esse seria o ponto de partida.
Além disso, a reativação e fortalecimento dos clubes do interior, a promoção de eventos sérios, a justa distribuição da Bolsa Esporte (a quem realmente merece, e não a quem apóia as malandragens da diretoria) e a promoção do xadrez escolar podem ser pontos que tornem o xadrez em Goiás atrativo novamente, digno de respeito no Brasil.

PESQUISADO E POSTADO, PELO PROF. FÁBIO MOTTA (ÁRBITRO DE XADREZ).
REFERÊNCIA:
http://ligagoiana.blogspot.com/2010/02/entrevista-com-af-igor-lutz.html

sexta-feira, 9 de julho de 2010

ENTREVISTA 28 - TOM FELTON.

TOM FELTON.

Tom Felton fala de tecnologia e Xadrez online com o elenco de Harry Potter
Comentários desativados
28 de novembro de 2009 às 7:54 por Felipe | Categorias: Atores Potterianos, Entrevistas, Tom Felton |

Tom Felton (Draco Malfoy) foi entrevistado recentemente pelo jornal The Guardian sobre suas escolhas de tecnologia, e como ele e os membros do elenco de Harry Potter sentaram e jogaram xadrez online, através de seus iPhones nos sets de filmagem.

01º) Qual é a sua parte favorita de tecnologia, e como isso tem melhorado a sua vida?

“Eu não quero soar como se eu fosse seguir a multidão, mas tem que ser o iPhone. Durante o último ano e meio tem sido a paixão da minha vida.”

02º) Quando foi a última vez que você usou, e para quê?

“Eu estou usando agora [para fazer esta entrevista]. A última coisa que eu sou viciado é neste app (aplicativo), Xadrez com amigos, e você pode jogar com qualquer um que tem um iPhone. A maioria do elenco de Harry Potter e a produção tem, e estamos sempre jogando xadrez contra os outros.”

As perguntas e respostas completas da entrevistas podem ser lidas em “Leia Mais”!


TOM FELTON – THE GARDIAN

03º) Que recursos adicionais que você adicionaria se pudesse?

Oh Deus, você sabe o que seria realmente bom para mim é um localizador de cachorro – seria poupar-me a hora que eu tenho que gastar procurando meu cachorro.

04º) Você acha que ele será obsoleto dentro de 10 anos?
É impossível dizer. Eu não posso ajudar, mas penso que este é apenas o começo para os celulares da Apple.

05º) O que frustra sobre tecnologia em geral?

Você odeia quando as coisas se acidentam – quando não tem culpa pessoal, mas simplesmente não funcionam mais. E a outra coisa que eu não suporto é quando os outros países estão tecnologicamente tão longe de nós.

06º) Existe alguma determinada parte de tecnologia que você odeia?

Carregar o celular, porque eu sou um tecnológico. Eu estou sempre comprando aparelhos, especialmente em aeroportos. Eu comprei recentemente um conjunto de fones de ouvido sem fio, e pensei que era bacana… mas a qualidade do som era péssimo e parecia um marciano.

07º) Se você tivesse uma dica sobre como obter o melhor proveito das novas tecnologias, o que seria?

A primeira coisa que faço com qualquer coisa nova é entrar no YouTube e procurar por um vídeo “como fazer”. Ir on-line e fazer perguntas é a melhor maneira de aprender.

08º)Você se considera ser um lúdico ou um nerd?
Eu sou um pouco mais de um – Eu tenho que ser a primeira pessoa a começar coisas novas quando saem. Eu sempre quero comprar e experimentar novos gadgets.

09º) Qual é a parte mais cara de tecnologia que você já teve?
Provavelmente a minha indulgência única real ao longo dos últimos anos tem sido os carros, eu os amo. Eu conduzo um BMW, no momento, um Z4, e que é bastante técnico.

10º) Mac ou PC, e por quê?
Eu teria dito PC incessantemente ao longo dos últimos 12 anos, porque é tudo que eu sempre usei. Mas há oito meses eu tenho um Macbook e têm vindo a utilizar, que desde então. Eu gosto do Windows, mas para a satisfação do usuário, ele tem que ser o MAC.

11º) Você ainda comprar suportes físicos como CDs e DVDs, ou faz o download? Qual foi sua última compra?
Raramente, ele deve me disse. iTunes tem sido uma das maiores vantagens para mim nos últimos cinco anos.

12º) Mordomos Robos – uma boa idéia ou não?
Soa tentador, mas há sempre aquele medo de que poderia dar errado. Eu acho que pegaria um mordomo humano ao invés de um robô.

13º) Qual peça tecnológica você mais gostaria de possuir?
Eu tenho um bocado de um jardim e eu adoraria um hovercraft para contorná-la – um dos quatro grandes os lugares com o ventilador na parte traseira.

PESQUISADO E POSTADO, PELO PROF. FÁBIO MOTTA (ÁRBITRO DE XADREZ).
REFERÊNCIAS:
http://www.clubedoslugue.com/atores-potterianos/tom-felton-fala-de-tecnologia-e-xadrez-online-com-o-elenco-de-harry-potter
http://crazystars.files.wordpress.com/2008/08/tom_felton_.jpg

ENTREVISTA 27 - VELIKA: O XADREZ É UMA ESCOLA DE VIDA.

O jornal online 16×16, publica, hoje uma interessante entrevista com o xadrezista de origem checa, da Associação Académica de Coimbra (A.A.C.), o GM Petr Velicka, radicado no nosso país desde 2004.

Na entrevista com Diana Mota, «fala da sua paixão pelo xadrez, da modalidade no nosso país e da sua ligação à Associação Académica de Coimbra» para onde veio treinar a equipa.

Pela importância, permito-me publicar os seguintes excertos desta entrevista

Que lugar considera ter o xadrez, no nosso país?

Portugal tem poucos torneios, poucos livros, tradição e não tem jogadores muito fortes. Tem apenas dois grandes-mestres activos. Falta sistema, apoios, o que é importante pois sem dinheiro nada se consegue e o xadrez nem tem muitos gastos! Temos por exemplo Espanha, que tem tudo isto e há mais competição, que é muito importante dentro dos países. Os portugueses não têm adversários no país e acabam por ter de jogar fora, o que torna tudo mais difícil pois ou têm de estudar ou trabalhar. Perdem-se muitos talentos assim. No meu país, como em muitos outros, os cafés todos têm tabuleiros de xadrez para jogar e cá é um erro não ser assim.

Há falta de tradição de xadrez aqui. Muitas crianças começam a jogar e perdem a vontade por falta de incentivos e visão de futuro…

Pois. É preciso organizar a vida para o xadrez, que é bom porque aumenta a disciplina, a concentração… Podemos aproveitar os ensinamentos para tudo na vida prática.

E, como mensagem, a terminar

Sempre digo que é muito importante estudar. Há quem tenha mais ou menos talentos, mas ao estudar aprende-se e nunca é tempo perdido. O xadrez é tipo uma escola de vida e é importante desenvolver o pensamento, o intelecto desde criança. Ninguém pode viver só do talento, é preciso muito trabalho. Mas quero também dizer que é importante divulgar esta modalidade para conseguir mais apoios e publicidade porque só com o esforço de todos se conseguem resultados.

PESQUISADO E POSTADO, PELO PROF. FÁBIO MOTTA (ÁRBITRO DE XADREZ).
REFERÊNCIA:
http://aladerei.blog.pt/tag/16x16/

ENTREVISTA 26 - CARLOS OLIVEIRA DIAS.

Entrevista a Carlos O. Dias.
Será publicada já no novo Ala de Rei, a partir de 1 de Outubro, a entrevista que Carlos Oliveira Dias, árbitro, jogador e presidente da Associação de Xadrez de Leiria, concedeu, em exclusivo, ao blogue Ala de Rei, no passado dia 9 de Setembro, antes do início da última sessão da fase final do Campeonato Nacional Individual Absoluto 2007.

A propósito, Carlos Dias, iniciou a sua participação no jornal de xadrez 16×16, com um artigo soobre a artbitragem - O árbitro: formação técnica, humana e sócio desportiva - que, não obstante, estar datado de Junho de 1999, mantém a sua actualidade, constituindo, por isso, um texto importante para quem se inicia na arbitragem ou necessite de alguma reciclagem e que o autor distribue como materail integrante nos Cursos de Arbitragem que tem dado por todo o país.

Não esqueçam que o Ala de Rei mudou para aladerei2.blogspot.com.

Publicado por Francisco Vieira em 17:55:42 | Permalink | Sem Comentários »
Terça-feira, Julho 31, 2007
O presente e o futuro do xadrez português!

Publiquei no jornal online 16×16 o artigo O presente e o futuro do xadrez português! do qual me permito transcrever os seguintes excertos:

O jornal online 16×16 está de parabéns ao entrevistar os presidentes das Associações Distritais de Xadrez e a publicá-las, semanalmente, aos sábados. Nestas últimas semanas tivemos a oportunidade de conhecer os pontos de vista de Fernando Castro (AX Braga), Manuel Pintor (AX Porto), Armanda Plácido (AX Lisboa) e Vítor Carlos Mira (AX Setúbal).

Resulta das entrevistas que os problemas do xadrez são gerais, mas, nem todos eles são sentidos da mesma forma, por culpa da criatividade das associações e dos seus dirigentes. Do que li, retiro que o xadrez está «regular» ou «estável», mas, não se consegue expandir a outros concelhos para além dos muito poucos onde existe.



Distritais de Braga, Porto, no norte onde se concentra a maioria dos xadrezistas

Sintetizando, e por palavras dos próprios, «A evolução do xadrez em Portugal, tal como outras modalidades que não geram receitas, está comprometida» (AX Setúbal), «a estrutura nacional do xadrez não tem evoluído e acompanhado as necessidades que essas apostam colocam, estando por resolver as suas debilidades intrínsecas» (AX Porto), «vivemos de subsídios e com a agravante de vivermos acima das nossas possibilidades» (AX Lisboa) e «há muito para fazer. [Porque] Portugal poderia ter, para termos uma situação equivalente à de Espanha, na ordem dos 10.000 praticantes federados» (AX Braga).



Distritais de Lisboa e Setúbal, no sul onde se concentra a maioria dos xadrezistas

De facto, a meu ver, a situação está apenas ou sobretudo, se assim quiserem, no xadrez escolar. Mas, quando falo no xadrez escolar não me refiro ao xadrez nas escolas que é o que tem existido no nosso país e poucos resultados sustentáveis tem transmitido.

O xadrez pode e deve ser ensinado e praticado nas escolas como uma actividade extracurricular, como uma modalidade desportiva – desporto escolar – como tem acontecido, melhor ou pior até ao momento, ou então, como eu defendo, como uma disciplina integrada na actividade curricular escolar normal.

Como salienta a educadora infantil Dilair Dâmaso:

«Consideramos importante esclarecer que existe, naturalmente, uma pequena diferenciação no enfoque quando vamos ensinar o xadrez com o objectivo estritamente para a prática desportiva, o xadrez competitivo e aquele voltado para o aspecto escolar, com fins pedagógicos, ou mesmo como forma de intervenção psicopedagógica». [sublinhado meu FV]

Por isso, os Planos de Desenvolvimento de Xadrez (PDX), como têm sido chamados, deverão, a meu ver, respeitar apenas o xadrez desportivo ou competitivo, e, portanto, ser ministrado apenas pelos monitores ou instrutores com certificação da FPX, nas escolas ou outros locais acordados com as Autarquias que os poderão ou deverão subsidiar na totalidade, na falta de «apoios privados», através, por exemplo de Protocolos.

Mas, o xadrez escolar, enquanto modelo ou ferramenta educativa, deverá apenas ser ministrado por professores e integrado na estrutura curricular do ensino oficial básico e secundário, constituindo parte integrante do desenvolvimento cognitivo e psicossocial das crianças e jovens do nosso país.

Em ambos os casos deverão ser constituídos Protocolos com as Autarquias, que é quem tem a responsabilidade pela gestão das Escolas, excepto, no caso da contratação de professores. Mas estes dossiers devem ser muito bem preparados, por forma a sensibilizar e mobilizar a comunidade educativa e municipal para o novo paradigma que deverá ser a utilização do xadrez na escola como modalidade desportiva, a exemplo, do andebol, basquetebol, voleibol, badminton, natação e como ferramenta educativa para o desenvolvimento cognitivo e psicossocial.


PESQUISADO E POSTADO, PELO PROF. FÁBIO MOTTA (ÁRBITRO DE XADREZ).
REFERÊNCIA:
http://aladerei.blog.pt/tag/16x16/

ENTREVISTA 25 - VASSILY SMYSLOV - POR VLADMIR ANZIKEEV.

SMYSLOV.

Entrevista com Vassily Smyslov - por Vladimir Anzikeev.
Eu ainda sou necessário nesse mundo...

(Traduzido do inglês por Vanessa Rodrigues e enviado por Luiz Roberto Costa Jr.)

Existem interessantíssimas entrevistas publicadas na Rússia, mas a maioria não é acessível para as pessoas que não falam a língua. Para melhorar a situação, nós planejamos traduzir algumas. Gostaríamos de iniciar com uma interessante entrevista, levemente controversa, com o sétimo campeão mundial: Vassily Smyslov!

Smyslov, 83 anos de idade, é quase cego agora, mas ainda cria no xadrez – é ativo na composição de problemas de xadrez.

A entrevista que se segue foi enviada pelo jornalista e poeta russo Vladimir Anzikeev para Shakhmarnaya Nedelia (Chess Week).

1º) Vamos falar sobre a natureza divina e diabólica do xadrez.

Como qualquer atividade humana o xadrez tem duas origens: a divina e a diabólica. O xadrez como uma arte tem uma origem divina, enquanto que como um esporte (quando conquista resultados a qualquer preço sacrificando a beleza do jogo), caminha para o diabo. Há uma notável evidência sobre isso agora. Depois de tudo, um computador é coisa nenhuma se não o diabo, porque não cria coisa alguma. É um inspetor, ou mais precisamente, um acusador. No seu livro ‘Meus Geniais Antecessores’, Garry Kasparov destacou que computadores podem examinar as partidas dos grandes jogadores de xadrez e mostrar seus erros. Agora dá a impressão que brilhantes combinações de Alekhine, Tal e outros maravilhosos jogadores foram defeituosas.
Apesar disso, o mais atraente sobre xadrez é o conflito de personalidades e suas emoções sobre o tabuleiro, com todos seus erros. Computadores não se enganam, mas isso não extingue o esforço. O talento dos grandes jogadores e suas combinações provam isso. O que nós experimentamos sobre o tabuleiro é mais importante. Nós pensamos artisticamente. Cada tentativa para se compor um genuíno jogo pelo computador nega o lado criativo (divino) do xadrez. Cada pessoa devia antes de tudo mostrar sua origem divina. Então, se o computador refuta o jogo de Lasker – isso quer dizer que Lasker não é mais um notável jogador? Nós estamos muito satisfeitos com as excelentes combinações, e falhas são detalhes menos importantes.
Como na realidade, no xadrez existem dois exércitos frente a frente. Se o resultado pode ser calculado pelo computador, qual a razão para se lutar? Na batalha de Austerlitz, Napoleão tinha 40.000 soldados. Seus inimigos excediam-no em número – quase dois por um. Além disso, eles estavam em uma posição melhor. O computador aconselharia Napoleão a render-se de uma vez. Máquinas não consideram fatores psicológicos. Na batalha de Austerlitz, os inimigos de Napoleão ou perderam seus ânimos ou foram apenas estúpidos, pois deixaram suas posições melhores por outras mais deficientes. Napoleão foi um gênio e direcionou o exército inimigo contra toda a lógica.
Antes de tudo, jogadores de xadrez são seres humanos que dependem de suas emoções. Eles não estão isentos de falhas, devem até cometê-las. O xadrez reflete a essência da natureza humana, incluindo idéias, criatividade e ilusões. O lado emocional do jogo exerce um considerável papel. Quando nós lemos: “Se não tivesse sido... teria...”, isso é impossível porque não existem ‘Ses’! Não é tão fácil tornar-se um campeão mundial. Uma vez eu indaguei quais seriam os dez melhores jogadores do século. Essa é uma pergunta errada. Cada campeão refletiu sua idade e o espírito de seu tempo. Desta maneira podemos dizer que a história promoveu tais jogadores.

2º) Atualmente, computadores trabalham para encontrar equívocos e ditarem padrões. Então levanta-se a questão: o xadrez está realmente morrendo?
(como na "morte por empate" predito por Capablanca). Os jogos não estão sendo interrompidos, computadores calculam tudo e começam a substituir os seres humanos. Uma vez eu disse que computadores deveriam ser apenas auxiliares.

3º) O que os jogadores de xadrez farão quando forem completamente substituídos por computadores? Eu discuti esse problema com Botvinnik e ele me disse: “Eles operarão as máquinas. Os melhores jogadores superarão as melhores máquinas”.

4º) Que tipo de idéia divina forma a base da vida humana?
Viver e experimentar todas as coisas é o sentido da humanidade. É impossível ganhar no xadrez sem sentimentos (como meu amigo Levenfish me disse). Às vezes nós experimentamos uma inacreditável gama de emoções. As pessoas estão expostas a enormes suplícios nervosos, cada derrota é um protótipo da morte. Depois do futebol, o xadrez é o que mais acarreta stress. Como nós sabemos da memória de Jerome Horsey Ivan, o Terrível, morreu sobre um tabuleiro de xadrez. Vladimir Bagirov e Aivar Gipslis sofreram o mesmo destino. Eu não dei tudo que eu tinha na busca por rating ou esforcei-me para alcançar resultados mais elevados, possivelmente com exceção do campeonato mundial. Essa estratégia me permitiu estender minha energia racionalmente e jogar por muitos anos. Como norma da vida, um jovem super-ativo tende a relaxar quando mais velho, e o xadrez do computador tende a rejuvenescer sempre.
Um modelo de jogador de xadrez é um sábio indiano curvado sobre o tabuleiro num majestoso silêncio, mas definitivamente, não uma pessoa que impacientemente desloca as peças sobre o tabuleiro. Cinco minutos de jogo não é ser criativo, é apenas puro esporte. O xadrez já está perdendo sua imagem de sabedoria e mudando rapidamente para apenas um esporte. Ganhar a qualquer custo é o que mais importa agora. O Resto do Mundo ganhou contra a Rússia no Match do Século e este acontecimento provou ser clara a evidência da priorização do esporte sobre a criatividade. Quando jogávamos, não éramos coagidos pelo tempo.

5º) Você foi o único a prever a vitória do resto do mundo contra Rússia...

Isso foi provavelmente uma inspiração do Alto. Às vezes isso acontece comigo. Eu não tenho intenção, mas sua pergunta surpreendentemente me alcança. Então a resposta inicia-se em mim. Intuições à parte, existem algumas outras regras que influenciam as pessoas. Em um jogo não é sempre o mais notável jogador que ganha. Outros aspectos formam a vitória: unidade de equipe, coesão e sorte. Não é suficiente saber teoria. Inspiração e criatividade também são necessárias. Esses fatores são os mais importantes. Isso mostra a alma humana mais claramente. Criatividade inclui harmonia e beleza, coisas que aproximam o individuo de sua origem divina.
Claro, se não tivesse sido por minha visão, eu teria continuado a lutar sobre o tabuleiro e não teria tido tempo para compor problemas de xadrez. Isso é como uma oração disfarçada. Se os óculos pudessem fazer a percepção dos olhos se expandir sobre o nervo, eu seria capaz de ver. Mas na minha presente condição, eu apenas posso criar problemas e aplicar técnicas que eu aprendi no decurso de muitos anos. Então, eu sou um compositor de problemas de xadrez e escrevo livros para não perder minha origem criativa (essência divina). Eu terminei meu livro ‘Secrets of Rook Endgames’, que inclui sessenta jogos e quatro problemas de xadrez. Ele será publicado em breve. Eu já publiquei um livro ‘Theory of Rook Endings’. Mas a teoria é uma coisa, e a prática é completamente outra. Nimzowich também escreveu dois livros: ‘My System’ e ‘Chess Paxis’. Claro que eu comentei meus melhores jogos nesses livros. Aqueles que me derrotaram podem igualmente incluir esses jogos em suas próprias obras.

6º) Mas, o que predomina no xadrez: o divino ou o satânico?

O xadrez tem algo do diabo. Eu não posso especificar exatamente o que é, mas sinto isto intuitivamente. Acho que os sacerdotes tinham toda razão em considerar o xadrez um jogo demoníaco. Não são apenas os cristãos que defendem esta opinião, o xadrez também foi banido no Iraque. Até hoje padres repudiam o xadrez. João Paulo II era um inveterado jogador de xadrez na sua juventude, e até compôs um problema de mate em três lances. Mas quando se tornou Papa, desistiu do xadrez.
Minha experiência mostra que o diabo luta com Deus no xadrez como na vida real, e que o campo de batalha não é o tabuleiro, mas os corações das pessoas. Percebi isso depois do meu jogo contra Hübner, que terminou empatado. Muitos foram os lances no cassino. Foi a primeira vez que eu tive a sensação que eu não poderia influenciar meu próprio destino. A roleta decidia o resultado e a bolinha dourada era usada para evitar magnetismo. Se a bola caísse em um número vermelho eu seria o ganhador. Um número preto daria a vitória para Hübner. A bola foi lançada e caiu no ‘zero’, como em Dostoevsky. Não havia ganhador. A bola foi lançada novamente e desta vez caiu no número vermelho ‘três’. Desta maneira eu ganhei a competição. Mais tarde me dei conta que Deus havia lutado com o diabo em um cassino e eles haviam empatado no primeiro tempo. Mas, no fim, Deus ganhou e condenou Hübner à derrota. Que eu saiba existiram boas razões: o comportamento de Hübner foi incorreto durante a competição.

7º) Você tem tido uma longa e produtiva vida. Que mais nós podemos perguntar: qual é o significado da vida?

Todos deveriam experimentar suas próprias provas, incluindo sucessos e infortúnios. Do meu ponto de vista, a Terra é um purgatório, nós estamos nos preparando aqui para algo mais elevado. Fui me preparando através de ambos: sucessos e quedas do destino.
A experiência mais terrível foi a perda da vista. Contudo, evidentemente, isso foi necessário por alguma razão, talvez para me fazer olhar mais para dentro de mim mesmo, em direção à minha alma. Porque a preparação para a vida em outro mundo através de nossa existência terrena é o significado da vida humana. Nós deveríamos aumentar nossa bagagem espiritual aqui para tornar possível nossa vida lá. Eu não revelo segredos que ligam o mundo real com o espiritual. É melhor não saber sobre fenômenos místicos ou ingressar de maneira errada no mundo divino. Claro, toda pessoa tem suas próprias paixões, que a fazem agir contra as regras bíblicas. Hoje em dia, as paixões humanas estão sendo intensificadas pelo poder satânico como nunca foram antes. Os indivíduos são testados todo o tempo e fracassam na maioria das vezes, eles não suportam a pressão. É muito difícil lutar contra as forças diabólicas. Quando eu quebro leis divinas, perco mais que os outros porque eu conheço as leis. Diferentemente de outros eu sei o que faço, mas nunca tentei convencer os outros ou fazê-los mudarem de idéia. Eles farão isso por si mesmos no devido tempo.
Todo indivíduo é muito complexo e freqüentemente fecha sua mente, não apenas para o semelhante, mas também para si mesmo. Isso não é tão fácil de compreender. A assistência divina é necessária, como o amor. Se uma pessoa está apaixonada, passa a se conhecer melhor, pois revela algumas peculiaridades que jamais havia imaginado. Entretanto, ela também percebe a pessoa que ama e igualmente vê nela coisas que estavam ocultas para uma percepção indiferente. Aqui a alma, que é a segunda vista, entra em ação. O sentido da vida é deixar sua alma absorver tanto do Espírito Santo quanto for possível. Deus não precisa dos despreparados. Ele quer aqueles que estão prontos. Deus concede às pessoas uma oportunidade para melhorar seus karmas. Provavelmente eu não esteja completamente pronto ainda, porque uma vez eu estava morrendo, e não morri. Alguns dias atrás eu sonhei com minha mãe, ela me disse: “Eu estou esperando por você, porque não vem?” Evidentemente, era muito cedo. Isso significa que eu ainda sou necessário para alguma coisa. Provavelmente, tenho alguma coisa para concluir neste mundo.

Sobre a tradutora: Vanessa Alves Rodrigues tem 26 anos e reside em São Sebastião do Paraíso/MG.
Além de professora, é formada em administração e faz consultoria de empresas. Atualmente exerce a profissão de bancária.
Estuda inglês na Great School e espanhol no Fisk. Na área de xadrez, apesar de estar dando os primeiros passos, já domonstra muita afinidade com a modalidade.

PESQUISADO E POSTADO, PELO PROF. FÁBIO MOTTA (ÁRBITRO DE XADREZ).
REFERÊNCIAS:
http://www.fcx.org.br/artigo4.htm
http://cxmendes.blogspot.com/2010/03/faleceu-vasily-smyslov.html

ENTREVISTA 24 - ZAMENHOF NO PROGRAMA DO JÔ SIARES

XADREZ E ESPERANTO: UM XEQUE-MATE NA BARREIRA LINGUÍSTICA.
Terminada a partida, surgiu o interesse em conversar com meu oponente, saber o que ele pensava da alternativa que eu tomei em relação ao final de peões, enfim, conseguir tirar mais algum proveito de tudo o que tinha aprendido durante o jogo. Havíamos vencido a barreira física jogando pela Internet, e, no entanto, permanecíamos diante de uma outra, ainda mais antiga e difícil de ser transposta: a barreira das línguas. Na ausência de uma língua em comum, estávamos ambos mergulhados no mutismo que prejudicou nosso próprio amadurecimento no jogo, e a culpa não poderia ser atribuída a nenhum dos dois, porque esse problema existe há muito tempo, sem uma solução realmente satisfatória para todos.

Quando o berço do xadrez era ainda a França do Café de la Régence, no século XVIII, impunha-se a necessidade de se saber o francês. Aos poucos, tal necessidade atravessou o Canal da Mancha e dirigiu-se para a Inglaterra de Anderssen, do primeiro campeonato mundial, e hoje pode-se dizer que o inglês é inevitável quando se buscam informações a respeito do xadrez, embora venha seguido de perto pelo espanhol de Capablanca. Nem mesmo a poderosa escola russa foi suficientemente forte para ascender sua própria língua a um posto dominante em relação às outras, mas dizem que o próprio Fisher afirmou que, para alcançar seus objetivos, teve de beber da fonte, lendo muitos livros em russo. Mas todas essas línguas ocupam apenas temporariamente essa posição dominante. Para comprovarmos essa teoria, basta nos lembrarmos da sequência na História: grego > latim > francês > inglês, e o Esperanto, língua planejada em 1887 pelo polaco Lázaro Luís Zamenhof, representa a única língua viva capaz de, efetivamente, contribuir para o entendimento entre enxadristas de todo o mundo. Seus objetivos são bem claros e lógicos: servir de língua aŭiliar para pessoas de línguas diferentes, a fim de que elas possam conservar sua própria língua, mas, ao mesmo tempo, intercambiar experiências com pessoas de outras línguas e culturas.

Ao longo de mais de 120 anos de uso, o esperanto se mostrou bastante eficaz nas relações internacionais, e hoje seu número estimado de falantes já alcança a casa dos milhões. Sua relação com o xadrez vem desde o início do século XX, quando surgiu a Liga Internacional Esperantista de Xadrez. E se já está comprovado que o cultivo do xadrez na mente de nossas crianças e jovens garante um maior domínio das áreas diretamente ligadas a ele, como a matemática, o raciocínio lógico e a concentração, também está comprovado que a aprendizagem do esperanto proporciona uma maior compreensão das estruturas da língua materna, é mais fácil de ser aprendido (porque não sobrecarrega a memória com as incoerências de uma língua estrangeira) e seu conhecimento faz economizar muitos meses quando se pretende adquirir outras línguas, caracterizando-a, portanto, como o melhor trampolim para as aprendizagens linguísticas.

Atualmente, o xadrez passa por uma fase caracterizada por variadas fontes de informação, uma fase em que surgem novos enxadristas de várias partes do mundo, e, devido à globalização e às novas tecnologias, a ligação entre todas essas pessoas amantes do jogo acontece de forma cada vez mais fácil e instantânea. Muitos livros e cursos são editados em línguas que não são tidas como línguas de prestígio, e com isso ficamos sem ter acesso a esse vasto material, tudo fica guardado como um tesouro a ser descoberto por quem tiver o “mapa da mina”. O Esperanto já foi testado inúmeras vezes como línguaponte, e sua versatilidade para a tradução de qualquer tipo de texto – inclusive enxadrístico, pois é possível encontrar um grande número de informações sobre o xadrez já na língua internacional – caracteriza-o como um dos melhores “mapas” que a mente humana já inventou.

É chegado o momento decisivo: estamos a poucos lances da vitória!

O enriquecimento que o estudo do esperanto poderá oferecer é incalculável. É a opção mais lógica para que não continuemos a sofrer o afogamento no mar da incompreensão linguística, que tanto empata as chances de aperfeiçoamento de todos aqueles que desejam ascender em nossa arte. E essa atitude não renderia riscos ao enxadrista. Muito pelo contrário: seria, antes, um pequeno sacrifício, magistral eu diria, em direção ao xeque-mate na barreira que ainda reina entre jogadores de línguas diferentes.

Leandro Freitas é revisor de textos,
professor de literatura, enxadrista e esperantista,
e, atualmente, mora em São José do Rio Preto, SP.

Artigos, textos · Última modificação: 2009/09/24 16:54 por marilenon.

PESQUISADO E POSTADO, PELO PROF. FÁBIO MOTTA (ÁRBITRO DE XADREZ).
REFERÊNCIA:
http://www.kke.org.br/artigos

ENTREVISTA 23 - EDUARDO MUNOA DA SILVA, CAMPEÃO BRASILEIRO DE XADREZ.

MUNOA.
01º) Como começaste a jogar xadrez?
Comecei aos 10 anos, 1990, ingressando após no Metrópole Xadrez Clube, no centro de Porto Alegre.

02º)Quais os títulos mais importantes da tua vida?
O Campeonato Brasileiro Sub-16, em Florianópolis, Santa Catarina, no ano de 1995 e o Sub-20 rápido, em Curitiba, Paraná, em 1999.

03º)Qual o campeonato que te tornou definitivamente conhecido nacionalmente?
Foram Jogos Estudantis Brasileiros por equipes, em Recife, Pernambuco, quando conquistei 5 pontos, dos 5 pontos disputados, fazendo mais pontos do que o primeiro colocado, entretando minha equipe ficou em segundo lugar.

04º)Como conheceu o Xadrez?
Quando era criança gostava muito de arte e cultura, gostava de fazer desenhos, montar quebra - cabeças, ler revistas, fábulas e livros infantis, e principalmente jogos educativos, sendo que um desses jogos que ganhei de presente foi o xadrez, na qual por não ter ninguém para me ensinar, deixei - o guardado durante alguns anos, até que no curso Cel Escobar, men preparando para a prova de admissão do Colégio Militar de Porto Alegre, o próprio Cel Escobar me ensinou os meus primeiros passos.

05º)Quais as participações e títulos mais importantes e marcantes em sua carreira?
Na minha carreira tive títulos importantes e títulos marcantes, ou seja, que me deram renome. O título estadual mais marcante foi 1º lugar nos JERG'S (Jogos Estudantis do Rio Grande do Sul) 1993 em Porto Alegre - RS, o mais importante foi o 1º lugar no Campeonato Gaúcho Sub 18 1994 em Porto Alegre - RS, os títulos nacionais mais importantes foram o 1º lugar no Campeonato Brasileiro Sub 16 1995 em Florianópolis -SC e 1º lugar no Campeonato Brasileiro Sub 20 1999 em Curitiba - PR e as participações mais importantes 34º lugar no campeonato Mundial Sub 16 1995 em Guarapuava -PR/Brasil e 5º lugar no Campeonato Mundial de Equipes Sub 20 1999 no Rio de Janeiro - RJ/Brasil.

06º)Você acha importante o ensino de xadrez nas escolas?
Sim, o ensino de xadrez já é praticado em escolas públicas de diverso países de 1º mundo e os resultados são facilmente comprovados, não só pelas avaliações pedagógicas realizadas, mas também pelo grande número de talentos que se tem revelado.

07º)O que pretende com o xadrez?
Pretendo cada vez mais desenvolvê-lo, pratica-lo e apoiá-lo em todas as suas áreas, ao máximo possível.

08º)Como você define o xadrez?
Como a arte que reflete as lutas da vida.

09º)Pretende fazer faculdade?
Pretendo fazer Educação Física na UFRGS, pois com certeza é a que mais combina a ver comigo e com que estou fazendo no momento.

10º)Você costuma cuidar de sua saúde?
Saúde para mim é setenta por cento da vida e reflete na personalidade física e psíquica como também no seu sucesso, por isso costumo fazer uma dieta equilibrada e praticar exercícios sempre que tenho tempo, e tenho como resultado dificilmente ficar resfriado ou gripado ou qualquer outro tipo de problema, desde o ano passado só tive alguns espirros (risos).

Palavra final de Eduardo Munoa :
Agradeço a todas as pessoas me apoiam no xadrez.

PESQUISADO E POSTADO, PELO PROF. FÁBIO MOTTA (ÁRBITRO DE XADREZ).
REFERÊNCIA:
http://www.canalzero.com.br/c2_ent_9.htm

quinta-feira, 8 de julho de 2010

ENTREVISTA 22 - CRISOLON TERTO VILAS BOAS.

Entrevista com Crisolon Terto Vilas Boas.

"O que os olhos não veem o coração sente!"

Numas das etapas da SLX, na cidade de Uberaba, estava participando um dos maiores enxadristas brasileiro cego - Crisolon Terto Vilas Boas. Durante os intervalos entre uma rodada e outra, Crisolon, gentilmente, concedeu uma entrevista ao editor do site xadrez real. Dotado de um rico vocabulário, ele nos conta um pouco de sua vida, como também de sua notável trajetória no mundo do xadrez.

01) Xadrez Real – Crisolon, há alguns anos atrás era de certa forma difícil de se aprender a jogar xadrez até para quem não tinha este tipo de deficiência visual igual a sua. Como você, aprendeu a jogar xadrez?
Crisolon - Na infância, no Instituto São Rafael em Belo Horizonte, uma escola especializada para deficientes visuais. Lá eu aprendi a jogar aos 13 anos de idade com um professor também deficiente visual. O Prof. Domingos Sávio.

02) Xadrez Real – Até quando você estudou no Instituto São Rafael?
Crisolon - Estudei lá até a oitava série. Após a conclusão do ensino fundamental, transferi-me para a escola regular onde conclui o ensino médio e, em seguida, ingressei na UFMG onde conclui o curso de Ciências da Informação e a pós-graduação em análises de sistemas. Trabalhei na PRODEMGE por 22 anos. Após sair da empresa me dediquei mais ao xadrez. Jogo torneios do calendário CBX onde recebo Bolsa-atleta.

03) Xadrez Real – Existe no Brasil uma instituição exclusiva para apoiar o xadrez adaptado?
Crisolon - Sim. Existe a Confederação Brasileira de Desportos para Cegos, uma instituição mantenedora de várias modalidades esportivas; como : judô, natação, xadrez, dentre outras.

04) Xadrez Real – Você acredita que o xadrez somou algo mais em sua vida?
Crisolon - Foi através do xadrez que hoje conheço 27 países em quatro continentes. Participei de três olimpíadas para deficientes visuais: uma em Laguna em Santa Catarina, em Zakopane na Polônia, Ilha de Creta na Grécia, mundial de Goa na Índia, na Turquia foi em Istambul, participei também na Espanha, disputei o Pan-americano em Lima. Disputei também vários abertos, em diversos outros paises.

05) Xadrez Real – Você estuda xadrez?
Crisolon - Atualmente estudo com o Prof. Júlio Lapertosa pela internet e também com softwares utilizando programas de voz.

06) Xadrez Real – Qual a importância do xadrez para você?
Crisolon - São várias. Destaco entre elas demonstrar a sociedade que limitações sensoriais não impedem o ser humano de realizar as diversas atividades inerentes a vida.

07) Xadrez Real – Qual sua opinião sobre a iniciativa de se criar a SUPER LIGA DE XADREZ DO TRIÂNGULO MINEIRO ALTO PARANAÍBA?
Crisolon - Acho de extrema importância a formação de novas entidades para que possa o xadrez atingir o maior número de pessoas, principalmente, a nova geração de enxadristas, dando destaque especial às crianças. Inclusive essa descentralização é de fundamental importância para o desenvolvimento das cidades de menor porte, onde nem sempre as federações e confederações atuam, provavelmente, até mesmo pela logística.

08) Xadrez Real – Para encerrarmos, você se importaria em nos dizer o que provocou sua deficiência visual?
Crisolon - Sou cego de nascença, portador de glaucoma congênita proveniente de rubéola na gestação de minha mãe.

09) Xadrez Real – Crisolon nós de toda comunidade do xadrez real lhe agradecemos encarecidamente, pela entrevista e principalmente pelo belo espetáculo que nos oferece tanto na vida quanto nos tabuleiros, o que nos leva até a refletir sobre aquela velha frase que diz assim: - “o que os olhos não vêm o coração não sente.” para a seguinte frase: - “O que os olhos não vêm o coração sente!
Crisolon - Obrigado.

Entrevista por: Cláudio Roberto Andrade http://www.xadrezreal.com.br/
Categorias: Artigo.

PESQUISADO E POSTADO, PELO PROF. FÁBIO MOTTA (ÁRBITRO DE XADREZ).
REFERÊNCIAS:
http://www.sacrahome.net/csxd/node/527
http://www.sxadrezreal.com.br/
CSXD - Clube Sacramentano de Xadrez e Damas
Av. Capitão Borges, 205 - Centro, Sacramento - MG
(34) 3351-1822 / 9136-1822 ou (34) 3351-1915
csxd@sacrahome.net

quarta-feira, 7 de julho de 2010

ENTREVISTA 21 - GIOVANNI VESKOVSKI.



Nessa entrevista realizada na sede do Clube de Xadrez de São Paulo, Vescovi comenta os benefícios do esporte, fala sobre os seus jogadores preferidos e diz que o xadrez está presente no marketing, mas está faltando marketing no xadrez

Naldo Gomes: Gostaria que você contasse um pouco da sua história no xadrez, uma breve biografia, e como você passou a se interessar por esse esporte.

Giovanni Vescovi: Eu jogo xadrez desde que me tenho por gente, para falar a verdade, porque era um jogo que o meu pai gostava quando garoto, mas nunca chegou a se dedicar. Era um hobby que ele acompanhava. E quando eu ainda era pequeno, tinha uns dois anos, em vez de ele ficar bravo quando eu derrubava as peças, resolveu me ensinar a montar o tabuleiro. E sempre que a gente ia jogar eu montava o tabuleiro. Depois, ele resolveu me ensinar a mexer as peças e assim, com três ou quatro anos, eu comecei a jogar.


Eu jogava em casa, como passa-tempo. Com oito eu fui para o Clube Paulistano de São Paulo e lá eu comecei a ter algumas aulas de xadrez. E com isso, eu passei a me dedicar um pouco mais, eu via como eram o treinamento, as competições. Eu passei a gostar muito do ambiente. Uma das coisas que mais me motivaram foi o ambiente, os amigos que eu fiz lá no clube e as viagens. Então, isso daí foi um momento importante para eu começar a jogar.

Naldo: Que benefícios o xadrez trouxe para a sua vida?

Vescovi: É sempre difícil eu responder essa questão porque eu sempre joguei xadrez. Então, é aquela história que se repete: “A vida não é feita de sonhos”, aquela história do livro do Kundera em “A Insustentável Leveza do Ser”. Não sei, o que seria não é?

Eu sempre gostei muito, sempre fui muito responsável, eu sempre fui muito bom para pegar a essência das coisas. Eu nunca tive problemas de entender matérias.


A versão dessa entrevista - diagramada para impressão - pode ser baixada no 4shared. Clique na foto acima e na janela do 4shared que abrirá em seguida, pressione "Download Now". Aguarde os segundos solicitados na janela seguinte, depois pressione "Click here to download this file" e finalmente em salvar.
O aprendizado de qualquer assunto para mim, sempre foi muito fácil. Entender a lógica, o sentido das coisas. Então, acho que isso é uma característica muito comum em jogadores de xadrez. Eles pegam aquilo que é essencial, priorizam bem, tem um raciocínio lógico bastante bom. Eu sempre tive muita facilidade com matérias exatas, idiomas sempre foram muito fáceis para mim.

Nunca me dei bem com biológicas, matérias de decorar algumas coisas como as famílias de não sei o quê, espécie não sei o quê, nunca soube nada disso. Você pode achar curioso porque tem tanta linha para decorar no xadrez.

Mas as linhas de abertura, você as estuda e todas têm uma razão de ser. Agora, nome, não tem. Então, acho que, por isso, nunca gostei muito de biologia. Mas acho que em geral, o xadrez trouxe muitos benefícios para mim.

Naldo: Que benefícios o xadrez pode trazer para a sociedade? De todas essas coisas que se fala por aí como, “o xadrez melhora o ensino da matemática”, “o xadrez melhora a lógica”, “melhora a habilidade de prever consequências”, é tudo verdade ou é tudo mito?

Vescovi: Acredito que é muita verdade isso tudo. Há muitos estudos em andamento que comprovam. Boa parte disso aí é comprovada estatisticamente, então, não é um “achismo”. E esses estudos estão no mundo inteiro.

Recentemente, eu entrei no site Chess In The Schools, lá dos Estados Unidos, é lá tem trabalhos de 20 anos. E eles já fizeram muitos trabalhos científicos. Cerca de 400 mil crianças já passaram pelos estudos deles. Escolas problemáticas, crianças problemáticas do Brooklin. Então, foi constatado que houve uma melhora significativa no rendimento escolar.

Agora, penso que não só essa parte de rendimento escolar deveria ser levada em conta para avaliar os projetos de inserção do xadrez. Acho que é muito benéfico para o praticante de xadrez as consciências dos atos, a responsabilidade pelos próprios erros, a verdade quanto a autocrítica. O xadrez é um jogo que não admite muitas mentiras. Se você erra, tem que saber que está errando e que corre o risco de ser pego nesse erro.

Então, na medida em que você evolui como jogador vai se dedicando e começa a conhecer um pouco mais de xadrez. Você vai, cada vez mais, incorporando essas características no seu comportamento. O respeito ao próximo, você se coloca na posição do outro: “Se eu fizer isso qual seria a melhor reação do meu adversário?”, porque não posso esperar dele a pior resposta, ele vai sempre jogar a melhor resposta.

Essa dialética que o jogo tem você trás para a sua vida. Isso daí é muito positivo quando se fala em posicionamento estratégico. Em marketing, se usa muitos elementos que são do cotidiano de um jogador de xadrez. Coisas que a gente faz o tempo todo como: Planejamento, avaliação, análise, consideração sobre o adversário, o foco nos objetivos, a atenção aos elementos externos. A gente ganha muito com o jogo de xadrez. Essa é a minha visão.

Penso que o que esses projetos precisam é serem um pouco mais desenvolvidos. Porque, claro, não se quer criar campeões quando se apresenta o xadrez nas escolas ou o xadrez para crianças. Mas uma criança, muitas vezes, participa desses projetos e ela sai sem saber muito bem o que é o xadrez. Ela aprende os rudimentos, mas não é um negócio que ficou muito claro para ela, o porquê ela aprendeu aquilo. Ou, não é uma prática que se torna constante na vida dela e por isso, pode ser que ela não atinja totalmente os objetivos.

Certamente, se essas crianças tiverem mais oportunidades de ingressar no jogo, de se dedicar um pouco mais, conhecer um pouco mais, e aí eu acho que os educadores precisam estar mais capacitados para isso, penso que toda criança que tem uma força de 1.600 ou 1.800 de rating, ela leva isso para o resto da vida de uma forma…

Não conheço um jogador que tivesse mais de 1.800 de rating que resolveu fazer outra coisa e não foi bem sucedido.

Naldo: Você tem uma ideia de quantos campeonatos já participou e quais as melhores colocações que atingiu?

Vescovi: É difícil enumerar porque eu jogo desde 1987. Então, são 23 anos competindo oficialmente. Existem os campeonatos oficiais, os abertos, os torneios de grandes mestres.

Sou o número 1 do Brasil desde 2001 ou 2002. São praticamente oito anos com uma ou outra lista que me passaram na frente. Isso daí já reflete muita coisa e ser o número 1 do Brasil e número 1 da América do Sul por tanto tempo já representa algo.

Mas eu ganhei sete Campeonatos Brasileiros Absolutos. Um dos principais foi o mundial juvenil por equipes. Joguei mais de 20 mundiais, já perdi a conta. Mundiais de menores eu participei de uns 15 pelo Brasil em diversas categorias. Acho que em oito ocasiões fiquei entre os cinco primeiros. Então, são resultados bastante expressivos.

Tem os campeonatos nacionais que eu ganhei. Tem os Pan-Americanos. Tem Campeão Pan-Americano Juvenil e mais quatro Campeonatos Pan-Americanos de outras categorias. Ganhei três torneios importantes fechados em Bermudas, que foram os torneios fechados mais fortes do continente Americano. Alguns torneios bastante bons.

Naldo: Eu imagino que no começo da sua carreira como enxadrista você deva ter sentido nervosismo durante as partidas. Que emoções um jogador de xadrez sente durante partidas importantes? Essas emoções, em você, continuam as mesmas ou depois de tantos anos decorridos isso mudou?

Vescovi: Depois de tanto tempo eu aprendia a lidar com muitas coisas. Agora, essas sensações voltam… A ansiedade…

Claro que, antes eram mais fortes. Por exemplo, eu ficava nervoso e hoje, o pessoal me vê muito sério, compenetrado, meio frio. Mas eu fico tenso, fico nervoso, ansioso.

Eu aprendi a controlar isso. Tive um amigo que me treinou bastante a parte de respiração, que é uma ferramenta muito boa para baixar o batimento cardíaco. Isso é um método de controlar o nervosismo. Agora, tenho vários outros tipos de emoções. Aquela emoção de achar que a partida está ganha e perder a partida. Aconteceu muitas vezes, depois de ter me tornado Grande Mestre…

Tenho que me policiar: “Opa, essa sensação é aquela mesma sensação de outras partidas. Então, preciso redobrar a minha atenção nesse momento para não estragar a partida”. Então, eu fui aprendendo no caminho.

O enxadrista se for bem orientado, aprende muito em termos de autoconhecimento e autocontrole. Tem gente que não presta atenção nesse detalhe, então corre muito o risco de ir para o extremo oposto e ficar muito xarope mesmo, ficar totalmente desequilibrado emocionalmente.

Então, saber controlar as emoções mesmo em situações adversas, isso é importante para um jogador.

Naldo: Hoje você vive somente do xadrez?

Vescovi: Sim, hoje eu sou um profissional do xadrez.

Naldo: Você falou sobre esse treinamento da respiração. Mas que outros tipos de treinamento um jogador de xadrez tem?

Vescovi: O treinamento de um jogador é muito técnico. Então, ele tem que treinar muitas horas e tem que dedicar, pelo menos, uma hora por dia para um exercício de condicionamento físico. Isso seria o básico.

Depois, como um esporte que exige muito intelectualmente, saber tirar férias no dia é importante. Saber a hora de relaxar, de tirar da tomada… É assistir um filme, ler, espairecer, caminhar… Muitos jogadores de altíssimo nível fazem caminhadas. Então, penso que isso são coisas importantes.

Hoje também tenho outra faceta. Eu não sou somente um jogador embora quisesse me dedicar mais como jogador. Às vezes a falta de patrocínio acaba atrapalhando alguns projetos.

Mas estou com muitos projetos, com a missão de promover o xadrez, fazer o xadrez crescer no Brasil. Isso é um projeto pessoal que pode render muitos frutos para o xadrez. Vai ser muito bom se a gente conseguir conquistar o lugar que o xadrez merece.

Naldo: Você utiliza softwares para treinamento?

Vescovi: Utilizo muito pouco. Não sei trabalhar muito bem com computador e para mim, o melhor método de trabalho para quem joga, é estar com um treinador.

Penso que todo jogador precisa de alguém que o treine. E a função do treinador é, muito, trabalhar com o computador. Fazer a máquina melhorar o rendimento do jogador. Como?

Prefiro pensar sem o computador. Prefiro, às vezes, pensar sem o tabuleiro, também. Ficar imaginando: “Se eu fizer isso, vai acontecer aquilo… pá… pá… pá…”, tentar descobrir a lógica por ordem de lances, as ideias, os temas, coisas que o computador, às vezes, te dá na mão. Ele vê muito mais rápido essas coisas.

Só que, se não se exercita, você não evolui. O computador te prepara e você vai saber muita coisa. O computador ajuda se você não tem uma pessoa para trabalhar. É muito positivo. O computador vai te forçar a pensar. Mas se você só esperar do computador e se não for proativo, esquece… Você vai receber um monte de informação, complementar algumas, ganhar uma partida bem preparada, mas como jogador, não vai aprender a resolver problemas.

Naldo: Em que grande jogador do passado ou da atualidade você se espelha?

Vescovi: Eu gosto de vários. Muitos campeões mundiais são ícones, são ídolos. Eu acho que o Lasker foi um… Mas eu não conheço tão bem esses jogadores. Eu aprendi a gostar do jogo do Petrosian também. Acho que ele era um cara muito forte, muito científico. Gosto de ver o estilo do Tal, mas não sei jogar no estilo do Tal, embora, às vezes, eu tente. É uma pergunta difícil essa.

Gosto muito do estilo do Karpov quando ele estava no topo. Hoje em dia o Aronian é um jogador muito interessante. São jogadores novos com um senso prático muito bom. Mas o Aronian tem um conhecimento de xadrez, ele é da escola Armênia que é uma escola muito forte.

O meu estilo também não é muito claro.

Naldo: Você é tático ou estratégico?

Vescovi: Eu sempre calculei razoavelmente bem, então sempre fui considerado um bom tático. Mas acho que o meu forte é o jogo posicional, de pressão.

Naldo: Quantas jogadas você consegue ver à frente?

Vescovi: Essa é aquela pergunta padrão. É uma pergunta que para um enxadrista não faz muito sentido porque se eu consigo jogar uma simultânea às cegas em dez tabuleiros, quantas jogadas eu posso ver? Cinquenta, cem, quantas forem. Se eu for indo, numa sequência, uma atrás da outra… Vou mudando os cenários, os diagramas, na minha cabeça, a cada lance. Então, não é difícil ver várias jogadas à frente.

Agora, o difícil é ver jogadas boas. Essa é que é a grande questão. O difícil é fazer lances bons e cálculos corretos. Então, dizem e deve ser verdade, que é pouco prático, na maioria dos casos, se fazer uma análise de dez lances, porque a chance de existir um erro a partir do quarto é muito grande, mesmo para jogadores muito fortes. Cálculos muito bons, muito bem feitos, de três ou quatro lances são o suficiente para se tornar um Grande Mestre.

Naldo: Você não citou o Kasparov entre os melhores jogadores…

Vescovi: O Kasparov, na minha opinião, é o melhor de todos.

Naldo: Mas ele perdeu para a máquina.

Vescovi: Isso não é muito… Assim, foi um marco na história da humanidade e do xadrez…

Naldo: Você acha que havia um Grande Mestre atrás da máquina?

Vescovi: Não, durante o jogo não.

Naldo: Mas o que foi aquela jogada mágica do computador?

Vescovi: Não, aquilo foi uma jogada que qualquer computador consegue calcular. Não precisava ser o Deep Blue para verificar isso. É claro que, talvez, dentro da preparação do computador houvesse. Mas mesmo se tivesse um Grande Mestre atrás da máquina, ele poderia ter feito o computador jogar outro lance, não aquele. Ele vai achar que tem compensação, mas porque é que ele iria arriscar tanto numa última partida de brancas onde não precisaria… O computador calculou tudo aquilo.

Agora, foi estupidez do Kasparov jogar aquela linha. Foi uma linha horrível, não tem nada a ver com o jogo dele.

Penso que o Kasparov foi, sem dúvida, o melhor de todos até hoje. Mas ele mostrou um xadrez de muita energia. O xadrez do Kasparov é energia pura. Ele é um jogador que precisava estar com a cabeça preparada para a luta, para querer ganhar, com a faca nos dentes, com sangue nos olhos. Mas se ele estava com o emocional em baixa…

Só que ele sempre se cuidou para poder estar sempre tranquilo. Então, o math que ele perdeu para o Kramnik… Um ou outro math… São momentos interessantes para se analisar. Mas o Kasparov foi, sem dúvida, o melhor de todos em termos competitivos.

Porém, tecnicamente, ele não tinha finais tão bonitos. As aberturas dele, sempre fantásticas. O meio de jogo dele, muito criativo. Mas ele não me parecia um jogador muito técnico e nesse sentido, um Karpov da vida é muito melhor.

Naldo: O xadrez é um esporte que usa muita matemática e muita lógica. Mas eu gostaria de saber sobre o lado humano do xadrez. Quem são as pessoas que jogam xadrez? Eles têm um perfil mais introvertido ou extrovertido? Ou isso não tem nada a ver e o xadrez é esporte para todos os estilos?

Vescovi: É aquela pergunta: O xadrez deixa a pessoa mais inteligente? Não. Não deixa. O que acontece é que muitas pessoas inteligentes gostam de jogar xadrez e começam a jogar. Depois eles se interessam e continuam jogando. Acham o jogo interessante, fascinante. Não é à toa que o xadrez é um jogo de 1.500 anos com as mesmas regras e sempre tem coisa nova, sempre tem coisa interessante.

É um jogo que cativa muito e no universo das pessoas que jogam se têm todo o tipo de gente. Em media, pessoas mais introvertidas gostam do jogo de xadrez. Mas há pessoas que são muito extrovertidas como um Serawan que fala muito bem com o público, vários jogadores brasileiros que se relacionam muito bem com todo mundo.

Existem pessoas que veem no xadrez um porto seguro muito interessante porque é um jogo onde elas não dependem de ninguém, onde elas podem treinar sozinhas, o jogo tem uma beleza, tem um lado artístico que dá prazer, elas podem jogar os campeonatos. Mas a verdade é que a comunidade do xadrez é muito extrovertida entre si. Então, todo jogador acaba se conversando, tem uma cordialidade. O lema da Federação Internacional de Xadrez – Fide, “Gens Una Sumus” [Somos Uma Família], é uma verdade. Os campeonatos são longos, as pessoas conversam, interagem, há a análise após a partida. Há uma socialização muito grande. Acho que o xadrez é um esporte muito sociável.

Naldo: Você já participou de muitos campeonatos e já venceu quase tudo, mas quais são os seus planos para o futuro?

Vescovi: Em termos competitivos os meus objetivos são claros. Quero me manter como um dos melhores jogadores do Brasil e da América do Sul por mais um bom tempo. Quero continuar defendendo os campeonatos brasileiros que jogar. Tenho títulos e quero continuar defendendo esses títulos. Quero ganhar mais títulos brasileiros.

O grande objetivo seria chegar à meta de 2.700 de rating. Penso que tenho condições. Falta um pouco de organização, de estrutura, planejamento de torneios, de treinamento, mas acho que, tecnicamente, tenho capacidade para chegar lá.

Naldo: Há alguma coisa que você gostaria de falar e que não foi perguntado?

Vescovi: O xadrez é fascinante, mas é pouco desenvolvido. Acho que as pessoas que estão engajadas estão começando a se conscientizar que é preciso profissionalizar o xadrez como um todo. Profissionalizar em vários sentidos, em termos de marketing, de promoção…

Tem um potencial muito grande. É uma ferramenta que tem alcance universal por conta da internet. É uma coisa que é importante para a educação. Esses projetos de xadrez escolar foram muito bons.

É preciso, também, valorizar os jogadores, dirigentes, organizadores… Acho que precisa haver uma interação maior. Penso que, por exemplo, quem faz um trabalho em escola, muito legal. Mas ah! Convida um Mestre para apresentação, uma simultânea, uma palestra. Tantas escolas, tantos jogadores bons no Brasil. Acho que são esses jogadores que motivam as crianças, novos talentos.

Penso que falta um pouco de novas ações. Acho que quando essas ações começarem a acontecer e quando o xadrez escolar começar a ter uma ligação com o xadrez de competição, para aqueles que se interessarem, penso que nós teremos muito a crescer.

Empresas trabalham com xadrez sem saber. Fazem todas as ações. Acho que os Mestres e Grandes Mestres deveriam vender mais, falar mais, fazer palestras para educadores, para empresários, para comunidades. Esse tipo de ação valoriza muito o jogador, a própria pessoa e o xadrez como um todo.

Minha dica seria essa: Trabalhar um pouco mais o marketing. E cada um pode fazer um pouco na sua cidade, no seu clube. É isso.

PESQUISADO E POSTADO, PELO PROF. FÁBIO MOTTA (ÁRBITRO DE XADREZ).
REFERÊNCIA:
Giovanni Vescovi joga xadrez desde 1987 e já participou de mais de 20 campeonatos mundiais. Foto: www.chessbase.com

Nessa entrevista realizada na sede do Clube de Xadrez de São Paulo, Vescovi comenta os benefícios do esporte, fala sobre os seus jogadores preferidos e diz que o xadrez está presente no marketing, mas está faltando marketing no xadrez

Naldo Gomes: Gostaria que você contasse um pouco da sua história no xadrez, uma breve biografia, e como você passou a se interessar por esse esporte.

Giovanni Vescovi: Eu jogo xadrez desde que me tenho por gente, para falar a verdade, porque era um jogo que o meu pai gostava quando garoto, mas nunca chegou a se dedicar. Era um hobby que ele acompanhava. E quando eu ainda era pequeno, tinha uns dois anos, em vez de ele ficar bravo quando eu derrubava as peças, resolveu me ensinar a montar o tabuleiro. E sempre que a gente ia jogar eu montava o tabuleiro. Depois, ele resolveu me ensinar a mexer as peças e assim, com três ou quatro anos, eu comecei a jogar.


Eu jogava em casa, como passa-tempo. Com oito eu fui para o Clube Paulistano de São Paulo e lá eu comecei a ter algumas aulas de xadrez. E com isso, eu passei a me dedicar um pouco mais, eu via como eram o treinamento, as competições. Eu passei a gostar muito do ambiente. Uma das coisas que mais me motivaram foi o ambiente, os amigos que eu fiz lá no clube e as viagens. Então, isso daí foi um momento importante para eu começar a jogar.

Naldo: Que benefícios o xadrez trouxe para a sua vida?

Vescovi: É sempre difícil eu responder essa questão porque eu sempre joguei xadrez. Então, é aquela história que se repete: “A vida não é feita de sonhos”, aquela história do livro do Kundera em “A Insustentável Leveza do Ser”. Não sei, o que seria não é?

Eu sempre gostei muito, sempre fui muito responsável, eu sempre fui muito bom para pegar a essência das coisas. Eu nunca tive problemas de entender matérias.


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O aprendizado de qualquer assunto para mim, sempre foi muito fácil. Entender a lógica, o sentido das coisas. Então, acho que isso é uma característica muito comum em jogadores de xadrez. Eles pegam aquilo que é essencial, priorizam bem, tem um raciocínio lógico bastante bom. Eu sempre tive muita facilidade com matérias exatas, idiomas sempre foram muito fáceis para mim.

Nunca me dei bem com biológicas, matérias de decorar algumas coisas como as famílias de não sei o quê, espécie não sei o quê, nunca soube nada disso. Você pode achar curioso porque tem tanta linha para decorar no xadrez.

Mas as linhas de abertura, você as estuda e todas têm uma razão de ser. Agora, nome, não tem. Então, acho que, por isso, nunca gostei muito de biologia. Mas acho que em geral, o xadrez trouxe muitos benefícios para mim.

Naldo: Que benefícios o xadrez pode trazer para a sociedade? De todas essas coisas que se fala por aí como, “o xadrez melhora o ensino da matemática”, “o xadrez melhora a lógica”, “melhora a habilidade de prever consequências”, é tudo verdade ou é tudo mito?

Vescovi: Acredito que é muita verdade isso tudo. Há muitos estudos em andamento que comprovam. Boa parte disso aí é comprovada estatisticamente, então, não é um “achismo”. E esses estudos estão no mundo inteiro.

Recentemente, eu entrei no site Chess In The Schools, lá dos Estados Unidos, é lá tem trabalhos de 20 anos. E eles já fizeram muitos trabalhos científicos. Cerca de 400 mil crianças já passaram pelos estudos deles. Escolas problemáticas, crianças problemáticas do Brooklin. Então, foi constatado que houve uma melhora significativa no rendimento escolar.

Agora, penso que não só essa parte de rendimento escolar deveria ser levada em conta para avaliar os projetos de inserção do xadrez. Acho que é muito benéfico para o praticante de xadrez as consciências dos atos, a responsabilidade pelos próprios erros, a verdade quanto a autocrítica. O xadrez é um jogo que não admite muitas mentiras. Se você erra, tem que saber que está errando e que corre o risco de ser pego nesse erro.

Então, na medida em que você evolui como jogador vai se dedicando e começa a conhecer um pouco mais de xadrez. Você vai, cada vez mais, incorporando essas características no seu comportamento. O respeito ao próximo, você se coloca na posição do outro: “Se eu fizer isso qual seria a melhor reação do meu adversário?”, porque não posso esperar dele a pior resposta, ele vai sempre jogar a melhor resposta.

Essa dialética que o jogo tem você trás para a sua vida. Isso daí é muito positivo quando se fala em posicionamento estratégico. Em marketing, se usa muitos elementos que são do cotidiano de um jogador de xadrez. Coisas que a gente faz o tempo todo como: Planejamento, avaliação, análise, consideração sobre o adversário, o foco nos objetivos, a atenção aos elementos externos. A gente ganha muito com o jogo de xadrez. Essa é a minha visão.

Penso que o que esses projetos precisam é serem um pouco mais desenvolvidos. Porque, claro, não se quer criar campeões quando se apresenta o xadrez nas escolas ou o xadrez para crianças. Mas uma criança, muitas vezes, participa desses projetos e ela sai sem saber muito bem o que é o xadrez. Ela aprende os rudimentos, mas não é um negócio que ficou muito claro para ela, o porquê ela aprendeu aquilo. Ou, não é uma prática que se torna constante na vida dela e por isso, pode ser que ela não atinja totalmente os objetivos.

Certamente, se essas crianças tiverem mais oportunidades de ingressar no jogo, de se dedicar um pouco mais, conhecer um pouco mais, e aí eu acho que os educadores precisam estar mais capacitados para isso, penso que toda criança que tem uma força de 1.600 ou 1.800 de rating, ela leva isso para o resto da vida de uma forma…

Não conheço um jogador que tivesse mais de 1.800 de rating que resolveu fazer outra coisa e não foi bem sucedido.

Naldo: Você tem uma ideia de quantos campeonatos já participou e quais as melhores colocações que atingiu?

Vescovi: É difícil enumerar porque eu jogo desde 1987. Então, são 23 anos competindo oficialmente. Existem os campeonatos oficiais, os abertos, os torneios de grandes mestres.

Sou o número 1 do Brasil desde 2001 ou 2002. São praticamente oito anos com uma ou outra lista que me passaram na frente. Isso daí já reflete muita coisa e ser o número 1 do Brasil e número 1 da América do Sul por tanto tempo já representa algo.

Mas eu ganhei sete Campeonatos Brasileiros Absolutos. Um dos principais foi o mundial juvenil por equipes. Joguei mais de 20 mundiais, já perdi a conta. Mundiais de menores eu participei de uns 15 pelo Brasil em diversas categorias. Acho que em oito ocasiões fiquei entre os cinco primeiros. Então, são resultados bastante expressivos.

Tem os campeonatos nacionais que eu ganhei. Tem os Pan-Americanos. Tem Campeão Pan-Americano Juvenil e mais quatro Campeonatos Pan-Americanos de outras categorias. Ganhei três torneios importantes fechados em Bermudas, que foram os torneios fechados mais fortes do continente Americano. Alguns torneios bastante bons.

Naldo: Eu imagino que no começo da sua carreira como enxadrista você deva ter sentido nervosismo durante as partidas. Que emoções um jogador de xadrez sente durante partidas importantes? Essas emoções, em você, continuam as mesmas ou depois de tantos anos decorridos isso mudou?

Vescovi: Depois de tanto tempo eu aprendia a lidar com muitas coisas. Agora, essas sensações voltam… A ansiedade…

Claro que, antes eram mais fortes. Por exemplo, eu ficava nervoso e hoje, o pessoal me vê muito sério, compenetrado, meio frio. Mas eu fico tenso, fico nervoso, ansioso.

Eu aprendi a controlar isso. Tive um amigo que me treinou bastante a parte de respiração, que é uma ferramenta muito boa para baixar o batimento cardíaco. Isso é um método de controlar o nervosismo. Agora, tenho vários outros tipos de emoções. Aquela emoção de achar que a partida está ganha e perder a partida. Aconteceu muitas vezes, depois de ter me tornado Grande Mestre…

Tenho que me policiar: “Opa, essa sensação é aquela mesma sensação de outras partidas. Então, preciso redobrar a minha atenção nesse momento para não estragar a partida”. Então, eu fui aprendendo no caminho.

O enxadrista se for bem orientado, aprende muito em termos de autoconhecimento e autocontrole. Tem gente que não presta atenção nesse detalhe, então corre muito o risco de ir para o extremo oposto e ficar muito xarope mesmo, ficar totalmente desequilibrado emocionalmente.

Então, saber controlar as emoções mesmo em situações adversas, isso é importante para um jogador.

Naldo: Hoje você vive somente do xadrez?

Vescovi: Sim, hoje eu sou um profissional do xadrez.

Naldo: Você falou sobre esse treinamento da respiração. Mas que outros tipos de treinamento um jogador de xadrez tem?

Vescovi: O treinamento de um jogador é muito técnico. Então, ele tem que treinar muitas horas e tem que dedicar, pelo menos, uma hora por dia para um exercício de condicionamento físico. Isso seria o básico.

Depois, como um esporte que exige muito intelectualmente, saber tirar férias no dia é importante. Saber a hora de relaxar, de tirar da tomada… É assistir um filme, ler, espairecer, caminhar… Muitos jogadores de altíssimo nível fazem caminhadas. Então, penso que isso são coisas importantes.

Hoje também tenho outra faceta. Eu não sou somente um jogador embora quisesse me dedicar mais como jogador. Às vezes a falta de patrocínio acaba atrapalhando alguns projetos.

Mas estou com muitos projetos, com a missão de promover o xadrez, fazer o xadrez crescer no Brasil. Isso é um projeto pessoal que pode render muitos frutos para o xadrez. Vai ser muito bom se a gente conseguir conquistar o lugar que o xadrez merece.

Naldo: Você utiliza softwares para treinamento?

Vescovi: Utilizo muito pouco. Não sei trabalhar muito bem com computador e para mim, o melhor método de trabalho para quem joga, é estar com um treinador.

Penso que todo jogador precisa de alguém que o treine. E a função do treinador é, muito, trabalhar com o computador. Fazer a máquina melhorar o rendimento do jogador. Como?

Prefiro pensar sem o computador. Prefiro, às vezes, pensar sem o tabuleiro, também. Ficar imaginando: “Se eu fizer isso, vai acontecer aquilo… pá… pá… pá…”, tentar descobrir a lógica por ordem de lances, as ideias, os temas, coisas que o computador, às vezes, te dá na mão. Ele vê muito mais rápido essas coisas.

Só que, se não se exercita, você não evolui. O computador te prepara e você vai saber muita coisa. O computador ajuda se você não tem uma pessoa para trabalhar. É muito positivo. O computador vai te forçar a pensar. Mas se você só esperar do computador e se não for proativo, esquece… Você vai receber um monte de informação, complementar algumas, ganhar uma partida bem preparada, mas como jogador, não vai aprender a resolver problemas.

Naldo: Em que grande jogador do passado ou da atualidade você se espelha?

Vescovi: Eu gosto de vários. Muitos campeões mundiais são ícones, são ídolos. Eu acho que o Lasker foi um… Mas eu não conheço tão bem esses jogadores. Eu aprendi a gostar do jogo do Petrosian também. Acho que ele era um cara muito forte, muito científico. Gosto de ver o estilo do Tal, mas não sei jogar no estilo do Tal, embora, às vezes, eu tente. É uma pergunta difícil essa.

Gosto muito do estilo do Karpov quando ele estava no topo. Hoje em dia o Aronian é um jogador muito interessante. São jogadores novos com um senso prático muito bom. Mas o Aronian tem um conhecimento de xadrez, ele é da escola Armênia que é uma escola muito forte.

O meu estilo também não é muito claro.

Naldo: Você é tático ou estratégico?

Vescovi: Eu sempre calculei razoavelmente bem, então sempre fui considerado um bom tático. Mas acho que o meu forte é o jogo posicional, de pressão.

Naldo: Quantas jogadas você consegue ver à frente?

Vescovi: Essa é aquela pergunta padrão. É uma pergunta que para um enxadrista não faz muito sentido porque se eu consigo jogar uma simultânea às cegas em dez tabuleiros, quantas jogadas eu posso ver? Cinquenta, cem, quantas forem. Se eu for indo, numa sequência, uma atrás da outra… Vou mudando os cenários, os diagramas, na minha cabeça, a cada lance. Então, não é difícil ver várias jogadas à frente.

Agora, o difícil é ver jogadas boas. Essa é que é a grande questão. O difícil é fazer lances bons e cálculos corretos. Então, dizem e deve ser verdade, que é pouco prático, na maioria dos casos, se fazer uma análise de dez lances, porque a chance de existir um erro a partir do quarto é muito grande, mesmo para jogadores muito fortes. Cálculos muito bons, muito bem feitos, de três ou quatro lances são o suficiente para se tornar um Grande Mestre.

Naldo: Você não citou o Kasparov entre os melhores jogadores…

Vescovi: O Kasparov, na minha opinião, é o melhor de todos.

Naldo: Mas ele perdeu para a máquina.

Vescovi: Isso não é muito… Assim, foi um marco na história da humanidade e do xadrez…

Naldo: Você acha que havia um Grande Mestre atrás da máquina?

Vescovi: Não, durante o jogo não.

Naldo: Mas o que foi aquela jogada mágica do computador?

Vescovi: Não, aquilo foi uma jogada que qualquer computador consegue calcular. Não precisava ser o Deep Blue para verificar isso. É claro que, talvez, dentro da preparação do computador houvesse. Mas mesmo se tivesse um Grande Mestre atrás da máquina, ele poderia ter feito o computador jogar outro lance, não aquele. Ele vai achar que tem compensação, mas porque é que ele iria arriscar tanto numa última partida de brancas onde não precisaria… O computador calculou tudo aquilo.

Agora, foi estupidez do Kasparov jogar aquela linha. Foi uma linha horrível, não tem nada a ver com o jogo dele.

Penso que o Kasparov foi, sem dúvida, o melhor de todos até hoje. Mas ele mostrou um xadrez de muita energia. O xadrez do Kasparov é energia pura. Ele é um jogador que precisava estar com a cabeça preparada para a luta, para querer ganhar, com a faca nos dentes, com sangue nos olhos. Mas se ele estava com o emocional em baixa…

Só que ele sempre se cuidou para poder estar sempre tranquilo. Então, o math que ele perdeu para o Kramnik… Um ou outro math… São momentos interessantes para se analisar. Mas o Kasparov foi, sem dúvida, o melhor de todos em termos competitivos.

Porém, tecnicamente, ele não tinha finais tão bonitos. As aberturas dele, sempre fantásticas. O meio de jogo dele, muito criativo. Mas ele não me parecia um jogador muito técnico e nesse sentido, um Karpov da vida é muito melhor.

Naldo: O xadrez é um esporte que usa muita matemática e muita lógica. Mas eu gostaria de saber sobre o lado humano do xadrez. Quem são as pessoas que jogam xadrez? Eles têm um perfil mais introvertido ou extrovertido? Ou isso não tem nada a ver e o xadrez é esporte para todos os estilos?

Vescovi: É aquela pergunta: O xadrez deixa a pessoa mais inteligente? Não. Não deixa. O que acontece é que muitas pessoas inteligentes gostam de jogar xadrez e começam a jogar. Depois eles se interessam e continuam jogando. Acham o jogo interessante, fascinante. Não é à toa que o xadrez é um jogo de 1.500 anos com as mesmas regras e sempre tem coisa nova, sempre tem coisa interessante.

É um jogo que cativa muito e no universo das pessoas que jogam se têm todo o tipo de gente. Em media, pessoas mais introvertidas gostam do jogo de xadrez. Mas há pessoas que são muito extrovertidas como um Serawan que fala muito bem com o público, vários jogadores brasileiros que se relacionam muito bem com todo mundo.

Existem pessoas que veem no xadrez um porto seguro muito interessante porque é um jogo onde elas não dependem de ninguém, onde elas podem treinar sozinhas, o jogo tem uma beleza, tem um lado artístico que dá prazer, elas podem jogar os campeonatos. Mas a verdade é que a comunidade do xadrez é muito extrovertida entre si. Então, todo jogador acaba se conversando, tem uma cordialidade. O lema da Federação Internacional de Xadrez – Fide, “Gens Una Sumus” [Somos Uma Família], é uma verdade. Os campeonatos são longos, as pessoas conversam, interagem, há a análise após a partida. Há uma socialização muito grande. Acho que o xadrez é um esporte muito sociável.

Naldo: Você já participou de muitos campeonatos e já venceu quase tudo, mas quais são os seus planos para o futuro?

Vescovi: Em termos competitivos os meus objetivos são claros. Quero me manter como um dos melhores jogadores do Brasil e da América do Sul por mais um bom tempo. Quero continuar defendendo os campeonatos brasileiros que jogar. Tenho títulos e quero continuar defendendo esses títulos. Quero ganhar mais títulos brasileiros.

O grande objetivo seria chegar à meta de 2.700 de rating. Penso que tenho condições. Falta um pouco de organização, de estrutura, planejamento de torneios, de treinamento, mas acho que, tecnicamente, tenho capacidade para chegar lá.

Naldo: Há alguma coisa que você gostaria de falar e que não foi perguntado?

Vescovi: O xadrez é fascinante, mas é pouco desenvolvido. Acho que as pessoas que estão engajadas estão começando a se conscientizar que é preciso profissionalizar o xadrez como um todo. Profissionalizar em vários sentidos, em termos de marketing, de promoção…

Tem um potencial muito grande. É uma ferramenta que tem alcance universal por conta da internet. É uma coisa que é importante para a educação. Esses projetos de xadrez escolar foram muito bons.

É preciso, também, valorizar os jogadores, dirigentes, organizadores… Acho que precisa haver uma interação maior. Penso que, por exemplo, quem faz um trabalho em escola, muito legal. Mas ah! Convida um Mestre para apresentação, uma simultânea, uma palestra. Tantas escolas, tantos jogadores bons no Brasil. Acho que são esses jogadores que motivam as crianças, novos talentos.

Penso que falta um pouco de novas ações. Acho que quando essas ações começarem a acontecer e quando o xadrez escolar começar a ter uma ligação com o xadrez de competição, para aqueles que se interessarem, penso que nós teremos muito a crescer.

Empresas trabalham com xadrez sem saber. Fazem todas as ações. Acho que os Mestres e Grandes Mestres deveriam vender mais, falar mais, fazer palestras para educadores, para empresários, para comunidades. Esse tipo de ação valoriza muito o jogador, a própria pessoa e o xadrez como um todo.

Minha dica seria essa: Trabalhar um pouco mais o marketing. E cada um pode fazer um pouco na sua cidade, no seu clube. É isso.


PESQUISADO E POSTADO, PELO PROF. FÁBIO MOTTA (ÁRBITRO DE XADREZ)
REFERÊNCIA:
http://gomesnaldo.wordpress.com/2010/05/29/jornalismo-freelance-entrevista-giovanni-vescovi/

ENTREVISTA 20 - JÉSSICA TRINDADE HUBNER.

ENTREVISTADOR - MESTRE FIDE E ÁRBITRO FIDE: EDUARDO ARRUDA - XADREZ.

FOTO DA JOVEM ENXADRISTA JÉSSICA.

A Jéssica é uma talentosa jogadora, que nunca estudou xadrez e tem 1557 de rating FEXERJ. No, dia 3 de setembro desse ano, ela completara 18 anos, ela me concedeu gentilmente uma entrevista via MSN no dia de hoje.
(perguntas minhas em preto respostas dela em vermelho).

01) Qual seu nome e onde você mora?
Jéssica Trindade Hubner. Frade-Angra dos Reis.
Você joga xadrez a quanto tempo?
4 anos e 9 meses + ou -

02) Você joga por qual clube?
IBC.

03) Você jogou o ultimo Regional de Angra dos Reis?
sim.

04) Como e quando você soube do torneio?
O Miguel ligou pra minha casa, na quinta-feira(27/05/2010).

05) Você jogou o Regional de Angra de 2009?
Sim.
O de 2009. Eu joguei, teve quase 40 pessoas; tinha biscoito e torradinha para os participantes

06) E o de 2010?
O de 2010,creio que teve 18 participantes.. teve café para os participantes... creio que teve biscoitos também.
Ah... e todos os inscritos jogaram.. até a ultima partida.

07) O de 2009 somente mudou o horário das rodadas em razão ao almoço e o de 2010 as rodadas começaram na hora?
O de 2010 estava marcado para iniciar às 14:00... não me lembro bem o horário que começou. Só me lembro que já estava escuro quando a segunda rodada começou.

08) A rodada então atrasou?
Não... o torneio que começou tarde mesmo.

09) Não começou às 14 foi isso?
É.

10) Você jogou contra alguém forte?
Joguei...

11) Com quem?
Primeira Rodada com o José Jorge De Carvalho.

12)Ele é bem forte e como foi?
Foi legal... errei bastante,mas deu para aprender um pouco com meus erros.
A 3ª 4ª 5ª e 6ª rodada iniciaram no horario programado ou atrazaram tb?
a terceira foi logo após a segunda.. ( Sábado) a 4ª iniciou + ou - no horário sim. pois.. logo após teve o intervalo para o almoço.

13) Sua partida da terceira rodada acabou mais ou menos a que horas?
Umas 21:30 + ou -

14) Como estava o tempo em Angra nos dias do torneio?
Estava bom... no domingo antes do torneio, alguns participantes tomaram banho de praia.

15)Seu rating é de classe C quase B vc estuda xadrez?
C.
Não sou muito de estudar... Eu apenas jogo.

16) Você pretende jogar algum outro regional pra tentar se classificar para o interior?
Não... Pretendo ir ao Estadual Feminino.

17) Tem mais alguma coisa que você queira acrescentar, sobre você ou xadrez?
Não.
rs

18) Eu acho você muito talentosa, se você estudar um pouquinho seu xadrez melhora muito. Obrigado pela entrevista.
De nada.

PESQUISADO, PELO PROF. FÁBIO MOTTA (ÁRBITRO DE XADREZ).
REFERÊNCIA:
http://xadrezz.blogspot.com/2010/06/entrevista-com-jessica-trindade-hubner.html

segunda-feira, 5 de julho de 2010

ENTREVISTA 19 - AGATHA HURBA NUNES, CAMPEÃ BRASILEIRA SUB-12.

AGATHA HURBA NUNES, MEDALHA FEMININO, DO V TORNEIO MEMORIAL AP. GUIMARÃES, EM SÃO PAULO, 8 DE JUNHO DE 2008.

A campeã brasileira de xadrez sub-12/2010, Agatha Hurba Nunes e sua mãe, Marina Hurba Nunes falam, ao blog Jornalismo Freelance, sobre treinamento, jogos, campeonatos e os benefícios do esporte.

Agatha venceu o Brasileiro Sub-12 e treina para vencer outros campeonatos.


01) Naldo Gomes: Como você encontrou o xadrez na sua vida?

Agatha Hurba Nunes: Quando eu era criança meu pai tinha um tabuleiro, mas não sabia jogar direito. Ele só sabia mover as peças. E quando… Eu tenho dois irmãos mais velhos. Meu pai mostrou o xadrez para eles, quando eu ainda não era nascida. Eles não se interessaram muito quando eram mais novos. Mas à medida que foram ficando mais velhos, foram se interessando. O Alan e o Guilherme jogavam em casa, mas depois descobriram torneios que tinham no Clube de Xadrez e começaram a jogar.
Quando eu tinha três anos, eu os via jogando e tinha vontade de aprender. Meu pai não queria me ensinar, mas eu chorava para aprender. Eu queria por que queria aprender. E teve um dia que ele me ensinou. Eu tinha uns três anos. Ele me ensinou a mover as peças. Eu ainda não sabia ler e escrever e não havia entrado na escola.
Com quatro anos eu já sabia mexer as peças e eu fui gostando muito de xadrez. Aos cinco anos participei do meu primeiro torneio. Era um torneio bem grande onde havia várias pessoas, e como eu era bem iniciante não ganhava nenhuma. E na última rodada, na última partida do torneio eu consegui empatar a partida e…
Num primeiro torneio, empatar uma partida foi muito bom para mim e eu gostei muito. E como eu era pequenininha no meio de pessoas bem maiores do que eu, me deram um prêmio – um DVD – de melhor jogadora do torneio. Até fizeram uma entrevista, também. E aí eu fui começando a gostar, treinar, jogar melhor. E comecei a participar do [Campeonato] Paulista e do Brasileiro.
Quando eu tinha oito ou sete anos eu ganhei o Paulista. Quando eu tinha oito anos eu fui vice-brasileira. Foi um desempate com outra garota e eu acabei perdendo esse desempate. Mas foram nove partidas para desempatar e aí, eu acabei perdendo e fiquei em segundo lugar.
Continuei jogando e ficando em vice, terceiro, fui treinando e jogando. Esse ano, no Paulista, eu fiquei em terceiro lugar. Agora [2010], no Brasileiro, faz um mês, mais ou menos, eu fui jogando e jogando, ganhei de várias pessoas, no final, eu não perdi nenhuma e ganhei o torneio. E fiquei muito feliz.
E aí eu fui campeã e fiquei numa felicidade enorme porque eu nunca tinha ganhado um Campeonato Brasileiro. E agora eu estou jogando vários torneios: Pensado, vinte minutos, porque eu estou tentando ir para o Pan-americano que vai ser, mais ou menos, em agosto. É essa a história.

02) NG: Gostaria que você me respondesse agora: Como é que fica o coração de uma mãe durante um torneio como esse?

Marina Hurba Nunes: Nossa! É uma emoção muito grande, mistura emoção com nervosismo, felicidade. Aquela partida, você chora de emoção, chora de tristeza, de espera. É uma emoção muito legal. Perdendo, ganhando ou empatando, não tem explicação, é muito bom.

03) NG: Sabemos que o xadrez pode trazer inúmeros benefícios para uma pessoa e até para uma família. Como o xadrez funciona – nesse sentido – na família de vocês? Que benefícios o xadrez trouxe à sua família?

MHU: Ah! Trouxe muitos. Até a união, a gente participa de torneios juntos, levamos os três filhos, o meu marido também joga, eu também já participei. Já teve torneios em que a família toda participou. Nós cinco, uma equipe. Então, é muito legal. E na escola também, o desempenho dela em matemática. Ela tem sempre as melhores notas. Em outras matérias, os professores falam que ela pega tudo na hora. E ajuda muito, em tudo.

04) NG: Tem algum jogador ou jogadora do passado ou da atualidade em que você se espelha e que você fala: “Ah! Eu quero ser que nem ele”?

AHU: Ah! Eu gosto bastante da Amanda [Marques], ela joga muito bem. Da Juliana Terao… E a Judit Polgar.

PESQUISADO E POSTADO, PELO PROF. FÁBIO MOTTA (ÁRBITRO DE XADREZ).
REFERÊNCIA:
http://gomesnaldo.wordpress.com/2010/05/22/entrevista-campea-brasileira-xadrez-agatha-hurba-nunes/
http://www.gxbg.com.br/abertos/2008/0806guimaraes/fotos_1.html

ENTREVISTA 18 - ALEXEI SHIROV.

Postado em Thu 12 Feb 2009 por muniz555 (2110 acessos)
Entrevista realizada por Vanessa R. M. para o site Zona de Ajedrez.

Poder conhecer o grande mestre Alexei Shirov longe de um tabuleiro; os motivos pelos quais foi viver na Espanha, suas viagens, sua família... uma pessoa, antes de mais nada, próxima, para quem os aficionados ocupam um lugar importante. Como podereis comprovar, o tom da entrevista é um tanto coloquial por ter sido feita por skype. Daí os erros ao transcrevê-la. Alexei Shirov teve a amabilidade de corrigí-la. Ele mesmo e enviar-nos rapidamente de volta.




01) Qual foi a razão pela qual vieste viver na Espanha?

Bom, no ano de 1993, quando conheci minha futura esposa, a mãe de Natalia, a pergunta era: onde viver? porque na ex-União soviética era um pouco difícil montar uma vida ali, sobretudo para os estrangeiros, e viver na argentina para mim também era difícil porque minha vida estava centrada na Europa; por isso decidimos viver na Espanha, porque é um país de fala hispana e eu já comecei a estudar espanhol.
A mim me interessava este país e me pareceu interessante tentar viver aqui. Depois, outra história foi no ano de 1995, quando me propuseram que me nacionalizasse espanhol. Mas esta segunda decisão não teve muito a ver com a primeira; a primeira decisão foi viver na Espanha e, depois, quando tive alguns problemas na letônia (...bom, é um pouco difícil de explicar), pensei que, já que decidi viver na Espanha e me oferecem ter o passaporte, além de ser interessante estar na equipe olímpica espanhola, pensei que havia mais prós do que contras, pelo que, no ano de 96, me nacionalizei espanhol.

02) Que diferenças encontras entre Letônia e Espanha?

Falando de cultura, a gente da Letônia é mais nórdica, pelo que é mais parecida com suecos; a gente da Espanha é mais impulsiva, de alguma maneira. Referimos-nos a outra mentalidade, para mim, a mentalidade da gente da Espanha é mais sã do que a da gente de meu país natal, mas, pelas experiências que tive com a gente, prefiro não julgar, nem aos grupos étnicos, nem às nações. Mas a vida é um pouco diferente pelo clima, os costumes... Na Letônia, a gente se adaptou à vida ocidental faz mais de 10 anos, mais tarde do que na Espanha.

03) Te sentes espanhol?

Eu me sinto um homem do mundo. Posso-me situar em qualquer lugar, sou de pais que nasceram na Rússia, eu nasci na Letônia, mas vivi em todas as partes, na Espanha também; A Espanha foi um dos países mais importantes para mim. Que vou te dizer?!... Eu creio que "me viro" mais ou menos na Espanha, ainda que me falte pronunciar bem as palavras, mas em russo falo da mesma forma que em espanhol, com erros... mas mais ou menos me mentalizei como vocês, compartilho de muitas coisas convosco, ainda que há muitas coisas que são de minha mentalidade russa, o que também é normal. Eu quero ser o mais global que possa, mas, a partir do momento em que sou russo e nacionalizado espanhol, não posso ser mais global... a vida é curta.

04) Devido a teu trabalho, tens que realizar muitas viagens. Como tua família lida com isso?

Bom, agora mesmo eu não estou casado; minha noiva vive na Rússia e as viagens que tenho que fazer não são somente devido aos torneios, são também para vê-la. Num futuro, me agradaria ter a vida mais centrada em um só lugar, mas já me acostumei a viajar; minha vida é isto: torneios, viagens a visitar meus filhos, viagens a visitar a minha noiva... Entretanto, suponho que em algum momento será mais interessante estar centrado em um só lugar, ter a tua família aí, jogar menos torneios, fazer mais trabalho em casa, como escrever livros, dar aulas pela internet... Mas agora estou no período de viajar, e não vou dizer que não me agrade, com isso não te aborreces.




05) Quando não estás trabalhando, a que dedicas teu tempo?

Agrada-me praticar esportes e me agradaria escrever mais livros sobre xadrez, ainda que agora mesmo não tenha tempo para escrever. Tenho muitos projetos em minha cabeça, mas não tenho nem tempo nem energia para tratar deles.

06) Que me contas de Shirovonline?

É uma escola que cuido muito como está funcionando, mas se dedica mais ao ensino a nível principiante e, para isso, há professores e monitores. Para mim ainda é um pouco difícil começar com o ensino no nível mais básico. De vez em quando, posso visitar um colégio e ver os meninos que se interessam pelo xadrez, e explicar-lhes qualquer coisa de nível básico, mas isso é mais por prazer.

07) Te propuseste alguma vez deixar o xadrez?

Neste momento, não quero nem pensar nisso, porque pensei nisso várias vezes ao longo de minha vida e sempre pioraram meus resultados. E, como tenho muitas ambições desportivas para 2009, não quero pensar no que vou fazer em 2010.

08) Como te preparas para um torneio?

Como todos: vejo as aberturas que jogo com o treinador, vejo as partidas de outros grandes mestres... Se tenho alguma ideia, comprovo-a com o computador e, alem disso, tenho que estar em boa forma física e mental para enfrentar-me a uma partida dura.
Não creio que tenha uma preparação especial, e se a tivesse, não diria.

09) Ao enxadrista profissional lhe incomoda ou distrai a presença de aficionados nos torneios?

Não; eu me sinto apoiado quando vejo que há gente que olha minhas partidas. Claro que, às vezes, as perguntas que fazem os aficionados não são as que queres ouvir, mas não se pode dar importância a isso. A mim me agrada quando há aficionados; jogar torneios onde só há enxadristas, analistas e jornalistas é demais. Se ganhas tua partida, os analistas te olham com cara feia e os jornalistas vão te fazer as perguntas mais tontas



10) Por outro lado, na Espanha não há muitos aficionados ao xadrez que vão ver torneios. A que acreditas que se deve isso?

No ano passado, joguei em Linares e sei que há muita gente no mundo que gostaria de assistir a este torneio, mas talvez o torneio não esteja bem enfocado como espetáculo. As partidas são muito lentas, não podes estar meia hora esperando uma jogada. Há oito anos, apresentei uma ideia na qual expunha que uma partida não poderia durar mais de duas horas, mas outros jogadores de xadrez não a apoiaram porque lhes agrada pensar bem uma jogada. Bem, a mim também me agrada, mas temos que pensar na imagem que passamos, temos que dar espetáculo. Disseram-me que se jogássemos a um minuto daríamos mais espetáculo, mas não é preciso chegar ao extremo. Creio que 40 min mais 30 segundos por jogada é um bom ritmo para desfrutar de uma partida interessante, e os aficionados podem segui-la e não se aborrecem.
Se Linares fizesse isso, muita gente estaria disposta a vir, não só da Espanha, mas de outros países. Mas o mal de hoje é que a gente não pensa, prefere tomar uma decisão em 50 segundos e, às vezes, essas decisões estão bastante mal pensadas, e isso também acontece com os diretores do xadrez atual. Às vezes, fazem torneios que são pouco interessantes para o público e eles dizem que o pessoal olha as partidas pela internet desde sua casa, o que não é a mesma coisa. Para mim, a coisa está clara: há que fazer algo mais rápido. Tu acreditas que um aficionado vai olhar uma partida de 6 horas quando uma partida de futebol não chega a duas?

11) Agora há muitos aficionados que jogam pela internet a três minutos. Isso é xadrez?

Bom, inclusive a um minuto, mas isso não é xadrez. Eu, por exemplo, que sou um bom enxadrista, não vou jogar em um ritmo em que posso vir a ter uma posição ganha e fatalmente vou perder por tempo. Numa partida rápida, não importa a posição, mas a rapidez. Isso eu não entendo.

12) Jogas xadrez pela internet?

Antes sim, agora não. Encontrei outros gostos na vida; sempre me agradou fazer coisas novas. No ano de 95, tinha pouca gente que jogava xadrez pela internet, era algo muito novo, mas hoje em dia quase todo mundo o faz, e é um pouco aborrecido. Jogar xadrez rápido na internet já não é algo novo.

13) Ensinaste teus filhos a jogar xadrez?

Sim, todos meus filhos sabem jogar, mas não sei se algum se dedicará a isso. Por exemplo, minha filha maior não tem muito interesse, agora está estudando num colégio, é um pouco tarde para isso; mas ela sabe jogar e acompanha meus torneios, e isso é importante. Meus outros filhos talvez possam vir a jogar algo mais, mas não me atrevo a dizer se vão ser bons enxadristas ou não. Serão suas mães e não eu quem vai decidir se serão enxadristas ou não. Para mim, o mais importante é que todos os meus filhos sejam boas pessoas e encontrem seu caminho na vida; essas duas coisas são as importantes. Não creio que me agradasse que jogassem xadrez profissionalmente. Não é a todos que acontece o que aconteceu comigo; eu consegui sucesso, mas nem todo mundo pode ser profissional no xadrez. Para mim foi fácil, mas não o é para todo mundo. Se vejo que meus filhos podem chegar a um bom nível... bem, mas se não... o importante é que sejam felizes na vida. O xadrez foi um caminho na vida para muita gente.

14) Qual é tua melhor qualidade como enxadrista?

Não sei... eu creio que a agressividade, e o fato de me concentrar bem nos movimentos importantes.

15) E tua melhor qualidade como pessoa?

Eu não tenho nenhuma boa qualidade como pessoa. Tento não ser mau com os outros, mas não sei nem se o consigo.


16) Sabes que se fala muito da inferioridade da mulher no xadrez em relação ao homem. A que entendes que se deve esta inferioridade?

A mentalidade de querer ganhar é muito importante e isto é mais forte nos homens. As mulheres podem se dedicar a fazer outras coisas que o homem não pode fazer, como ter filhos, dar o peito... qualquer mulher pode chegar a bom nível em qualquer disciplina; de fato, Judit Polgar comprovou que pode chegar muito alto, mas a mesma Judit Polgar, quando teve filhos, baixou um pouco seu nível e isso é mais do que lógico.
Nem todas as mulheres podem dedicar tanto tempo ao xadrez como ela dedicou. Eu não posso dizer que as mulheres sejam menos inteligentes do que os homens, mas eu creio que não deveriam dedicar-se tanto a uma coisa só, como os homens. Por isso, no xadrez, ainda que possam jogar muito bem, algo lhes falta, e creio que é mais ou menos normal, ainda que cada vez as mulheres consigam mais êxitos no xadrez masculino. Em toda minha vida, somente perdi para Judit Polgar, mas em dezembro do ano passado, de repente, perdi duas partidas semirrápidas para outras mulheres, e não sei o que me espera no futuro.

17) Manter uma amizade com um enxadrista com quem tens de se enfrentar pode ser prejudicial?

Não, por mim não há nenhum problema, e creio que para a maioria também não. Se tu jogas uma partida amistosa com teu amigo, também tentas ganhar. Por que não vai ser assim num torneio oficial? Podes ficar mal se ganhas uma partida importante e depois vês teu amigo triste, mas não dependemos de uma única partida.

18) Com que enxadrista te sentes mais cômodo jogando?

Para mim é um pouco mais incômodo jogar com enxadristas com os quais tenho problemas pessoais, mas, como tenho problemas pessoais com muito pouca gente no mundo, há poucos com os quais estes incômodos acontecem. Claro, com os mais fortes é algo mais incômodo porque é mais difícil ganhar a partida. Por exemplo, contra Ivanchuk perco quase sempre, mas estou cômodo jogando com ele.

19) Lês o que se escreve na imprensa ou na internet sobre ti?

Alguma coisa leio, mas, se são comentários tontos, deixo de lado. Antes prestava mais atenção a isso. Agora não. Já tenho 36 anos, tenho muita experiência na vida, agora fico com o que posso aprender como pessoa.

20) Foi muito aborrecedora a entrevista?

Hehe...não.

Estas são as 5 perguntas que selecionamos dos usuários de Zona de Ajedrez.

Pergunta realizada por pergoletti: Que luxo para zona, graças alexei por deixar que te perguntemos os aficionados. Minhas perguntas, porque são duas: O que pensas quando te chamam o Leonardo da Vinci do xadrez? E acreditas que já chegou ao cume de tua carreira como enxadrista?

Leontxo poderia ter uma linguagem mais ampla e não dizer sempre o mesmo, em minha opinião. É por Da Vinci, não sei...faz muito tempo que não vou a Louvres, mas me parece que o pintor trabalhava muito por encomendas. Eu gostaria de ser criativo na vida, não sei se vou conseguir um dia ou não.

O xadrez é tão dinâmico, que me parece pouco são pensar no tema do cume. Pelo momento, me sinto bem para os próximos torneios.

Pergunta realizada por GM Erpuxa: Obrigado Alexei por permitir ser entrevistado em Zona de Ajedrez. Tive a oportunidade de te ver no passado Festival do Hotel Bali em Benidorm, há alguns dias, e me surpreendeu gratamente tua amabilidade com todos os aficionados. Desta vez não cometerei o erro de falar-te em inglês, pois, como me disseste, és 100% espanhol, que fique bem claro a todos os amantes deste nobre jogo-esporte. Também quero aproveitar para dizer que tua decisão de apoiar a Ivanchuk no tema do controle antidoping me parece totalmente cavalheiresca. Minha pergunta é a seguinte: Pessoalmente, o que te satisfaz mais, uma partida posicional corretamente jogada ou outra que seja uma “casa de loucos” por suas espetaculares combinações?

Meu professor de xadrez mais importante, Vladimir Bagirov, sempre dizia que você tem que jogar o xadrez corretamente. Assim, creio que a vitória com o jogo mais preciso possível sempre dá maior satisfação. Mas, às vezes, é difícil ganhar com o jogo simples porque isso também simplifica a vida de teu adversário. E, procurando as complicações, pode-se afastar da precisão e perfeição e entrar em tremendas confusões, também ganhando no final. Creio que o aporte das boas ideias no tabuleiro, mais a precisão nos cálculos e avaliações, é o que mais se conta. Mas a forma de ganhar também depende muito de que tipo de erro cometa teu rival..

Pergunta realizada por Nogal: Estimado GM Shirov: Gostaria de saber que balanço você pode realizar de seus 20 anos de carreira enxadrística e, dentro dela, o que pensa que foi o melhor e o pior que você viveu no xadrez profissional? Muito obrigado!

É uma pergunta difícil porque estou acostumado a aceitar com acalma tanto êxitos como fracassos. Talvez o Cazorla 1998 (veja nota no final da entrevista) foi o melhor e o pior ao mesmo tempo, não creio que tenha que explicar porque...)

Pergunta realizada por Zerezov: Saudação de um admirador de seu jogo e de seu profissionalismo. Sendo presidente de um clube modesto, ao qual lhe agradaria algum dia alojar um campeonato nacional, gostaria de perguntar que requisitos teria que reunir para contar com a participação do melhor jogador nacional? Depois de contar com você na equipe olímpica, seu concurso no campeonato da Espanha (de novo) é provavelmente a notícia que espera o aficionado espanhol.

Sim, em 2002, joguei o campeonato nacional porque me ofereceram boas condições, o fixo etc. Eu fiquei contente com tudo, sobretudo por ter ganho, com 8,5 de 9. O resultado é um pouco difícil de ser batido, mas, por certo, não tenho nada contra em participar do campeonato pela segunda vez, com condições comparáveis àquelas. Ultimamente estou acostumado a jogar mais fora da Espanha, infelizmente.

Pergunta realizada por Cxe: Olá Alexei. Minha pergunta é o que se sente numa situação tão absurda como a da "Fraude de Cazorla"?

Sente-se que a vida é única e que a estou vivendo bem, apesar do que fizeram.

Obrigado, Alexei, por conceder-nos esta entrevista.

Nota 1: Todas as fotos desta entrevista foram feitas pela equipe de Zona de Ajedrez no Torneio Bali de Benidorm.


Nota 2:

Em 1998, Shirov disputou o match de Candidatos da PCA contra Vladimir Kramnik. Foram jogadas 10 partidas, Shirov venceu e empatou as demais. Com esse resultado, ganhou o direito de lutar pelo título, ostentado por Kasparov. Estava estipulado que o prêmio para o campeão seria de 2.000.000 de dólares, mas Kasparov colocou muitas dificuldades e as negociações se fizeram árduas. Diante de tantas dificuldades, o match foi cancelado, mas chega a grande surpresa... Kasparov aceita jogar pelo Campeonato da PCA, não com Shirov, mas com Kramnik, que aceita, sem muitos problemas, as condições de Kasparov. No entanto, contra todos os prognósticos, Kramnik derrota Kasparov.

Este fato foi considerado como um roubo, já que Kramnik não tinha ganho o direito de ser o aspirante. Toda esta trama passou à história como "A fraude de Cazorla". Segundo Shirov, o match em que enfrentou Kramnik foi organizado porque ninguém pensava que ele podia resultar vencedor e, por isso, Kasparov, posteriormente, colocou tantos entraves para enfrentá-lo. Inclusive colocou em dúvida a honrabilidade da vitória posterior de Kramnik sobre Kasparov, ao afirmar que algumas partidas foram jogadas de forma "rara".

Para ler a entrevista em espanhol, clique aqui.

Esta entrevista foi traduzida e publicada com a autorização dos administradores do site Zona de Ajedrez.

PESQUISADO E POSTADO, PELO PROF. FÁBIO MOTTA (ÁRBITRO DE XADREZ).
REFERÊNCIA:
http://www.torre21.com/modules/articles/article.php?id=68