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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

ENTREVISTA 7 - ROBERTO CARLOS HENGLES.


FOTO 7.
Entrevista - Roberto Carlos Hengles

Entrevista com o enxadrista Roberto Carlos Hengles (deficiente visual) que participou do Aberto do Brasil na cidade de Botucatu-SP de 21 a 23 de abril de 2006, num torneio de elevadíssimo nível técnico, fez três pontos em seis possíveis.
Trata-se de uma pessoa extremamente simpática, e muito bem humorada. Com rating FIDE de 1972, foi entrevistado por Cássio Roberto Pucci.

XR - Como você começou a jogar xadrez?

RC - Eu comecei a jogar xadrez na Biblioteca Municipal de Itapecerica da Serra-SP, onde eu moro, e lá que eu aprendi a movimentar as peças.Por volta dos 18 anos eu comecei a participar das competições, torneios, na Academia Borba Gato e no Clube de Xadrez de São Paulo.

XR - A deficiência visual, você já nasceu com ela, ou teve algum acidente ou doença, como isto ocorreu em sua vida?

RC - Não, eu sofri um acidente, graças a Deus eu enxerguei. Eu estou sem enxergar porque há 11 anos atrás eu levei um tiro em um assalto (Neste momento humoradamente, ele ressalvou: “Não era eu que estava assaltando não, me assaltaram”). Foi quando tomei o tiro que me fez perder a visão. A partir de então parei de jogar por cinco ou seis anos e depois eu comecei a jogar na biblioteca, na faculdade, nos torneios que aconteciam na FUP. Um torneio que é realizado entre as Faculdades de São Paulo. Houve numa ocasião até um desafio para mim, que se eu estivesse entre os primeiros colocados do evento estaria dispensado do pagamento da mensalidade e isto me ajudava.

XR - Do ponto de vista médico, a sua perda de visão é irreversível?

RC - Sim, pelo menos por enquanto não é possível voltar a enxergar, mas eu penso em duas coisas: -A medicina está avançando então é possível que no futuro através destes avanços eu volte a enxergar. E também que para Deus tudo é possível.

XR - Como foi então o seu processo de adaptação no xadrez após o acidente?

RC - Foi assim: eu já jogava xadrez, porém depois que eu sofri o acidente eu pensei “não posso mais jogar xadrez, eu jogo assim eventualmente, jogo com os amigos, mas torneios será muito difícil jogar”. Felizmente depois conheci o tabuleiro adaptado, relógio, pois até então eu jogava as partidas de memória. O que é muito difícil, jogar seis partidas de memória a partida inteira com 21 minutos. Quando soube desta adaptação comecei a jogar, um amigo meu me deu um tabuleiro adaptado e depois eu fui jogar um torneio numa associação CADEVI em São Paulo, foi quando eles me viram jogando e logo após teve o Campeonato Brasileiro de Deficientes Visuais no ano de 2000, foi minha primeira participação em competição oficial para deficientes visuais, fui vice-campeão. Depois fui melhorando, comprei um outro relógio e tabuleiro. Disputando o Campeonato Brasileiro me classifiquei para disputar o Campeonato Mundial na Espanha e a Olimpíada na Polônia com o vice-campeonato. Posteriormente comprei outro relógio e um tabuleiro de xadrez adaptados, que me ajudaram muito, já que muitas pessoas me enganavam, mentiam com relação ao tempo, quando eu perguntava me diziam: “você tem cinco minutos” e me obrigavam a jogar rápido, na outra pergunta: “você tem dez minutos” onde invariavelmente eu dizia: “Mas não disse que eu tinha cinco minutos”. E a pessoa dizia: “Ah! Eu falei errado”.
Infelizmente tem pessoas que se transformam, como em todas as modalidades. Já pensei em parar de jogar, porque alguns achavam que levo vantagem pelo fato de terem de me falar o lance, porém eu também tenho que falar a elas meu lance antes de acionar o relógio.
Para isso tomei a seguinte atitude, ameacei gritar, chamando o árbitro “Venha até aqui, ele diz que eu estou levando vantagem, por favor, coloque este tapa olho nele, para jogar de igual para igual”. Quando falei desta forma não ouvi mais este tipo de comentário, pois ficaram com medo de passar pelo ridículo.

XR - Agora nos explique com relação a este relógio adaptado, como ele funciona?

RC - A cada acionamento ele me avisa do tempo restante. Este relógio tem dois botões para escutar o tempo, o meu tempo e o tempo do adversário.

XR - Como você disse, existe então o Campeonato Brasileiro de Deficientes Visuais?

RC - Sim, sou o Campeão Brasileiro da Categoria, já representei o Brasil em competições internacionais na Espanha na Polônia e na Turquia e no ano passado no o Pan-Americano de Deficientes Visuais realizado no Brasil onde eu conquistei a medalha de bronze. É a primeira medalha internacional de xadrez de deficientes visuais do Brasil, primeira e única até o momento.

XR - Qual é aprendizado teremos com os deficientes visuais, o que ajudaria a melhorar o nosso jogo?

RC - O poder de mentalização, o cálculo, a memorização. Eu já enxerguei, já joguei quando enxergava e na verdade vantagem eu não levo e eu já joguei dos dois lados e é muito mais fácil jogar enxergando, porém eu procurei desenvolver a minha parte de jogar as partidas com cálculo, ou seja, calcular as variantes possíveis em partidas complicadas, eu gosto de partidas bem complicadas, gosto mais do que as partidas simples. Gosto do jogo complexo, “gosto de ver o circo pegando fogo”.

XR – Temos muito que aprender principalmente do ponto de vista mental, ou seja, ver mentalmente.

RC - Nós somos obrigados a desenvolver esta parte da memorização e quando se tem mais tempo para jogar, o desempenho melhora.

XR - O jogador que enxerga normalmente talvez ele se acomode. Ele está vendo e diz: “Ah! Isso aí depois eu vejo”. E então o mais cego acaba sendo ele, pois não percebe as melhores jogadas.

RC - Há situações em que a pessoa fala: “Ah! Eu não vi esta jogada que você fez”. Eu respondo: “Nossa! Nem eu”

XR - Você já deu simultânea?

RC - Já dei aula no Dante Alighieri em São Paulo, no ano passado fiz uma simultânea de xadrez para pessoas que enxergam ou não numa feira internacional que aconteceu em São Paulo.

XR - Cite alguns colegas seus deficientes visuais que também se destacam na prática do xadrez atualmente.

RC - Tem um rapaz do Rio Grande do Sul que o nome dele é Adroildo, tem o Maurício do Rio de Janeiro, o Claudinei de São Paulo, Lucena, Crisolom. Estes são os primeiros do ranking nacional que também temos uma pontuação destes torneios que participamos.

XR - Como é seu treinamento para os torneios?

RC - A minha preparação é assim: Tenho alguns livros, uma menina lê para mim, também faço algumas aulas. Já fiz aulas com alguns mestres, tive aula com o Everaldo Matsuura e sempre jogo os torneios e dessa maneira que eu me preparo.

XR - Existe uma literatura Braille voltada para o xadrez hoje?

RC - No Brasil não, é possível que na Espanha exista literatura Braille para deficiente visual. Inclusive este relógio que eu tenho eu comprei na Espanha, o tabuleiro adaptado comprei na Polônia. Assim que fui ficando em melhores condições para competir, porque anteriormente não era fácil jogar a partida inteira de memória.

XR - Quanto ao preconceito?

RC - Ainda existe, mas já estão se tornando exceção, ainda existem pessoas que sacaneiam, mas já é uma minoria, em todo lugar tem as pessoas corretas e as nem tão corretas assim. Mas o preconceito tem diminuído bastante. No princípio as pessoas não admitiam perder para uma pessoa que não enxergava. Depois eu fui ganhando e isso já melhorou muito. Hoje eu jogo e as pessoas sabem que podem ganhar ou perder.

PESQUISADO E POSTADO, PELO PROF. FÁBIO MOTTA (ÁRBITRO DE XADREZ).

REFERÊNCIA:
http://www.xadrezregional.com.br/entrevista_rch.html

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