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segunda-feira, 5 de julho de 2010

ENTREVISTA 18 - ALEXEI SHIROV.

Postado em Thu 12 Feb 2009 por muniz555 (2110 acessos)
Entrevista realizada por Vanessa R. M. para o site Zona de Ajedrez.

Poder conhecer o grande mestre Alexei Shirov longe de um tabuleiro; os motivos pelos quais foi viver na Espanha, suas viagens, sua família... uma pessoa, antes de mais nada, próxima, para quem os aficionados ocupam um lugar importante. Como podereis comprovar, o tom da entrevista é um tanto coloquial por ter sido feita por skype. Daí os erros ao transcrevê-la. Alexei Shirov teve a amabilidade de corrigí-la. Ele mesmo e enviar-nos rapidamente de volta.




01) Qual foi a razão pela qual vieste viver na Espanha?

Bom, no ano de 1993, quando conheci minha futura esposa, a mãe de Natalia, a pergunta era: onde viver? porque na ex-União soviética era um pouco difícil montar uma vida ali, sobretudo para os estrangeiros, e viver na argentina para mim também era difícil porque minha vida estava centrada na Europa; por isso decidimos viver na Espanha, porque é um país de fala hispana e eu já comecei a estudar espanhol.
A mim me interessava este país e me pareceu interessante tentar viver aqui. Depois, outra história foi no ano de 1995, quando me propuseram que me nacionalizasse espanhol. Mas esta segunda decisão não teve muito a ver com a primeira; a primeira decisão foi viver na Espanha e, depois, quando tive alguns problemas na letônia (...bom, é um pouco difícil de explicar), pensei que, já que decidi viver na Espanha e me oferecem ter o passaporte, além de ser interessante estar na equipe olímpica espanhola, pensei que havia mais prós do que contras, pelo que, no ano de 96, me nacionalizei espanhol.

02) Que diferenças encontras entre Letônia e Espanha?

Falando de cultura, a gente da Letônia é mais nórdica, pelo que é mais parecida com suecos; a gente da Espanha é mais impulsiva, de alguma maneira. Referimos-nos a outra mentalidade, para mim, a mentalidade da gente da Espanha é mais sã do que a da gente de meu país natal, mas, pelas experiências que tive com a gente, prefiro não julgar, nem aos grupos étnicos, nem às nações. Mas a vida é um pouco diferente pelo clima, os costumes... Na Letônia, a gente se adaptou à vida ocidental faz mais de 10 anos, mais tarde do que na Espanha.

03) Te sentes espanhol?

Eu me sinto um homem do mundo. Posso-me situar em qualquer lugar, sou de pais que nasceram na Rússia, eu nasci na Letônia, mas vivi em todas as partes, na Espanha também; A Espanha foi um dos países mais importantes para mim. Que vou te dizer?!... Eu creio que "me viro" mais ou menos na Espanha, ainda que me falte pronunciar bem as palavras, mas em russo falo da mesma forma que em espanhol, com erros... mas mais ou menos me mentalizei como vocês, compartilho de muitas coisas convosco, ainda que há muitas coisas que são de minha mentalidade russa, o que também é normal. Eu quero ser o mais global que possa, mas, a partir do momento em que sou russo e nacionalizado espanhol, não posso ser mais global... a vida é curta.

04) Devido a teu trabalho, tens que realizar muitas viagens. Como tua família lida com isso?

Bom, agora mesmo eu não estou casado; minha noiva vive na Rússia e as viagens que tenho que fazer não são somente devido aos torneios, são também para vê-la. Num futuro, me agradaria ter a vida mais centrada em um só lugar, mas já me acostumei a viajar; minha vida é isto: torneios, viagens a visitar meus filhos, viagens a visitar a minha noiva... Entretanto, suponho que em algum momento será mais interessante estar centrado em um só lugar, ter a tua família aí, jogar menos torneios, fazer mais trabalho em casa, como escrever livros, dar aulas pela internet... Mas agora estou no período de viajar, e não vou dizer que não me agrade, com isso não te aborreces.




05) Quando não estás trabalhando, a que dedicas teu tempo?

Agrada-me praticar esportes e me agradaria escrever mais livros sobre xadrez, ainda que agora mesmo não tenha tempo para escrever. Tenho muitos projetos em minha cabeça, mas não tenho nem tempo nem energia para tratar deles.

06) Que me contas de Shirovonline?

É uma escola que cuido muito como está funcionando, mas se dedica mais ao ensino a nível principiante e, para isso, há professores e monitores. Para mim ainda é um pouco difícil começar com o ensino no nível mais básico. De vez em quando, posso visitar um colégio e ver os meninos que se interessam pelo xadrez, e explicar-lhes qualquer coisa de nível básico, mas isso é mais por prazer.

07) Te propuseste alguma vez deixar o xadrez?

Neste momento, não quero nem pensar nisso, porque pensei nisso várias vezes ao longo de minha vida e sempre pioraram meus resultados. E, como tenho muitas ambições desportivas para 2009, não quero pensar no que vou fazer em 2010.

08) Como te preparas para um torneio?

Como todos: vejo as aberturas que jogo com o treinador, vejo as partidas de outros grandes mestres... Se tenho alguma ideia, comprovo-a com o computador e, alem disso, tenho que estar em boa forma física e mental para enfrentar-me a uma partida dura.
Não creio que tenha uma preparação especial, e se a tivesse, não diria.

09) Ao enxadrista profissional lhe incomoda ou distrai a presença de aficionados nos torneios?

Não; eu me sinto apoiado quando vejo que há gente que olha minhas partidas. Claro que, às vezes, as perguntas que fazem os aficionados não são as que queres ouvir, mas não se pode dar importância a isso. A mim me agrada quando há aficionados; jogar torneios onde só há enxadristas, analistas e jornalistas é demais. Se ganhas tua partida, os analistas te olham com cara feia e os jornalistas vão te fazer as perguntas mais tontas



10) Por outro lado, na Espanha não há muitos aficionados ao xadrez que vão ver torneios. A que acreditas que se deve isso?

No ano passado, joguei em Linares e sei que há muita gente no mundo que gostaria de assistir a este torneio, mas talvez o torneio não esteja bem enfocado como espetáculo. As partidas são muito lentas, não podes estar meia hora esperando uma jogada. Há oito anos, apresentei uma ideia na qual expunha que uma partida não poderia durar mais de duas horas, mas outros jogadores de xadrez não a apoiaram porque lhes agrada pensar bem uma jogada. Bem, a mim também me agrada, mas temos que pensar na imagem que passamos, temos que dar espetáculo. Disseram-me que se jogássemos a um minuto daríamos mais espetáculo, mas não é preciso chegar ao extremo. Creio que 40 min mais 30 segundos por jogada é um bom ritmo para desfrutar de uma partida interessante, e os aficionados podem segui-la e não se aborrecem.
Se Linares fizesse isso, muita gente estaria disposta a vir, não só da Espanha, mas de outros países. Mas o mal de hoje é que a gente não pensa, prefere tomar uma decisão em 50 segundos e, às vezes, essas decisões estão bastante mal pensadas, e isso também acontece com os diretores do xadrez atual. Às vezes, fazem torneios que são pouco interessantes para o público e eles dizem que o pessoal olha as partidas pela internet desde sua casa, o que não é a mesma coisa. Para mim, a coisa está clara: há que fazer algo mais rápido. Tu acreditas que um aficionado vai olhar uma partida de 6 horas quando uma partida de futebol não chega a duas?

11) Agora há muitos aficionados que jogam pela internet a três minutos. Isso é xadrez?

Bom, inclusive a um minuto, mas isso não é xadrez. Eu, por exemplo, que sou um bom enxadrista, não vou jogar em um ritmo em que posso vir a ter uma posição ganha e fatalmente vou perder por tempo. Numa partida rápida, não importa a posição, mas a rapidez. Isso eu não entendo.

12) Jogas xadrez pela internet?

Antes sim, agora não. Encontrei outros gostos na vida; sempre me agradou fazer coisas novas. No ano de 95, tinha pouca gente que jogava xadrez pela internet, era algo muito novo, mas hoje em dia quase todo mundo o faz, e é um pouco aborrecido. Jogar xadrez rápido na internet já não é algo novo.

13) Ensinaste teus filhos a jogar xadrez?

Sim, todos meus filhos sabem jogar, mas não sei se algum se dedicará a isso. Por exemplo, minha filha maior não tem muito interesse, agora está estudando num colégio, é um pouco tarde para isso; mas ela sabe jogar e acompanha meus torneios, e isso é importante. Meus outros filhos talvez possam vir a jogar algo mais, mas não me atrevo a dizer se vão ser bons enxadristas ou não. Serão suas mães e não eu quem vai decidir se serão enxadristas ou não. Para mim, o mais importante é que todos os meus filhos sejam boas pessoas e encontrem seu caminho na vida; essas duas coisas são as importantes. Não creio que me agradasse que jogassem xadrez profissionalmente. Não é a todos que acontece o que aconteceu comigo; eu consegui sucesso, mas nem todo mundo pode ser profissional no xadrez. Para mim foi fácil, mas não o é para todo mundo. Se vejo que meus filhos podem chegar a um bom nível... bem, mas se não... o importante é que sejam felizes na vida. O xadrez foi um caminho na vida para muita gente.

14) Qual é tua melhor qualidade como enxadrista?

Não sei... eu creio que a agressividade, e o fato de me concentrar bem nos movimentos importantes.

15) E tua melhor qualidade como pessoa?

Eu não tenho nenhuma boa qualidade como pessoa. Tento não ser mau com os outros, mas não sei nem se o consigo.


16) Sabes que se fala muito da inferioridade da mulher no xadrez em relação ao homem. A que entendes que se deve esta inferioridade?

A mentalidade de querer ganhar é muito importante e isto é mais forte nos homens. As mulheres podem se dedicar a fazer outras coisas que o homem não pode fazer, como ter filhos, dar o peito... qualquer mulher pode chegar a bom nível em qualquer disciplina; de fato, Judit Polgar comprovou que pode chegar muito alto, mas a mesma Judit Polgar, quando teve filhos, baixou um pouco seu nível e isso é mais do que lógico.
Nem todas as mulheres podem dedicar tanto tempo ao xadrez como ela dedicou. Eu não posso dizer que as mulheres sejam menos inteligentes do que os homens, mas eu creio que não deveriam dedicar-se tanto a uma coisa só, como os homens. Por isso, no xadrez, ainda que possam jogar muito bem, algo lhes falta, e creio que é mais ou menos normal, ainda que cada vez as mulheres consigam mais êxitos no xadrez masculino. Em toda minha vida, somente perdi para Judit Polgar, mas em dezembro do ano passado, de repente, perdi duas partidas semirrápidas para outras mulheres, e não sei o que me espera no futuro.

17) Manter uma amizade com um enxadrista com quem tens de se enfrentar pode ser prejudicial?

Não, por mim não há nenhum problema, e creio que para a maioria também não. Se tu jogas uma partida amistosa com teu amigo, também tentas ganhar. Por que não vai ser assim num torneio oficial? Podes ficar mal se ganhas uma partida importante e depois vês teu amigo triste, mas não dependemos de uma única partida.

18) Com que enxadrista te sentes mais cômodo jogando?

Para mim é um pouco mais incômodo jogar com enxadristas com os quais tenho problemas pessoais, mas, como tenho problemas pessoais com muito pouca gente no mundo, há poucos com os quais estes incômodos acontecem. Claro, com os mais fortes é algo mais incômodo porque é mais difícil ganhar a partida. Por exemplo, contra Ivanchuk perco quase sempre, mas estou cômodo jogando com ele.

19) Lês o que se escreve na imprensa ou na internet sobre ti?

Alguma coisa leio, mas, se são comentários tontos, deixo de lado. Antes prestava mais atenção a isso. Agora não. Já tenho 36 anos, tenho muita experiência na vida, agora fico com o que posso aprender como pessoa.

20) Foi muito aborrecedora a entrevista?

Hehe...não.

Estas são as 5 perguntas que selecionamos dos usuários de Zona de Ajedrez.

Pergunta realizada por pergoletti: Que luxo para zona, graças alexei por deixar que te perguntemos os aficionados. Minhas perguntas, porque são duas: O que pensas quando te chamam o Leonardo da Vinci do xadrez? E acreditas que já chegou ao cume de tua carreira como enxadrista?

Leontxo poderia ter uma linguagem mais ampla e não dizer sempre o mesmo, em minha opinião. É por Da Vinci, não sei...faz muito tempo que não vou a Louvres, mas me parece que o pintor trabalhava muito por encomendas. Eu gostaria de ser criativo na vida, não sei se vou conseguir um dia ou não.

O xadrez é tão dinâmico, que me parece pouco são pensar no tema do cume. Pelo momento, me sinto bem para os próximos torneios.

Pergunta realizada por GM Erpuxa: Obrigado Alexei por permitir ser entrevistado em Zona de Ajedrez. Tive a oportunidade de te ver no passado Festival do Hotel Bali em Benidorm, há alguns dias, e me surpreendeu gratamente tua amabilidade com todos os aficionados. Desta vez não cometerei o erro de falar-te em inglês, pois, como me disseste, és 100% espanhol, que fique bem claro a todos os amantes deste nobre jogo-esporte. Também quero aproveitar para dizer que tua decisão de apoiar a Ivanchuk no tema do controle antidoping me parece totalmente cavalheiresca. Minha pergunta é a seguinte: Pessoalmente, o que te satisfaz mais, uma partida posicional corretamente jogada ou outra que seja uma “casa de loucos” por suas espetaculares combinações?

Meu professor de xadrez mais importante, Vladimir Bagirov, sempre dizia que você tem que jogar o xadrez corretamente. Assim, creio que a vitória com o jogo mais preciso possível sempre dá maior satisfação. Mas, às vezes, é difícil ganhar com o jogo simples porque isso também simplifica a vida de teu adversário. E, procurando as complicações, pode-se afastar da precisão e perfeição e entrar em tremendas confusões, também ganhando no final. Creio que o aporte das boas ideias no tabuleiro, mais a precisão nos cálculos e avaliações, é o que mais se conta. Mas a forma de ganhar também depende muito de que tipo de erro cometa teu rival..

Pergunta realizada por Nogal: Estimado GM Shirov: Gostaria de saber que balanço você pode realizar de seus 20 anos de carreira enxadrística e, dentro dela, o que pensa que foi o melhor e o pior que você viveu no xadrez profissional? Muito obrigado!

É uma pergunta difícil porque estou acostumado a aceitar com acalma tanto êxitos como fracassos. Talvez o Cazorla 1998 (veja nota no final da entrevista) foi o melhor e o pior ao mesmo tempo, não creio que tenha que explicar porque...)

Pergunta realizada por Zerezov: Saudação de um admirador de seu jogo e de seu profissionalismo. Sendo presidente de um clube modesto, ao qual lhe agradaria algum dia alojar um campeonato nacional, gostaria de perguntar que requisitos teria que reunir para contar com a participação do melhor jogador nacional? Depois de contar com você na equipe olímpica, seu concurso no campeonato da Espanha (de novo) é provavelmente a notícia que espera o aficionado espanhol.

Sim, em 2002, joguei o campeonato nacional porque me ofereceram boas condições, o fixo etc. Eu fiquei contente com tudo, sobretudo por ter ganho, com 8,5 de 9. O resultado é um pouco difícil de ser batido, mas, por certo, não tenho nada contra em participar do campeonato pela segunda vez, com condições comparáveis àquelas. Ultimamente estou acostumado a jogar mais fora da Espanha, infelizmente.

Pergunta realizada por Cxe: Olá Alexei. Minha pergunta é o que se sente numa situação tão absurda como a da "Fraude de Cazorla"?

Sente-se que a vida é única e que a estou vivendo bem, apesar do que fizeram.

Obrigado, Alexei, por conceder-nos esta entrevista.

Nota 1: Todas as fotos desta entrevista foram feitas pela equipe de Zona de Ajedrez no Torneio Bali de Benidorm.


Nota 2:

Em 1998, Shirov disputou o match de Candidatos da PCA contra Vladimir Kramnik. Foram jogadas 10 partidas, Shirov venceu e empatou as demais. Com esse resultado, ganhou o direito de lutar pelo título, ostentado por Kasparov. Estava estipulado que o prêmio para o campeão seria de 2.000.000 de dólares, mas Kasparov colocou muitas dificuldades e as negociações se fizeram árduas. Diante de tantas dificuldades, o match foi cancelado, mas chega a grande surpresa... Kasparov aceita jogar pelo Campeonato da PCA, não com Shirov, mas com Kramnik, que aceita, sem muitos problemas, as condições de Kasparov. No entanto, contra todos os prognósticos, Kramnik derrota Kasparov.

Este fato foi considerado como um roubo, já que Kramnik não tinha ganho o direito de ser o aspirante. Toda esta trama passou à história como "A fraude de Cazorla". Segundo Shirov, o match em que enfrentou Kramnik foi organizado porque ninguém pensava que ele podia resultar vencedor e, por isso, Kasparov, posteriormente, colocou tantos entraves para enfrentá-lo. Inclusive colocou em dúvida a honrabilidade da vitória posterior de Kramnik sobre Kasparov, ao afirmar que algumas partidas foram jogadas de forma "rara".

Para ler a entrevista em espanhol, clique aqui.

Esta entrevista foi traduzida e publicada com a autorização dos administradores do site Zona de Ajedrez.

PESQUISADO E POSTADO, PELO PROF. FÁBIO MOTTA (ÁRBITRO DE XADREZ).
REFERÊNCIA:
http://www.torre21.com/modules/articles/article.php?id=68

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