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sexta-feira, 9 de julho de 2010

ENTREVISTA 25 - VASSILY SMYSLOV - POR VLADMIR ANZIKEEV.

SMYSLOV.

Entrevista com Vassily Smyslov - por Vladimir Anzikeev.
Eu ainda sou necessário nesse mundo...

(Traduzido do inglês por Vanessa Rodrigues e enviado por Luiz Roberto Costa Jr.)

Existem interessantíssimas entrevistas publicadas na Rússia, mas a maioria não é acessível para as pessoas que não falam a língua. Para melhorar a situação, nós planejamos traduzir algumas. Gostaríamos de iniciar com uma interessante entrevista, levemente controversa, com o sétimo campeão mundial: Vassily Smyslov!

Smyslov, 83 anos de idade, é quase cego agora, mas ainda cria no xadrez – é ativo na composição de problemas de xadrez.

A entrevista que se segue foi enviada pelo jornalista e poeta russo Vladimir Anzikeev para Shakhmarnaya Nedelia (Chess Week).

1º) Vamos falar sobre a natureza divina e diabólica do xadrez.

Como qualquer atividade humana o xadrez tem duas origens: a divina e a diabólica. O xadrez como uma arte tem uma origem divina, enquanto que como um esporte (quando conquista resultados a qualquer preço sacrificando a beleza do jogo), caminha para o diabo. Há uma notável evidência sobre isso agora. Depois de tudo, um computador é coisa nenhuma se não o diabo, porque não cria coisa alguma. É um inspetor, ou mais precisamente, um acusador. No seu livro ‘Meus Geniais Antecessores’, Garry Kasparov destacou que computadores podem examinar as partidas dos grandes jogadores de xadrez e mostrar seus erros. Agora dá a impressão que brilhantes combinações de Alekhine, Tal e outros maravilhosos jogadores foram defeituosas.
Apesar disso, o mais atraente sobre xadrez é o conflito de personalidades e suas emoções sobre o tabuleiro, com todos seus erros. Computadores não se enganam, mas isso não extingue o esforço. O talento dos grandes jogadores e suas combinações provam isso. O que nós experimentamos sobre o tabuleiro é mais importante. Nós pensamos artisticamente. Cada tentativa para se compor um genuíno jogo pelo computador nega o lado criativo (divino) do xadrez. Cada pessoa devia antes de tudo mostrar sua origem divina. Então, se o computador refuta o jogo de Lasker – isso quer dizer que Lasker não é mais um notável jogador? Nós estamos muito satisfeitos com as excelentes combinações, e falhas são detalhes menos importantes.
Como na realidade, no xadrez existem dois exércitos frente a frente. Se o resultado pode ser calculado pelo computador, qual a razão para se lutar? Na batalha de Austerlitz, Napoleão tinha 40.000 soldados. Seus inimigos excediam-no em número – quase dois por um. Além disso, eles estavam em uma posição melhor. O computador aconselharia Napoleão a render-se de uma vez. Máquinas não consideram fatores psicológicos. Na batalha de Austerlitz, os inimigos de Napoleão ou perderam seus ânimos ou foram apenas estúpidos, pois deixaram suas posições melhores por outras mais deficientes. Napoleão foi um gênio e direcionou o exército inimigo contra toda a lógica.
Antes de tudo, jogadores de xadrez são seres humanos que dependem de suas emoções. Eles não estão isentos de falhas, devem até cometê-las. O xadrez reflete a essência da natureza humana, incluindo idéias, criatividade e ilusões. O lado emocional do jogo exerce um considerável papel. Quando nós lemos: “Se não tivesse sido... teria...”, isso é impossível porque não existem ‘Ses’! Não é tão fácil tornar-se um campeão mundial. Uma vez eu indaguei quais seriam os dez melhores jogadores do século. Essa é uma pergunta errada. Cada campeão refletiu sua idade e o espírito de seu tempo. Desta maneira podemos dizer que a história promoveu tais jogadores.

2º) Atualmente, computadores trabalham para encontrar equívocos e ditarem padrões. Então levanta-se a questão: o xadrez está realmente morrendo?
(como na "morte por empate" predito por Capablanca). Os jogos não estão sendo interrompidos, computadores calculam tudo e começam a substituir os seres humanos. Uma vez eu disse que computadores deveriam ser apenas auxiliares.

3º) O que os jogadores de xadrez farão quando forem completamente substituídos por computadores? Eu discuti esse problema com Botvinnik e ele me disse: “Eles operarão as máquinas. Os melhores jogadores superarão as melhores máquinas”.

4º) Que tipo de idéia divina forma a base da vida humana?
Viver e experimentar todas as coisas é o sentido da humanidade. É impossível ganhar no xadrez sem sentimentos (como meu amigo Levenfish me disse). Às vezes nós experimentamos uma inacreditável gama de emoções. As pessoas estão expostas a enormes suplícios nervosos, cada derrota é um protótipo da morte. Depois do futebol, o xadrez é o que mais acarreta stress. Como nós sabemos da memória de Jerome Horsey Ivan, o Terrível, morreu sobre um tabuleiro de xadrez. Vladimir Bagirov e Aivar Gipslis sofreram o mesmo destino. Eu não dei tudo que eu tinha na busca por rating ou esforcei-me para alcançar resultados mais elevados, possivelmente com exceção do campeonato mundial. Essa estratégia me permitiu estender minha energia racionalmente e jogar por muitos anos. Como norma da vida, um jovem super-ativo tende a relaxar quando mais velho, e o xadrez do computador tende a rejuvenescer sempre.
Um modelo de jogador de xadrez é um sábio indiano curvado sobre o tabuleiro num majestoso silêncio, mas definitivamente, não uma pessoa que impacientemente desloca as peças sobre o tabuleiro. Cinco minutos de jogo não é ser criativo, é apenas puro esporte. O xadrez já está perdendo sua imagem de sabedoria e mudando rapidamente para apenas um esporte. Ganhar a qualquer custo é o que mais importa agora. O Resto do Mundo ganhou contra a Rússia no Match do Século e este acontecimento provou ser clara a evidência da priorização do esporte sobre a criatividade. Quando jogávamos, não éramos coagidos pelo tempo.

5º) Você foi o único a prever a vitória do resto do mundo contra Rússia...

Isso foi provavelmente uma inspiração do Alto. Às vezes isso acontece comigo. Eu não tenho intenção, mas sua pergunta surpreendentemente me alcança. Então a resposta inicia-se em mim. Intuições à parte, existem algumas outras regras que influenciam as pessoas. Em um jogo não é sempre o mais notável jogador que ganha. Outros aspectos formam a vitória: unidade de equipe, coesão e sorte. Não é suficiente saber teoria. Inspiração e criatividade também são necessárias. Esses fatores são os mais importantes. Isso mostra a alma humana mais claramente. Criatividade inclui harmonia e beleza, coisas que aproximam o individuo de sua origem divina.
Claro, se não tivesse sido por minha visão, eu teria continuado a lutar sobre o tabuleiro e não teria tido tempo para compor problemas de xadrez. Isso é como uma oração disfarçada. Se os óculos pudessem fazer a percepção dos olhos se expandir sobre o nervo, eu seria capaz de ver. Mas na minha presente condição, eu apenas posso criar problemas e aplicar técnicas que eu aprendi no decurso de muitos anos. Então, eu sou um compositor de problemas de xadrez e escrevo livros para não perder minha origem criativa (essência divina). Eu terminei meu livro ‘Secrets of Rook Endgames’, que inclui sessenta jogos e quatro problemas de xadrez. Ele será publicado em breve. Eu já publiquei um livro ‘Theory of Rook Endings’. Mas a teoria é uma coisa, e a prática é completamente outra. Nimzowich também escreveu dois livros: ‘My System’ e ‘Chess Paxis’. Claro que eu comentei meus melhores jogos nesses livros. Aqueles que me derrotaram podem igualmente incluir esses jogos em suas próprias obras.

6º) Mas, o que predomina no xadrez: o divino ou o satânico?

O xadrez tem algo do diabo. Eu não posso especificar exatamente o que é, mas sinto isto intuitivamente. Acho que os sacerdotes tinham toda razão em considerar o xadrez um jogo demoníaco. Não são apenas os cristãos que defendem esta opinião, o xadrez também foi banido no Iraque. Até hoje padres repudiam o xadrez. João Paulo II era um inveterado jogador de xadrez na sua juventude, e até compôs um problema de mate em três lances. Mas quando se tornou Papa, desistiu do xadrez.
Minha experiência mostra que o diabo luta com Deus no xadrez como na vida real, e que o campo de batalha não é o tabuleiro, mas os corações das pessoas. Percebi isso depois do meu jogo contra Hübner, que terminou empatado. Muitos foram os lances no cassino. Foi a primeira vez que eu tive a sensação que eu não poderia influenciar meu próprio destino. A roleta decidia o resultado e a bolinha dourada era usada para evitar magnetismo. Se a bola caísse em um número vermelho eu seria o ganhador. Um número preto daria a vitória para Hübner. A bola foi lançada e caiu no ‘zero’, como em Dostoevsky. Não havia ganhador. A bola foi lançada novamente e desta vez caiu no número vermelho ‘três’. Desta maneira eu ganhei a competição. Mais tarde me dei conta que Deus havia lutado com o diabo em um cassino e eles haviam empatado no primeiro tempo. Mas, no fim, Deus ganhou e condenou Hübner à derrota. Que eu saiba existiram boas razões: o comportamento de Hübner foi incorreto durante a competição.

7º) Você tem tido uma longa e produtiva vida. Que mais nós podemos perguntar: qual é o significado da vida?

Todos deveriam experimentar suas próprias provas, incluindo sucessos e infortúnios. Do meu ponto de vista, a Terra é um purgatório, nós estamos nos preparando aqui para algo mais elevado. Fui me preparando através de ambos: sucessos e quedas do destino.
A experiência mais terrível foi a perda da vista. Contudo, evidentemente, isso foi necessário por alguma razão, talvez para me fazer olhar mais para dentro de mim mesmo, em direção à minha alma. Porque a preparação para a vida em outro mundo através de nossa existência terrena é o significado da vida humana. Nós deveríamos aumentar nossa bagagem espiritual aqui para tornar possível nossa vida lá. Eu não revelo segredos que ligam o mundo real com o espiritual. É melhor não saber sobre fenômenos místicos ou ingressar de maneira errada no mundo divino. Claro, toda pessoa tem suas próprias paixões, que a fazem agir contra as regras bíblicas. Hoje em dia, as paixões humanas estão sendo intensificadas pelo poder satânico como nunca foram antes. Os indivíduos são testados todo o tempo e fracassam na maioria das vezes, eles não suportam a pressão. É muito difícil lutar contra as forças diabólicas. Quando eu quebro leis divinas, perco mais que os outros porque eu conheço as leis. Diferentemente de outros eu sei o que faço, mas nunca tentei convencer os outros ou fazê-los mudarem de idéia. Eles farão isso por si mesmos no devido tempo.
Todo indivíduo é muito complexo e freqüentemente fecha sua mente, não apenas para o semelhante, mas também para si mesmo. Isso não é tão fácil de compreender. A assistência divina é necessária, como o amor. Se uma pessoa está apaixonada, passa a se conhecer melhor, pois revela algumas peculiaridades que jamais havia imaginado. Entretanto, ela também percebe a pessoa que ama e igualmente vê nela coisas que estavam ocultas para uma percepção indiferente. Aqui a alma, que é a segunda vista, entra em ação. O sentido da vida é deixar sua alma absorver tanto do Espírito Santo quanto for possível. Deus não precisa dos despreparados. Ele quer aqueles que estão prontos. Deus concede às pessoas uma oportunidade para melhorar seus karmas. Provavelmente eu não esteja completamente pronto ainda, porque uma vez eu estava morrendo, e não morri. Alguns dias atrás eu sonhei com minha mãe, ela me disse: “Eu estou esperando por você, porque não vem?” Evidentemente, era muito cedo. Isso significa que eu ainda sou necessário para alguma coisa. Provavelmente, tenho alguma coisa para concluir neste mundo.

Sobre a tradutora: Vanessa Alves Rodrigues tem 26 anos e reside em São Sebastião do Paraíso/MG.
Além de professora, é formada em administração e faz consultoria de empresas. Atualmente exerce a profissão de bancária.
Estuda inglês na Great School e espanhol no Fisk. Na área de xadrez, apesar de estar dando os primeiros passos, já domonstra muita afinidade com a modalidade.

PESQUISADO E POSTADO, PELO PROF. FÁBIO MOTTA (ÁRBITRO DE XADREZ).
REFERÊNCIAS:
http://www.fcx.org.br/artigo4.htm
http://cxmendes.blogspot.com/2010/03/faleceu-vasily-smyslov.html

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