REFERÊNCIA:
http://www.damasciencias.com.br/entrevistas/entrevista_fco_marcelo.html
Iuri Anikiev:
Entrevista feita por Laércio Gomes da Silva e Ricardo Ferrero durante os Jogos Abertos de 2002, em Franca, SP
Nasceu a 11/6/83, na cidade de Karkov, Ucrânia.
- Você tem um treinador. Como você estuda e se prepara?
Meu treinador é Boiko, Mestre em 64 casas. Ele fez com que eu adorasse o jogo de damas mostrando-me combinações fantásticas e, nas aberturas, o mínimo de variantes. Ele diz que o próprio aluno precisa pesquisar, raciocinar por si só e, neste trabalho, escolher as melhores variantes . Ele incentiva os alunos a ver o tabuleiro globalmente. As aulas são três vezes por semana, com a duração de três horas cada aula. Além disso, passa exercícios, análises, tarefas, pesquisas para fazer como lição de casa.
- Quem paga esse treinador?
O treinador recebe salário do Ministério de Esportes para ensinar de 10 a 15 alunos que variam no decorrer do tempo.
- Quando começou a jogar?
Comecei a jogar quando tinha seis anos de idade. Eu não era o melhor da turma mas o treinador foi melhorando meu jogo e eu, por mim mesmo, dedicando-me, estudando e participando de eventos e torneios com afinco e intensidade, fui melhorando.
Fui campeão no Campeonato Mundial de Cadetes, quando tinha 16 anos. Eu era o quarto colocado no Campeonato de Júniors. Coloquei-me em terceiro no Campeonato da Ucrânia. Consegui o vice em Luganski. Em 2002 fui campeão no Campeonato Nacional da Ucrânia, ou seja, fui primeiro Campeão do Mundo e depois campeão Ucraniano.
- Quais as qualidades que admira nos mestres?
Admiro especialmente Tchizov devido à sua técnica requintada. A cada lance obtém vantagem sólida sobre o jogo adversário. Aprecio também a criatividade de Tzirik e Blinder.
- Qual a fase do jogo a que você mais se dedica ?
Hoje é o meio jogo, depois que estudei intensamente aberturas e finais.Estudo todas as variantes e subvariantes de dada posição em busca da continuação mais sólida, que pode levar-me à vitória.
- Quanto a Chvartzman?
Ele é muito bom em 100 casas mas não em 64. mesmo assim, no último campeonato de 100 casas, Gregoriev ganhou dele e o colocou em terceiro lugar.
- Você joga 64 e 100 casas?
Eu comecei no tabuleiro de 64 e hoje jogo também no de 100 casas.
- Quando pretende vencer o Mundial de 64 casas?
Pretendo estudar as partidas dos mundiais de 64 para ficar mais forte. Quero pesquisar as diferenças entre as regras russas e brasileiras para não cair em armadilhas. Vou estudar o jogo dos futuros oponentes.
- Qual a importância dos finais?
Fiz um curso especial, uma preparação profunda, muito importante para aprender a jogar os finais sem cometer erros, tanto de 64 como de 100.
- O que você está aprendendo com o Marcelo?
Estou treinando com ele para aprender uma porção de variantes brasileiras. Ele tem boa memória e conhece muitas partidas dos campeonatos jogados.
- Existe alguma faculdade de jogo de damas em seu país?
Em Kiev existe uma escola com um departamento de Jogo de Damas e Xadrez.
- O que significa o Jogo de Damas para você? É a minha vida.
- Quais suas próximas metas como damista?
Ser Campeão Mundial Adulto. Depois ser treinador profissional e viver disso mas não como jogador.
- Que os conselhos daria aos jovens damistas brasileiros?
Estudar centenas de combinações existentes dentro das partidas jogadas nos principais campeonatos do país e do mundo. Procurar estímulo para estudar damas fora do currículo escolar normal.
- Recebeu apoio familiar para interessar-se pelo Jogo de Damas?
No começo gostava do Xadrez devido a meu pai ser enxadrista. Eu queria jogar Xadrez para agradá-lo. Mas o treinador Boiko é muito bom e desenvolveu em mim o gosto, o amor, o interesse, a paixão pelo Jogo de Damas.
- Sua maior alegria no Jogo de Damas?
Não perder com freqüência.
- Sua maior tristeza?
No mês passado, na Crimeia, quando joguei o Campeonato Europeu, precisava apenas empatar para ser campeão mas perdi para Beliskoi, da Rússia. Fazia dois anos que eu não perdia e empatar com ele parecia ser muito fácil. Acreditei que poderia jogar com a mão esquerda, que não seria muito difícil ganhar, mas perdi.
- Que lição tirou desse campeonato?
Que o Jogo de Damas exige extrema concentração, paciência, calma e muita seriedade diante de qualquer adversário. É preciso raciocinar muito em qualquer variante para não errar uma única jogada. Assim se fazem os campeões.
- O treinador lhe ensinou como se concentrar?
Recomendou leituras e deu algumas dicas de comportamento, mas é você que deve ter profundo auto conhecimento e aprender a concentrar-se, abstraindo-se de tudo para pensar melhor no tabuleiro. Mas os árbitros e os organizadores têm um papel preponderante para que se consiga uma maior concentração quando zelam para que o silêncio reine no ambiente de jogo de forma absoluta .
- Na Ucrânia joga-se apostado?
Joga-se mas sem haver um lugar especial para isso.
- Porque as pessoas de todas as idades e condições devem jogar damas?
Porque o Jogo de Damas é muito bom para o raciocínio lógico das pessoas. É importante para as pessoas, da criança ao idoso, pensar ordenadamente. Infelizmente, nem todas as pessoas se dedicam ao Jogo de Damas o que seria importante tanto para a vida profissional e familiar de cada um.
- O que pretende estudar na faculdade?
Engenharia de Computação e viver do Jogo de Damas, o que infelizmente é muito difícil porque não existe muito profissionalismo. Creio que num futuro bem próximo os mestres poderão viver de Jogo de Damas sem pensar noutra profissão. Melhoraram os prêmios nos Mundiais e outros campeonatos e maior número de países estão participando.
- O que o Jogo de Damas pode aprender com o Xadrez?
Precisamos alcançar o Xadrez, que fala a mesma língua no mundo todo, no que se refere á unificação das regras em 64 casas. No tabuleiro de 100 casas essa unificação de regras já foi feita.
Marcelo concentrando-se para iniciar sua partida
nos Jogos Abertos de 2002 |
Iuri (à esquerda) dando entrevista para Ricardo Ferrero (ao centro) e Laércio G. da Silva (à direita)
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Vitor, Humberto, Marcelo e Iuri
(os dois últimos à direita) formaram a equipe juvenil vencedora dos Jogos Abertos de 2002 |
Iuri em ação nos Jogos Abertos de 2002.
Ao fundo, Ricardo Ferrero observa |
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